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Em nome da Rosa: Criando sua Personagem Heroica

Dois persongens Vasta em pé, tendo no fundo uma grande cidade com abóbada de bronze

O sistema AGE é bem difundido pela cena do RPG, mesmo assim, com cada jogo sendo lançado, novas jogadoras se interessam nele. Em Blue Rose não é diferente e por isso vamos entender melhor o passo a passo de como montar sua Personagem Heroica. Esse é um resumo do passo a passo encontrado no capitulo de criação de personagens do livro, assim, para mais detalhes, você pode comprá-lo no site da Jambô.

Quem é você?

Um dos primeiros tópicos para qualquer ficha de RPG é o conceito de seu personagem, os motivos dele querer se aventurar e ser quem é. Em Blue Rose não é diferente, e incentiva essa criação. Seu personagem é um nobre? pertence a Aldis ou de algum reino diferente? Ele pertence a um povo específico? O que sabe fazer? O que não sabe?

Aqui temos Berenice Widowghast, um Vata — uma raça que descende dos Vatazin, e são tocadas pelo arcano — que nasceu no reino Aldis, e aspira ascender à nobreza através do Teste do Cetro. Ele pertence aos Vagantes, uma nação nômade que também povoa o Reino da Rosa Azul, e sua maior especialidade é o arcanismo e a palavra.

Como se apresenta?

Agora que temos um breve resumo de quem é nosso personagem, vamos traduzir isso em números para a ficha. Blue Rose trabalha com nove habilidades, semelhantes ao sistema de Atributos dos D20, que em geral, são autoexplicativos em sua função. Para decidir seu valor, rolamos 3d6 ou por compra de pontos. Decidimos usar rolagem, e por isso, ficamos com: 7/6/9/13/10/12/6/12/9. Esses resultados, na verdade, significam os Valores Iniciais encontrados na tabela Determinando Habilidades.

Assim, em vez dos valores cheios, temos 0/0/1/2/1/2/0/2/1. E por sermos Vata, precisamos decidir algumas coisas antes de aplicar as habilidades. Se seremos Vata’sha, os “sombrios” ou Vata’an, os “verdadeiros”. Berenice será Vata’sha. Além disso, podemos escolher dois benefícios, sendo nesse caso +1 em Comunicação e Foco Inteligência (Conhecimento Cultural) — o que seria próximo ao que conhecemos como Perícia em outros sistemas..

Nossa distribuição final ficará:

Combate: 0 Comunicação: 2 Constituição: 1 Destreza: 0 Força: 0 Inteligencia: 2 Percepção: 2 Precisão: Vontade: 1

Aonde você pertence?

Aqui voltaremos ao primeiro tópico. Vagantes podem ser um povo nômade, mas também podem pertencer a determinados clãs existentes em Aldis, mas este não é o caso de Berenice, por isso, seu Antecedente, aquilo que representa sua origem, será Vagante e não Jarzoni, Aldino ou Rezeano. Assim recebemos um Foco da lista e os idiomas. Aqui escolhemos Foco Comunicação (Barganha) e recebemos Faento, o idioma Vagante, e Aldino, o idioma do reino.

Também não podemos esquecer de anotar nossas capacidades como Vata, essas são um tanto extensas, e modificam outros pontos de seu personagem, portanto vale uma passagem rápida aqui:

  • Para quesitos de recuperação de vida, somos considerados 2 pontos acima da nossa constituição.
  • Nosso deslocamento é 10+destreza, nesse caso, apenas 10 quadrado
  • Ganhamos grau novato em 1 talento arcano da lista, escolhido foi Mediativo

Como Vata’sha também recebemos Visão no escuro e luz brilhante nos cega por 1 rodada quando somos expostos a primeira vez a ela.

O que sabe fazer?

Berenice é, de certo, um diplomata prodigioso, mas ele não possui apenas uma língua de prata, ele sabe se cuidar nas situações mais perigosas, sem se expor muito, e ainda sair por cima. Ainda sim, é um personagem de primeiro nível, ainda não possui muitas habilidades, e vem aprendendo a magia aos poucos.

Nossa classe será Adepto, e como informações básicas da classe, conseguimos usar Bastões como arma, 20+constituição+1d6 pontos de vida, dando um total de 24 pontos. E recebemos também alguns talentos:

  • Um Talento arcano da lista: Treinamento Arcano.
  • Canalização Arcana: Podemos usar Façanhas arcanas por 1 ponto em vez de 2, e ao usar a façanha Canalização Poderosa, ela é considerada 1PF a mais do gasto.
  • Um Talento Inicial da lista: Conhecimento.

Lendo as letras miúdas

A princípio, nossa ficha está pronta, mas é importante notar alguns fatores. O primeiro deles é que nosso personagem tem dois Talentos Arcanos de grau Novato, um por Raça e um pela classe Adepto. Mediativo e Treinamento Arcano nos dão acesso a magias diferentes, e em ambos, de suporte e utilidade, não um ataque direto ao oponente. Mais sobre elas estarão descritas no capítulo de talentos e de magias.

Outro ponto importante é: Berenice é um personagem pensando totalmente para encontros sociais, não tem proficiências em combate direto, e evita isso ao máximo, sendo um diplomata. Sua origem Vagante permitiu conhecer muito do reino, possui assim contatos em vários pontos, em clãs e famílias diferentes.

Por fim, decida sexualidade, aparência, gênero e pronomes de sua personagem. Pode até não parecer importante, mas esses são assuntos abordados em Blue Rose, e possuem até uma seção mostrando o vocabulário próprio para o cenário. Aqui, não desenvolvi muito, mas deixei claro que Berenice, mesmo com o nome “feminino”, utiliza pronomes masculinos.

Da Stream para Ordem Paranormal RPG: Infectados de Tipora

Da Stream para Ordem Paranormal RPG: Infectados de Tipora

Se o título desse artigo chamou a sua atenção, você, como eu, deve gostar da criação do “Cabeludo“. Contudo, está na hora de desmascarar seus segredos (ou ao menos tentar). Da Stream para Ordem Paranormal RPG é a minha nova coluna aqui na Jambô, onde vou trazer para as mecânicas do livro, criaturas, eventos e artefatos que vimos apenas nas temporadas transmitidas. Nesta primeira produção, vamos abordar os Infectados de Tipora.

Em resumo, animais e pessoas contaminadas por uma grotesca mistura dos Elementos Sangue e Morte, a partir da aterrorizante presença do Amigo Imaginário. Não sabe do que eu estou falando? Então clique aqui e conheça: Ordem Paranormal — O Segredo na Ilha.

Mas, antes de continuarmos, se você ainda não assistiu, fica aqui o ALERTA DE SPOILER!

A Infecção

O Amigo Imaginário é uma criatura paranormal, sendo a maior ameaça da Ilha de Tipora. Ele se originou do Medo que Barnabé Aleno espalhou ao redor da ilha durante os eventos do RPG. Entretanto, não estamos aqui para falar do “chefão” e sim das consequências de sua lenta aproximação.

Grande parte do público acredita, pelo que assistimos, que o Amigo Imaginário e a infecção que ele espalha são frutos das Entidades de Morte e Sangue. Essa infecção se espalha através de “raízes” ou “artérias” gosmentas e grotescas, levando formas de vida diversas à morte, para em seguida, erguê-las como cadáveres grotescos. De forma geral, os corpos de Infectados de Tipora ficam rapidamente decompostos, com ossos e órgãos a mostra, enquanto ganham algumas protuberâncias na forma de garras, presas ou ossadas adicionais. Durante as transmissões, a gosma grotesca passa a ser referida como: A Tinta.

Mas como se infectar? Quando tempo leva? Como identificar a infecção? Vamos às regras!

Doença: A Tinta

A Tinta segue as mesmas regras descritas em Doenças (Ordem Paranormal RPG, página 291) e pode ser tratada com as mesmas regras descritas na perícia Medicina (Ordem Paranormal RPG, página 46).

A forma de contaminação de um Infectado de Tipora se dá através da ingestão (comida ou água contaminada, por exemplo) ou de ferimentos causados por criaturas contaminadas, podendo ser evitada com um teste Fortitude DT 15.

  • Estágio I. A partir do primeiro contato, o personagem fica esmorecido (intensas dores de cabeça e veias saltadas ao redor dos olhos).
  • Estágio II. O personagem fica debilitado (tremedeira, suor frio, febre e manchas amarronzadas na pele).
  • Estágio III ou superior. O personagem começa a necrosar, tendo seus pontos de vida reduzidos à 0 (zero), ficando inconscientemorrendo. Qualquer cura, mundana ou sobrenatural, permite que o personagem fique vivo e consciente por 1 rodada, e então, os pontos de vida voltam para 0 assim como as condições retornam até que o personagem morra.

A Tinta também pode contaminar corpos que já estejam mortos e estes não tem direito a nenhum teste para resistir. Qualquer corpo morto que esteja contaminado irá despertar, após 1d4 horas, como um cadáver ambulante intitulado Infectados de Tipora, a menos que seja despedaçado ou cremado antes.

Criando um Infectado

Nas transmissões, vemos Infectados de Tipora na forma de javalis, cães, cobras e até pessoas infectadas pela Tinta. Para fazer o mesmo com todas as criaturas em suas missões, basta reerguê-la dos mortos com as mesmas estatísticas que tinha em vida e aplicar as seguintes modificações:

  • O tipo muda para Criatura de Sangue e Morte;
  • Adquire Presença Perturbadora (DT 15, 2d6 mental, NEX 25% + é imune);
  • Adquire Percepção às Cegas e perde todos os outros sentidos;
  • Adquire Resistências: Balístico, impacto e perfuração 5, Sangue e Morte 10;
  • Adquire Vulnerabilidade: Energia;
  • Perde todas as demais Resistências, Imunidades ou Vulnerabilidades que tinha;
  • Todos os seus ataque, além do dano, passam a contaminar com a Tinta;
  • Finalmente, por ser um morto-vivo, não come, não bebe, não respira, não dorme, em resumo, não pode ser beneficiado ou prejudicado por efeitos que afetam apenas os vivos.

Variações de Infecção

Finalmente, criaturas diferentes reagem de forma diferente a Tinta, podendo adquirir protuberâncias ou apêndices adicionais. Role 1d8 nas opções abaixo:

1) Sem Protuberâncias. Use apenas as estatísticas básicas.

2) Ossadas longas e afiadas. O ataque corpo a corpo causa um dado extra de dano e o tipo de dano muda para corte.

3) Manto de lodo cobre seu corpo, fazendo-o parecer um borrão enquanto se move. Sempre que se mover na rodada, recebe camuflagem (Ordem Paranormal RPG, página 89). Em um ambiente escuro, recebe camuflagem total.

4) Mandíbula com presas ainda mais protuberantes. O ataque corpo a corpo causa um dado extra de dano e o tipo de dano muda para perfuração.

5) Instintos sanguinários deixam-no sorrateiro e ardiloso. Pode fazer testes de Furtividade como se fosse treinado com um bônus de +20.

6) Quase todos os ossos e carne podem ser destruídos e o infectado não para. Recebe um bônus de +5 em todas as suas Resistências.

7) Memórias de sua antiga vida são repetidas através de frases ou sons animalescos. Mesmo sendo um animal, o paranormal em seu corpo consegue transmitir suas emoções sofridas. No início de seu turno, qualquer personagem que possa ouvi-lo, deve fazer um teste de Vontade (DT 15). Se falhar, perde 1 ponto de Sanidade. Qualquer personagem emocionalmente conectado com o infectado perde 1d6 se falhar ou metade se passar.

8) Dupla deformação. Role 2d8, rolando novamente quaisquer resultados 1, 8 ou que já tenham sido rolados.

Ganchos

Antes das despedidas, seguem três sugestões de Casos Paranormais que podem inspirar você:

Água Contaminada

Qualquer massa grotesca de Tinta que tenha caído nas águas que circundam a Ilha de Tipora podem se diluir e boiar para outras regiões e lençóis freáticos. A partir disso, é um “pulo” para contaminar outros leitos de rios, áreas de acampamento, fazendas próximas de lagos e até mesmo estações de tratamento de água. Uma vez espalhada por uma área povoada por animais ou humanos, ninguém estará seguro.

Cervejaria Maldita

Acidentalmente (ou não), o setor laboratorial de uma cervejaria entrou em contato com material contaminado com Tinta de cargas que vão e vem de Tipora. Inesperadamente, os resultados do material contaminado apresentaram uma cerveja agradável ao consumir. Sem revelar a origem e acometidos pela ganância, os donos da cervejaria começam a renovar a linha de produção, confiando em seu público alcoólico, independente de alguns consumidores aparecerem com sintomas estranhos.

O Pintor

Um excêntrico artista que busca novas cores em suas viagens pelos ermos se depara com os restos de um animal morto em uma praia. Apesar da visão nojenta, o tom do sangue naquele animal é algo nunca visto antes pelo pintor. Sem pensar duas vezes, o artista recolhe uma amostra e, após diluí-la, começa a usá-la em suas pinturas. Já faz um mês que nenhum outro morador da cidade vê o curioso artista. Após investigações policiais, foi concluído que o pintor e todas as suas telas, desapareceram e apenas rascunhos e notas sem sentido ficaram para trás.

Considerações e Despedidas

E então, você curtiu a proposta desta coluna? Pretende por em prática em suas missões ou campanhas? Conta pra gente aqui embaixo quais os desdobramentos que os agentes fizeram e quais versões mais mirabolantes vocês criaram de Infectados de Tipora!

Dito isso, você pode ler mais ganchos de missões de Ordem Paranormal escritas por Diogo Almeida clicando aqui!

Até a próxima!

A Jornada da Mestra – A primeira morte a gente nunca esquece

grupo de aventureiros, com arqueira de cabelo roxo e monge segurando katana à frente. Cavaleiro armadurado ao fundo e espadachim pirata fumando cachimbo à direita

RPG é mestre contra os jogadores”, a frase ícone que ecoa pelos anais do tempo. Após um ano de muitos planos maquiavélicos e risadas malignas eu finalmente ganhei e agora estou a par dos segredos obscuros sobre mestrar RPG. 

Nossa, mas ser mestre é tipo culto?

Quase, mas vamos deixar isso de lado.

Há algumas sessões atrás na minha campanha de Tormenta20 eu vivi a experiência que foi narrar a morte de um personagem de jogador durante um combate. Em outras palavras: matei o safado. Isso porque no início da batalha eu achei que o TPK estava chegando a cavalo porque o senpai Roll20 pareceu finalmente ter me notado. Infelizmente o TPK não veio, mas um eu levei comigo.

Entendi, mas aonde você quer chegar com isso?

Era uma vez um personagem inconsequente…

Vou confessar um pecado aos meus colegas de culto: eu estava com medo.

Brincadeiras à parte, nenhum mestre está bolando um plano super complexo para te matar – assim eu espero, não seja um canalha. A fatídica frase do início se refere a sermos justos com os jogadores, não é algo literal. Estamos sim despejando dificuldades e muitas criaturas da tormenta, mas com a melhor das intenções.

Korean Heart GIFs | Tenor

O próprio Leonel explica melhor a frase na Dragão Brasil 168. Ser justo é responder às ações dos jogadores da melhor maneira possível, sem protecionismo quanto a decisões esquisitas. O jogador gritou com o NPC estressado? Lide com isso. Meteu o dedo naquele artefato com aura de tudo de ruim? Oh, well.

Entretanto, o combate me deixou ansiosa desde o início, mesmo eu já tendo passado por um momento de quase TPK, sobretudo porque eu tinha certeza que um certo personagem morreria.

O encontro foi planejado em duas batalhas: a primeira com dois mini chefes e vários capangas, a segunda com um mini chefe, mais capangas e a “chefona” – claro, os jogadores não sabiam disso. O jogador, com seu bardo tritão de 27 pontos de vida, decidiu ir sozinho até os prisioneiros após a primeira batalha para tentar encontrar pistas sobre o seu passado. Lá, por acaso, era o local planejado para a “chefona” aparecer e dar início a segunda batalha.

Painful Smile GIFs | Tenor

Depois disso as coisas só foram ladeira abaixo. O personagem conseguiu sair pela tangente, mas logo depois ele resolveu ficar corpo-a-corpo com a inimiga, uma purista, e tentar um jutsu do discurso debochado.

O pobre coitado tomou duas espadadas e morreu. E essa não foi a primeira vez que o jogador se meteu na linha de frente. Ele teve sorte nas outras vezes, mas nessa não houve escapatória. 

Era uma vez uma mestra iniciada…

Fiquei nervosa de início, pensando em todo o planejamento para uma evolução futura e se o jogador me odiaria por ter matado o personagem que ele tanto gostava. Mas tudo isso passou quando eu percebi que nós dois éramos amigos adultos nos divertindo jogando um jogo. Não havia motivo algum para temer nada, o jogador apenas tomou uma decisão ruim com uma NPC que não tinha paciência para quem estava começando — que os deuses a tenham — e eu precisava ser justa.

Me senti mal? Sim, afinal, eu sei o que é perder um personagem querido, sobretudo porque esse era o primeiro do jogador e eu não queria deixá-lo triste. Mas acontece. 

Depois eu até expliquei melhor as nuances que poderiam ter passado: a NPC era muito soberba, egocêntrica e orgulhosa, não deixaria passar um insulto vindo de um “inferior”. Também apontei para coisas bem óbvias, como o fato dela fazer parte de um grupo purista dos mais radicais. Coisa que o grupo já havia visto antes.

No final ninguém me odiou, fiz metade da mesa chorar com as cenas dramáticas e hoje rimos bastante dessa situação. 

É sobre isso e tá tudo bem.

Essa foi minha primeira experiência com a morte de um personagem de jogador e espero ter mais algumas, afinal, RPG é mestre contra jogadores!

Bebam água, comam frutas, matem seus jogadores e até a próxima!

Enfrentando os Fins dos Tempos

compilado fim dos tempos

Não é segredo algum que eu dou as caras em lives de RPG com alguma regularidade. Seja no canal da Jambô Editora onde já fui avistado jogando Mutantes & Malfeitores em Vanguarda e Tormenta20 na Arena de Valkaria, seja em outros canais nos mais variados sistemas, vocês sempre podem me ver tentando variar bastante o tipo de personagem eu faço. Claro, como boa parte dos jogadores de RPG que conheço, eu tenho minhas preferências por estilos de jogos e tipos de personagem, mas estou constantemente me desafiando a interpretar tipos bem diferentes dos meus favoritos.

Com o lançamento do livro de Fim dos Tempos, no fim do ano passado, surgiram diversos grupos jogando essa campanha. E com esses grupos, vieram muitas e muitas streams diferentes da mesma campanha (eu sinto que deveríamos publicar uma lista dessas transmissões aqui no blog, vou falar com o chefe sobre isso). Todas elas contam, em geral, uma história ao redor dos mesmos acontecimentos, e ainda assim são completamente diferentes entre si. Personagens diferentes têm vidas diferentes, como vocês sabem.

Pois bem, fui privilegiado o suficiente para receber dois convites diferentes que combinavam com meus horários (o calendário é, sabidamente, o maior inimigo do RPGista moderno). Em vez de escolher um ou outro, optei por ser honesto com os dois grupos e lhes disse: “já recebi outro convite, mas estou disposto a jogar duas mesas diferentes, isso seria um problema para vocês?”. Com todos de acordo, eu me comprometi: vou jogar as duas campanhas de maneiras completamente diferentes. E ambas seriam em stream, para me complicar mais ainda.

Lidando com duas mesas da mesma campanha

A maioria dos mestres que conheço aborda aventuras prontas de forma a evitar spoilers e metagames que poderiam ser prejudiciais. Essa abordagem varia desde a só aceitar jogadores que nunca leram ou jogaram a aventura antes, até selecionar com cuidado extra jogadores que possuem histórico de não deixar essa influência atrapalhar as decisões de seus personagens. No meu caso não havia como correr disso: eu sou sabidamente um espectador assíduo da stream de Fim dos Tempos. Eu publiquei músicas, memes e fanarts sobre ela, sendo que algumas dessas publicações se tornaram referências dentro do lore da aventura original (“Se você quer ficar rico, mas não sabe fazer nada, pode confiar na nossa fada”, “Reston & Dubitatius: um escritório que existe”, a última canção da Kiki no Forte Cabeça de Martelo etc.). Não havia como esperar que eu não soubesse o que acontece na história, quem me convidou já sabia disso, eu tenho até nome nos créditos do programa.

Era, portanto, razoável pensar que jogar a mesma aventura de maneira paralela não seria um problema para mim, principalmente com meu compromisso de viver dois Fins dos Tempos tão diferentes. O que me leva ao próximo ponto: diferentes como?

A diferença entre as mesas

A primeira diferença é a mais óbvia de todas: se eu jogo com grupos distintos, a experiência será distinta. Faz sentido, não há outros jogadores em comum entre as duas campanhas além de mim. Mais ainda, enquanto uma campanha é composta de pessoas já bastante conhecidas no meio do RPG brasileiro e até alguns fãs já célebres de Tormenta, a outra tem uma presença grande de pessoas que nunca tinham ouvido falar de Tormenta ou Arton antes. E isso não é tudo.

A maior de todas as diferenças é a língua e o contexto cultural dos participantes. De um lado eu jogo em uma mesa completamente formada por brasileiros, onde todos falam e jogam em português, com os termos e jargões que se usam oficialmente em Tormenta. Do outro lado, eu estou na mesma campanha com um grupo misto de brasileiros e americanos, onde o inglês é o idioma usado para comunicação e jogo. Não foi exagero quando eu disse que algumas pessoas nunca tinham ouvido falar em Tormenta antes. Estas pessoas estão experimentando Arton pela primeira vez através de seus personagens, e é um prazer fazer parte disso. Para diferenciar as duas, eu uso os títulos das streams: “Fim dos Tempos” e “End of Times”.

Isso já seria o palco ideal para viver duas aventuras bem separadas, ainda que centradas nos mesmos acontecimentos. Mestres e jogadores diferentes já fariam tudo acontecer de maneira única se eu estivesse usando o mesmo personagem nas duas mesas, mas eu não estou, o que me leva à próxima parte…

tempestade vermelha ao fundo, tendo demônios da tormenta de ambos os lados. No centro o título End of Times

A diferença entre os meus personagens

Para mim tudo o que já foi citado não é suficiente. Eu realmente quero viver duas aventuras distintas. Os personagens que fiz são tão parte disso quanto todo o resto, afinal.
Em “Fim dos Tempos”, eu interpreto Don Batráquio, um homem-sapo nobre que detesta resolver as coisas com as próprias mãos, preferindo sempre negociar um resultado favorável (e lucrativo) a seu favor. Uma mesa cuja maior parte dos integrantes e do público é bem familiarizada com o sistema é excelente para esse tipo de abordagem. É um personagem cuja raça foi feita como homebrew e alguns dos poderes foram levemente alterados para fins de interpretação. Os exemplos mais evidentes são os kobolds: Don Batráquio é um devoto de Kallyadranoch e realmente pode usar Servos do Dragão, mas foi estabelecido que, para fins de narrativa, os kobolds que ele convoca nada mais são que funcionários de suas empresas, que o acompanham escondidos, se fazendo revelar quando necessário. Com isso, algumas coisas que são feitas por Don Batráquio em termos de regras são, na verdade, realizadas pelos kobolds no roleplay (por exemplo, Don Batráquio explicitamente não carrega a maior parte do próprio equipamento, embora ela sempre tenha acesso aos seus itens, e ainda cumpra as regras de carga). O próprio tributo pago à Kallyadranoch como requisito para subir de nível se transformou no salário pago aos “associados” do aristocrata anfíbio, que supostamente recebem até vale-refeição e plano de saúde. Don Batráquio é um personagem único, que exige jogador e grupo com experiência no cenário para lidar com suas particularidades.

Organograma da Don Batráquio Ltda.
(O fato de o jogador ter tempo livre para fazer essas maluquices também ajuda.)

Em “End of Times”, por outro lado, eu dou vida a Crimson Void (Vazio Carmesim), um lefou bárbaro das Uivantes, devoto de Arsenal. No extremo oposto do nobre tagarela e inteligente de “Fim dos Tempos”, Crimson Void é um personagem forte e ignorante, que se considera um soldado no grande exército do Deus da Guerra. Ele foi feito justamente para tentar ser uma forma de facilitar que os outros jogadores se familiarizem com o mundo e o sistema. Crimson Void admite que não se preocupa em “saber de coisas” além do que considera necessário para sua sobrevivência e habilidade de combate, deixando o espaço de conhecimento sobre o cenário aberto para que o narrador e outros jogadores expliquem Arton para ele, o que na verdade é uma forma de contar um pouco do mundo para o público anglófono. Originalmente ele seria apenas ignorante às informações que recebe, mas discreto sobre isso. Porém, como dizemos no fandom de Tormenta, “não existe estratégia que sobreviva à Nimb” e os dados discordaram das minhas decisões. Crimson Void caiu na luta contra o chefe da primeira aventura, ficando bastante tempo em coma. Ele despertou mais forte, poderoso e decidido a nunca mais cair em combate com vida (ou seja, eu vou pegar Espírito Inquebrável em algum momento), mas com algumas peculiaridades novas na forma como ele vê e interage com o mundo, se tornando um personagem cada vez mais absurdo e sem sentido na forma como se comporta, além de demonstrar certos delírios de grandeza. Fora da live e do personagem, expliquei ao grupo que Crimson Void está exibindo sintomas de um trauma cerebral ocorrido em combate (mas não expliquei que também é aumento da influência da Tormenta em seu organismo… um dia eles vão descobrir isso). Com tudo isso e uma build excelente para causar dano, Crimson Void é minha opção de personagem para ajudar o restante do grupo a brilhar, mostrando o potencial infinito do sistema T20 para o mundo, enquanto ele ajuda a segurar a barra nos combates.

E assim tem sido minha rotina quinzenal de RPG em live. As duas campanhas estão basicamente no mesmo momento, então tem sido incrivelmente interessante lidar com os mesmos acontecimentos de formas diferentes em tão pouco tempo. Especialmente porque meus personagens cumprem papéis diferentes em seus grupos. Don Batráquio é um líder, ainda que bastante democrático, e todas as decisões do grupo passam por ele, enquanto Crimson Void precisa se esforçar para sequer entender um plano antes de avançar, em fúria, contra os inimigos. É uma experiência muito gratificante, ainda que cansativa.

Se todas essas minhas descrições te deixaram interessado, você pode acompanhar as aventuras de Don Batráquio ao vivo em twitch.tv/vrikolaka, ou ver os episódios gravados em youtube.com/@vrikolaka. Além disso, você pode acompanhar o Diário de Don Batráquio, o blog que criei para registrar as aventuras do personagem em primeira pessoa, em donbatraquio.wordpress.com (levemente atrasado, eu sei, mas já vou resolver isso).

Crimson Void pode ser visto ao vivo em twitch.tv/onlyonestv, ou em episódios gravados em youtube.com/@onlyonestv, o primeiro canal de streams de Tormeta20 em inglês. Isso torna essa transmissão excelente para quem quiser treinar a compreensão no idioma ou apresentar Tormenta para amigos estrangeiros.

Gostou do artigo? Tem alguma pergunta sobre essas experiências ou personagens? Deixe seu comentário abaixo, talvez eu faça uma continuação deste artigo no futuro, quando as campanhas tiverem progredido um pouco mais.

Prototype: Entre em seu Robô!

Isso mesmo! Não vamos falar nada, deixaremos essa imagem falar por si!

 

A Prototype surgiu como uma brincadeira com uma famosa revista japonesa de animação durante a divulgação de Belonave Supernova. Quisemos uma oportunidade de fazê-la voltar e calhou de ser agora, nesta data. Convenhamos, se fosse o caso de trazê-la, mexeríamos no projeto gráfico!

Se fosse o caso. Aqui foi só um primeiro de Abril. 😉

Mas não se preocupem, os quadrinhos de Brigada voltarão em algum momento. Deixem apenas o novo RPG chegar primeiro, okay?

Divirtam-se.

Arte de capa por Rodrigo Salles.
Texto por Alexandre Lancaster.

Brigada Ligeira Estelar Baú Referencial: Last Hope

O Biopunk para Brigada Ligeira Estelar

Em Brigada Ligeira Estelar, a seção Baú Referencial não traz adaptações de cenário: ele busca ideias e conceitos em outros animes. Assim, desta vez, vamos falar de Last Hope (no original, Juushinki Pandora ou Zhòng Shénjī Pānduōlā). Ela é uma co-produção Nipo-Chinesa de 26 episódios criada pelo veterano Shōji Kawamori (Macross, Macross Plus, Escaflowne) de 2018 e, atualmente, exibida no Brasil pela Netflix. Infelizmente, ela não é tão falada quanto merece.

Na verdade, a decisão de se exibir uma série de 26 episódios em duas partes de 13 tem sua culpa. Por isso, tivemos avaliações meio mornas dos resenhistas ocidentais: a primeira metade investe pesadamente em worldbuilding e desenvolvimento de personagens para, consequentemente, nos catapultar para a segunda. Aliás, é bom prestar bastante atenção: aqui, temos biotecnologia, trans-humanismo… também física espaço-temporal, superposição quântica, evolucionismo — e logo, muita technobabble.

O fim do mundo da última semana.

Bio-pós-Apocalipse

Mas e quanto à história? Para começar, tudo começou em 2031 — a data da Crise de Xianglong, quando um reator quântico explodiu e, assim, deflagrou um processo evolucionário ultra-rápido por todo o mundo. Logo, animais e plantas foram transmutados em seres biomecânicos conhecidos como Brai (Biological Revolutionary of Accelerated Intellect). Por isso, estes devastaram a civilização. Mais tarde, sete anos depois, a cidade central desses eventos tornou-se um dos últimos bastiões da humanidade: Neo Xianglong.

Aqui, entra o personagem principal: o cientista Leon Lau. De fato, ele é um dos responsáveis pelo reator quântico e, por isso, tem a culpa depositada nos ombros por ser o único sobrevivente ali. No entanto, ele voltou com a invenção necessária para proteger a cidade das constantes ameaças dos Brai: o Hyperdrive. Logo, ao instalá-lo em seu veículo e robô de combate pessoal, ele se torna capaz de detê-los. Assim, forma-se um time de pilotos — a Equipe Pandora.

A Equipe Pandora e seus comandantes.

Trabalho em Equipe

Com isso, o sci-fi está ao lado de um grande investimento em personagens: aqui, romances são secundários — o importante é a família*. Assim, os personagens funcionam perfeitamente dentro do conceito de Perfis de Personagem em Brigada Ligeira Estelar. A princípio, Lau é um planejador tático nos moldes de um Reed Richards (Quarteto Fantástico): ele precisa da presteza do resto do time para implementar soluções, por causa do pouco tempo para explicações em crises imediatas.

Da mesma forma, temos uma equipe aonde ninguém fica sobrando — mesmo Chloe, a única da Equipe Pandora a não desempenhar funções de combate, é um excelente exemplo de Coração para o seu grupo de personagens — e assim, mesmo personagens em tese não pertencentes ao time são importantes de algum modo em sua dinâmica (a princesa, e prefeita, Cecile Soo como agregador e, principalmente, o secretário Jay Kun — na prática, um segundo contraponto para Leon Lau).

Essa ainda é uma série com robôs gigantes, apesar de tudo!

Elementos Úteis

Kawamori entende do riscado quando o assunto é humanizar cenários potencialmente pedregosos para o espectador: ele foi o criador da série Macross em 1982 e talvez por produzir para o mercado chinês desta vez, está desobrigado de grandes concessões otaku**. É uma boa história de ficção científica e seu melhor trabalho em muitos anos. Virtualmente é a quarta série Superdimensional jamais feita***. Quais são seus elementos interessantes em destaque?

Ficção Científica Clássica: embora tudo leve aos combates entre veículos transformáveis em robôs contra monstros, tudo passa por soluções científicas.

Fantasia Científica: o Caos, incorporado ao guarda-chuva quântico da série, é a “ciência tão acima de nós que a vemos como magia”, com verniz místico.

Forte Apache: os Brai (parte animais, parte máquinas e com surtos evolucionários) forçaram a humanidade a viver em… cidades-fortalezas, defendendo-se.

A série ganha elementos aparentemente místicos, mas não é bem assim.

Mais Elementos

Energia Misteriosa: os hyperdrives trazem energia de outras dimensões… e permitem aos robôs evoluírem com elementos de suas contrapartes dimensionais.

Trans-Humanismo: alguns dos humanos da série manifestam elementos biotecnológicos, se tornando alguma outra coisa — e os pilotos estão sob esse risco.

Política Interna: a princesa-prefeita está sob constante bombardeio de inimigos políticos — então a Equipe Pandora tem um papel em sua imagem pública.

A história é também exemplar em sua organização como Kishōtenketsu. Isso explica, inclusive, o motivo pelo qual dividi-la em duas partes… não foi uma boa ideia: em primeiro lugar, temos a apresentação; em segundo, o desenvolvimento; no terceiro, temos uma reviravolta; e no último, temos as amarras finais da trama. A primeira parte de Last Hope corresponde aos dois primeiros atos — daí a divisão não ter funcionado bem. Depois da virada, nada para.

Energias extradimensionais, superposições quânticas… fiu!

E em Brigada Ligeira Estelar?

A princípio, como adicionar esses temas ao universo de Brigada Ligeira Estelar? Há dois mundos particularmente perfeitos para esse fim. O primeiro é Inara, com sua divisão em ilhas e arquipélagos: é possível criar um núcleo de povoamento e de desenvolvimento de tecnologia protegido pela própria Brigada — e sujeito ao ataque dos monstros gigantes da fauna particular deste mundo. Uma ilha como essa também é um alvo para piratas ou terroristas. Ação não faltará!

Mais adequado ainda é Moretz. Ele tem uma cidade perfeita para esse fim: Éden Quatro**** — a última das megalópoles construídas no solo do planeta, envolta em domos de metal transparente. Ela é um centro de pesquisas e vem sendo repovoada gradualmente após sua reconstrução. Moretz, com seu bioma hostil aos humanos e sua fauna perigosa, é um ótimo cenário para experimentos científicos capazes de dar muito errado, exigindo a ação rápida da Brigada.

O cotidiano é importante para equilibrar o lado científico da trama

Inserindo Super-ciência na campanha

A princípio, falamos um pouco disso AQUI, mas vale a pena desenvolver um pouco mais. Primeiro, o fator científico em Last Hope é aplicado na construção de suas bases narrativas, ao estabelecer um mundo hostil para a humanidade… mas as soluções imediatas também passam por elas. É uma camada além do robô com arma especial enfrenta robô com arma mais especial ainda. Portanto, os personagens precisarão usar o cérebro para resolver problemas. Consequentemente, pensamento estratégico é importante.

Logo, fica a nota: um pouco de pesquisa para o mestre é fundamental. Tire um tempo cavucando em websites de divulgação científica em busca de ideias, mas não esqueça de estabelecer pontos fracos. Também não esqueça de garantir acessibilidade a eles pelos jogadores… e um pouco de technobabble é preciso para estabelecer o clima, tanto para definir a ameaça quanto na chave da vitória dos personagens contra ela. Não dá para escapar disso tanto assim.

…mas não se iluda: aqui é robô contra monstro.

Para Terminar

De resto, não é difícil de se entender a necessidade de se explorar as relações mútuas entre os personagens e os seus cotidianos, com elementos cômicos aqui e ali. Leon Lao é brilhante, mas avoado e ridiculamente distraído. Primeiro, Queenie Yo, focada e eficiente, sai do sério por… doces. Segundo, Glen Din está sempre nervoso. Terceiro, Chloe, a irmã adotiva de Leon, recita os artigos de um “contrato familiar” e o aplica a todos na equipe para uni-los por laços… e dá certo!

Por isso, somos estimulados a gostar dos personagens. Consequentemente, esse senso de humor ajuda a equilibrar o peso de tanta física quântica e biotecnologia. Assim, estimule os jogadores a adquirirem algum traço meio caricato. Quem sabe um personagem glutão? Ou, quem sabe também, um sujeito ridiculamente zen? É claro, quando as coisas ficarem sérias é hora de se tratá-las como tal. Mas entre uma crise a ser resolvida e outra? Um pouco de leveza não faz nenhum mal.

Até a próxima!

Ao final da série, você vai estar gostando dessa turma toda.

Notas:

* O Episódio 7 ironiza isso. O único romance concreto da série é entre um dos personagens e uma mulher já morta.
** Shōji Kawamori nos últimos anos trabalhou em séries como AKB0048 e deu uma guinada mais idol à franquia Macross a partir de Macross Frontier.Last Hope é uma espécie de retorno às obras mais sci-fi dos seus primeiros anos de carreira.
*** O Bloco Superdimensional (Chō Jikū Series) foi uma série de animações de real robot produzidas pela Tatsunoko e não-relacionadas entre si mas tematicamente ligadas (o “superdimensional” aparece com significados e contextos diferentes). Foram três séries: Superdimensional Fortress Macross (esse dispensa apresentações), Superdimensional Century Orguss e Superdimensional Cavalry Southern Cross — este o único da Tatsunoko sem o dedo do estúdio Big West… e uma bomba que aniquilou a linha. O elemento “Superdimensional” está bem claro em Last Hope.

Nota Extra:

**** Originalmente Éden Zero. Infelizmente, os japoneses fizeram uma série quase homônima (não é preciso ir muito longe para chegar lá) e embora eu tenha vindo primeiro, nenhum de nós quer advogados nipônicos em nossos calcanhares. Por isso o retcon.
ADENDO EXTRA: na nota de rodapé sobre as séries Superdimensionais, esqueci da menção sobre Robotech — assim, incluindo duas delas, a primeira e a última, removendo Orguss do meio e encaixando Genesis Climber Mospeada (cujas naves e robôs são bem similares aos de Macross) no seu lugar. Tudo isso para lembrar: Southern Cross foi uma maçaroca tão grande que os japoneses, ao assistirem a versão editada estadunidense, enviaram elogios aos responsáveis por Robotech por terem tornado-a assistível. Portanto, isso diz tudo, não?

DISCLAIMER: Last Hope/Juushinki Pandora/Zhòng Shénjī Pānduōlā é propriedade da Satelight, Inc. Imagens para fins divulgacionais ou jornalísticos.

Mesa Sonora — Três conceitos de personagens inspirados em músicas

Uma das melhores partes de escrever essa coluna é que meu editor permite que eu ouse algumas coisas diferentes de tempos em tempos. Se você acompanha a Mesa Sonora, você já deve ter percebido que eu consigo relacionar música e RPG de muitas formas diferentes. Em um artigo anterior, eu usei músicas do carnaval baiano como inspiração para criar ganchos de aventura (e essa ideia foi roubada na cara-de-pau de dois artigos já publicados na revista Dragão Brasil). A ideia de hoje é parecida, mas em vez de ganchos de aventuras, vamos criar personagens inspirados em músicas! Os conceitos aqui são mais facilmente aplicáveis a NPCs, mas o mais importante é demonstrar o método, que você pode reproduzir em casa e criar seus próprios personagens, jogadores ou não.

Metodologia

A ideia surgiu pela necessidade de criar personagens interessantes para minhas mesas e projetos, e logo eu descobri que esse processo podia ser mais divertido e interessante. Para fazer isso, decidi me prender a duas regras auto impostas. A primeira delas é que vou escrever os conceitos da maneira mais simples possível, para que o personagem possa ser usado em cenários diversos, e me limitando a apenas um parágrafo. A segunda regra foi surrupiada de um dos artigos da Dragão Brasil que inspiraram esse conceito: eu tenho apenas o tempo da música citada para pensar e descrever o personagem. Será que vamos conseguir?

Personagens inspirados em músicas

(As traduções para o português de letras em inglês foram feitas por mim e não são literais.)

Blind Guardian – The Bard’s Song (In the Forest)

“Há apenas uma canção
Restante em minha mente
Contos de um homem bravo
Que vivia longe daqui
Agora as canções do bardo acabaram
E é hora de partir
Ninguém deveria lhe perguntar
O nome daquele
Que conta a história”

Conceito: um bardo que decide contar as grandes histórias de sua terra. Mas diferente de outros tantos bardos com a mesma ambição, este não possui desejos de fama ou glória. Seja por vontade própria, imposição divina ou qualquer outro motivo, o bardo tenta relatar o que aprendeu, viveu e sentiu, mesmo sabendo que um dia ninguém sequer lembrará seu nome. Não importa, apenas a história é relevante, e para isso ele ousa omitir seus próprios feitos heroicos de seus relatos. Seus colegas de grupo o veem como um herói, um igual. Outras pessoas sequer sabem que ele existe.

Usos possíveis: um personagem jogador que quer se distanciar da ideia de bardos que gostam de atenção. Um NPC não-confiável que conta histórias escondendo detalhes importantes e causa problemas ao grupo. Um acadêmico sem pretensão de ser famoso, mas obcecado por informação e não vê o problema de seu método.

Raul Seixas – Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás

“Eu fui testemunha do amor de Rapunzel
Eu vi a estrela de Davi brilhar no céu
E para aquele que provar que eu tô mentindo
Eu tiro o meu chapéu”

Conceito: Num canto ordinário e nada incomum da cidade, um senhor pede esmolas para poder sobreviver, contando histórias para aqueles que decidem deixar-lhe algum valor. Os moradores da cidade o consideram inofensivo, mas não prestam atenção aos causos que ele conta. Os aventureiros, mais viajados e educados sobre a história do mundo, logo começam a perceber que as histórias que ele conta fazem mais sentido do que deveriam, e todas são contadas em primeira pessoa. Como ele aprendeu tanto sobre tanta coisa? Se seres tão antigos costumam ser muito poderosos, quem ele é de verdade?

Usos possíveis: um mentor misterioso que demora a revelar seus segredos. Uma criatura de grande poder que decidiu abdicar de sua influência em prol de uma vida pacata. Um vilão terrível cuja ira ainda não é conhecida.

Queen – ‘39

“No ano de 39, veio uma nave do (céu) azul
Os voluntários voltaram para casa
E trouxeram boas notícias, de um mundo novo
Com um grande peso em seus corações”

Conceito: Um explorador foi enviado para encontrar um novo lar para seu povo. Ao regressar, ele descobre que ainda que sua jornada tenha parecido rápida, cem anos se passaram em seu lugar de origem (ciência, magia ou qualquer explicação que você queira). Ele se sente só entre um povo que o vê como herói, e agora precisa se habituar à nova realidade, lidando com conhecimentos mais avançados e ideias que jamais fariam sentido em seu tempo original. “Sem olhar para trás, sem temer, sem chorar”.

Usos possíveis: um aventureiro jogador que, em vez de ter amnésia ou ser de outro lugar, simplesmente tem um conhecimento desatualizado e precisa reaprender suas habilidades. Um personagem que usa técnicas e tecnologias antiquadas num mundo mais moderno (como um arqueiro numa guerra moderna). Um herdeiro de um título/reino/família que teve sua herança cedida a outro em função de sua ausência e agora precisa lutar por seus direitos.

Conclusão

Acho que deu para entender mais ou menos como isso é feito, não? Gostaria de fazer uma observação que meu objetivo com essa experiência não é necessariamente interpretar a música ou a letra, e sim usar da inspiração que sinto quando escuto. Também evito usar canções que são inspiradas em outras histórias de maneira explicita, mas isso não é uma regra. De modo geral, isso funciona com os mais diversos tipos de música, desde que tenha uma letra que você consiga entender (ou que tenha tradução na internet), mas sem se prender ao significado real da canção. Experimente! Aposto que você vai gostar.

Você tem alguma ideia de personagem a partir de uma canção que gosta? Conta pra gente nos comentários abaixo!

Teatro Arcano — Mestres da Magia

No mundo de Arton, muitos são os heróis que correm pelos ermos, lutando contra os mais diversos inimigos, mas nem todas essas pessoas se aventuram com espada, escudo e armaduras. Alguns desses se equipam apenas de robes ritualísticos e grimórios

Essas lendas místicas percorrem todos os reinos, criando histórias próprias e tentando tornar o mundo um lugar melhor. Não subestimem esses seres mais franzinos, pois os arcanistas são implacáveis!.

 

Niala, a Sumo Sacerdotisa de Wynna

Seu ordenamento como Sumo Sacerdotisa da magia não foi sem motivo. Quando Gwen Haggenfar se embrenhou no seu projeto pessoal, ignorando o sacerdócio e correndo contra os preceitos da Deusa, a escolha de Niala se tornou quase óbvia

Sua jornada começou padrão, como a de qualquer Qareen. Grande afinidade com a magia, grande paixão pela deusa, mas o que diferencia é sua extrema semelhança com a falecida Arquimaga elfica Niele. Não apenas pelo nome, e sim pelos seus trejeitos e personalidade

Animada, caótica, sedutora, e extremamente sociável. Existem vários rumores sobre quem seria de verdade Nialandarena, indo de reencarnação da arquimaga, até mesmo uma coincidência engraçada planejada pelos deuses. Independente do que seja, ela gosta de reforçar todos os rumores possíveis, simplesmente pela diversão de ver as pessoas teorizando.

Atualmente, Niala está auxiliando alguns aventureiros, por capricho ou não, e sua história vem se desenvolvendo no mangá Holy Avenger Paladina — sucessor do clássico Holy Avenger de Marcelo Cassaro e Érica Awano. Além disso, aparece uma das primeiras vezes no suplemento O Panteão, que veio junto do antigo box O Mundo de Arton.

 

Vladislav Tpish, o Mestre Máximo da Magia

O objetivo máximo de Vladislav era mostrar para o mundo que a necromancia não é algo maligno, e sim uma energia a ser usada, uma magia como qualquer outra a ser estudada. E de certa forma, ele vem conseguindo isso.

Ao se formar na Academia Arcana, tornou- se um aventureiro ao lado de alguns amigos, como Katabrok, e foi parte fundamental na ressurreição do Paladino de Arton, utilizando-se dos Rubis da Virtude em Holy Avenger. Mas definitivamente esse não seria seu maior feito.

Quando o antigo Mestre Máximo, e reitor da Academia Arcana, Talude, percebeu que o mundo precisava de mais aventureiros, e menos escolásticos, preparou um breve teste para o professor. E com auxílio de alguns outros personagens icônicos de Arton, Vladislav vou nomeado como o mais novo mestre máximo da magia, e isso pode ser visto numa one shot canônica em comemoração do lançamento de T20 com os autores de Tormenta.

Vladislav adota o visual típico de um mago. Está sempre apresentável, com uma leve mania de limpeza. Além de seu interesse pelos mortos-vivos, Vladislav também possui uma filha chamada Petra, mas ele prefere evitar falar sobre isso.

 

Reynard, o perseguidor da Tormenta

Sua origem é diferente dos magos clássicos. Vindo dos atuais Ermos Púrpuras, uma coalizão de agrupamentos bávaros, Reynard sempre soube que queria ser um mago. E assim o fez, fugindo ainda jovem de sua família e aparecendo em Valkaria, querendo se matricular na Grande Academia Arcana.

Ascendeu de forma primorosa, até se tornar um dos expoentes contra o maior perigo de Arton, a corrupção da anti criação, a Tormenta. Foi sob seu comando, e de John-de-Sangue, que a Companhia Rubra começou a desafiar e adentrar as Áreas de Tormenta, infelizmente sendo abatidos por Aharadak — atual Deus maior da Tormenta. Sendo Reynard um dos únicos sobreviventes, não se deu por vencido, e até hoje continua a estudar os Lefeu

Reynard pode ser considerado frio e estoico, mas possui um instinto heroico e leal aos seus companheiros. Seu rosto sério na verdade esconde preocupações e noites mal dormidas pelas pesquisas incessantes. É um homem preto, cabelo bem aparado, penteado em dreads e feições bem expressivas e corpo atlético.

Suas principais aparições são no romance  O Terceiro Deus, de Leonel Caldela, e nos manuais: Manual do Arcano, Guia da Trilogia e é citado no Manual das Classes de Prestígio como um Arquimago.

 

Gradda, a bruxa Duyshidakk

Gradda é um ponto singular da história de A Flecha de Fogo, seu passado é misterioso, e sabemos que envolve demônios antigos e até um parentesco com a antiga arquimaga Hangspharstyth. Contudo, é através de suas ações que entendemos como os duyshidakk encaram a magia. Uma energia de mudança e proximidade, não muito comum para os magos de Arton, e abundante em Lamnor.

Sua presença é marcante em tudo que faz, principalmente ao voar com seu pilão, e a sabedoria diferente, porém pontual. Ela não é o que se espera de um arcanista, mas ela ainda sim tem toda a inteligência que é subestimada nos goblins.

Ela é de estatura baixa, pele verde, cabelos longos e brancos, e tem uma personalidade mais ácida, dificilmente leva desaforo, e gosta que as coisas sejam práticas e rápidas. E claro, ela não para de xingar nem se alguem morrer.

Escolinha de Tanna-Toh — Vícios de Linguagem

Imagem em Preto e Branco. Na esquerda está o rosto de Talude, olhando para a direita. Na direita, o rosto de Vectorius, olhando para a esquerda.ra direita, está

Olá novamente, bravos artonianos! Como diria a sabedoria da nossa madrinha, a Deusa do Conhecimento, “antes tarde do que mais tarde” chega mais um texto da Escolinha de Tanna-Toh para vocês! Hoje vamos falar de Vícios de Linguagem.

E o que são vícios de linguagem? São, em termos mais formais, desvios não intencionais da norma-padrão. Ou seja, são aquilo que consideramos como erros que acabam gerando algum problema ou ruído no texto, eles são divididos em diversos tipos e hoje vamos falar de alguns deles.

Solecismo é o que chamamos de erro de sintaxe, ou seja, erros de concordância, regência ou colocação. Em termos simples, é um erro na estrutura da frase. (Não, não tem nada a ver com o personagem comb…, uhm digo, otimizado, solar o chefe que o mestre preparou).

Concordância:

  • Os minotauro são muito briguento. (errado)
  • Os minotauros são muito briguentos. (certo)

Regência:

  • O clérigo chegou no templo. (errado)
  • O clérigo chegou ao templo. (certo)

Colocação:

  • A mestra me disse que posso. (errado)
  • A mestra disse-me que posso. (certo)

Os solecismos são muito comuns na oralidade, quando estamos em conversas (principalmente as informais), mas em situação formais, em especial nos textos escritos, são regras que precisam de atenção.

Barbarismos são erros de pronúncia, grafia ou uso que ocorrem de diversas formas, até mesmo na conjugação de alguns verbos. (E isso não tem nada a ver com personagens que têm Fúria como habilidade de classe, embora seja causa de irritação para muita gente).

Vejamos alguns dos exemplos mais comuns:

  • Falar “brica” no lugar de “rubrica”, pois a sílaba tônica é “bri”, ou falar “gratuíto” em vez de “gratuito”. (erro de pronúncia)
  • Flexionar “cidadão” para o plural como “cidadões”, quando o correto é “cidadãos”. Ou escrever “ancioso” no lugar de “ansioso”. (erro de grafia)
  • Usar “comprimento” no lugar de “cumprimento”, e vice-versa:
    O guarda comprimentou o grupo. (errado)
    O cumprimento da corda não era suficiente. (errado)
    O guarda cumprimentou o grupo. (certo)
    O comprimento da corda não era suficiente. (certo)
  • Na conjugação de alguns verbos, como “ver”:
    — Quando ver o grupo outra vez, dê a recompensa. (errado)
    — Quando vir o grupo outra vez, dê a recompensa. (certo)

Mais uma vez cabe lembrar que na fala muitas dessas ocorrências são comuns, até mesmo insignificantes ou indetectáveis (como no caso de ancioso/ansioso), mas que em contextos formais devem ser evitados ao máximo.

Ambiguidade é quando há duplo sentido em alguma frase, o que pode causar confusão em quem lê o texto. É muito comum que o pronome possessivo “seu/sua” cause isso.

  • O cavaleiro foi atrás do cavalo correndo.
    Quem estava correndo?
  • O cavaleiro estava com o guerreiro falando de sua espada.
    A espada de quem?

Para evitar a ambiguidade nessas frases poderíamos reescrevê-las.

  • O cavaleiro foi atrás do cavalo que corria.
    ou
    O cavaleiro correu atrás do cavalo.
  • O cavaleiro falando de sua própria espada para o guerreiro.
    ou
    O cavaleiro estava falando com o guerreiro sobre a espada dele.

Eco é o fenômeno que ocorre quando há repetição de sons de forma não intencional na frase, o que pode causar ruído e estranheza na leitura. Em alguns textos ocorre com a repetição excessiva de advérbios de modo (palavras terminadas em “-mente”) em um mesmo parágrafo.

  • Furtivamente, a ladina atacou calmamente e traiçoeiramente.
  • Seu coração parou de supetão com aquela ação do valentão.
  • O amor lhe causará dor sem pudor ou clamor.

Para evitar esse tipo de repetição é preciso cultivar um amplo vocabulário, de modo a ter ferramentas para reestruturar as frases conforme necessário. E claro, esse tipo de repetição pode em alguns casos ser usado como um recurso narrativo, como para evidenciar a fala de um personagem.

Bom, meus caros, este foi o texto desse mês! Espero que tenham acumulado mais XP e até a próxima!

A Jornada da Mestra — Às vezes, mestrar RPG não é para você

Mestre Dos Magos / Caverna Do Dragão / Treta / GIF - Careful Dungeons And Dragons Dungeon Master - Discover & Share GIFs

Que papo é esse? Qualquer um não pode ser mestre?

Exatamente, jovem padawan. Entretanto, o buraco aqui é mais embaixo. Mas o que isso quer dizer? Que você não é obrigado a mestrar, seja porque não gostou da dinâmica ou porque apenas não quer. 

Mestrar não é uma hidra de sete cabeças, mas exige um certo trabalho, sobretudo se você decide criar a sua própria história. E, mesmo utilizando uma aventura pronta, é sempre de bom tom ter um planejamento mínimo. Tenha sempre em mente que o fator caos dos jogadores pode te levar a qualquer lugar.

Não sei se posso criar uma checklist de características que um mestre deveria possuir — nem gosto muito disso —, mas posso falar sobre alguns pontos percebidos após um ano nessa aventura.

Imparcialidade

Judge Juiz GIF - Judge Juiz Juiza - Discover & Share GIFs

É bem chato quando aquela pessoa faz uma bobagem astronômica e sai impune, não é? É triste quando sua mãe guarda uma foto 3⁄4 sua na carteira, com aquela cara de desastre, mas mantém um pôster de cinema do seu irmão na porta de casa.

O mesmo serve para seus jogadores. 

Se um único personagem recebe toda a sua atenção, não é bacana. Imagine você, sentado numa mesinha de bar com seus amigos. Um deles convidou a galera, mas ele só responde um amigo em específico, ignora você e o resto ou responde na base do “uhum, ok, ciente”. No mínimo estranho. Não seja assim.

Se um personagem toma uma decisão duvidosa e não recebe uma consequência a altura, abrem-se portas para que os outros tomem as mesmas ações. E se você não tiver o mesmo tratamento com os outros, punindo-os pela ação questionável, eu mesma pergunto quanto custa o valor do suborno.

Isso nos leva ao próximo ponto.

Honestidade

Missão Impossível: Confissão Sacramental - O Catequista

Seja honesto com seus jogadores. Somos todos amigos, adultos e maduros, fingindo lançar magias com sonoplastia improvisada. A comunicação é importante, portanto seja honesto sobre suas ações e decisões. 

Tirou um natural naquela briga importantíssima? Oh, well

Um jogador ficou frustrado porque não compreendeu uma decisão sua? Explique

O monstro morreu com um único hit porque você balanceou mal? O monstro ficou muito badass porque você enlouqueceu e perdeu a mão? Cabe um balanceamento de última hora, caso você não queira um combate anticlimático, ou outra solução criativa. Pode dizer depois, não faz mal.

Não conseguiu planejar nada para a sessão? Diga. Não fazemos uma campanha sozinho.

Um jogador tomou a pior decisão possível e ele vai morrer por isso? Mate-o. O time inteiro, numa mesa na qual eu sou jogadora, tomou uma decisão extremamente burra e o mestre fez um TPK sem dó. Lembrando que, caso os jogadores sejam iniciantes, você pode contornar isso com outras decisões. Eu sempre digo que matar é muito fácil, seja criativo. Arranque um braço, um olho, mate um npc querido.

Criatividade e Jogo de Cintura

Imagens e Gifs dançando - Gifs e Imagens Animadas

Dois pontos que se complementam porque você, em algum momento, vai ter que rebolar, rebolar, rebolar. Jamais tenha certeza do que te espera, com exceção do caos. Sempre achei que Valkaria perderia o posto de padroeira dos aventureiros para Nimb. 

Você não precisa de criatividade apenas para construir a história, mas para resolver os pepinos que surgem durante as sessões. Como eu já disse, caso você não queira matar um personagem, por qualquer motivo que seja, há inúmeras outras formas de punir o personagem. Arrancar um braço do guerreiro para deixá-lo com um debuff em seus ataques, diminuir um atributo chave ou selar a magia do arcanista e etc. Tem espaço para tudo.

Paciência

Classe; Monge | Wiki | [RPG] Ilha - Godashi Amino

É importante ter paciência para entender seu próprio tempo e o tempo dos jogadores. Para aceitar que cagadinhas vão acontecer, para lidar com os próprios erros, deslizes, decisões duvidosas e as bombas que os jogadores atiram em nossas mãos.

Mestrar não é uma tarefa árdua, mas exige um certo tempo e paciência para planejar e construir. Sejam horas procurando pelo handout perfeito, seja planejando a próxima sessão ou o próximo arco da campanha.

Mas, é claro, toda paciência tem limite. Você não precisa ser paciente com aquele jogador babaca, que está ali apenas atazanando o juízo alheio. Dá sempre para conversar antes de uma decisão, mas ninguém é obrigado a aturar gente sem noção. 

E lembre-se: você não é babá. Deixe que os personagem resolvam seus problemas, eles que se virem com o fantasma das consequências.

Bebam água, comam frutas e até a próxima!

Brigada Ligeira Estelar: O Ano Perdido — Episódio Quinze: O Escudo das Armas

Anterior: a Brigada Ligeira Estelar chegou à lua Vesna, de Dabog, aonde denunciaram irregularidades para o Governador das Seis Luas. Consequentemente, se meteram no centro de uma crise política e, portanto, tem um último nó a desatar antes de seguir viagem em busca de sua misteriosa tecnologia alienígena. Contudo, não será nada fácil.

Local: Vesna (lua do planeta Dabog)

Situação Prévia:

Vesna abrigará uma reunião entre um representante do Príncipe-Regente de Arkady, um mediador imperial, o governador das luas de Dabog (Alik Dagar) e os regentes governamentais de cada lua. Os protagonistas devem depor sobre os eventos em Ziva. Uma representação em aço do Escudo das Armas de Arkady será trazida como símbolo de restabelecimento da ordem.

Evento:

Entretanto, na calada da noite, o escudo das armas desapareceu. Assim, caso isso venha a público, passará à população uma desastrosa mensagem de ineficiência! Ou seja, cabe a nossos personagens manter tudo em segredo e dessa forma recuperar o item antes dessa reunião a portas fechadas, quando ele for exibido ao povo. Entretanto, a coisa é mais complexa.

Na verdade, um grupo separatista está esperando esse momento público de vergonha alheia, antes de reivindicar sua autoria. Todavia, não são apenas eles os únicos responsáveis por essa história. Sendo assim, quem seria o culpado? Aliás, ele não fará de tudo para se colocar no caminho de nossos protagonistas enquanto o momento da verdade não chegar?

Reviravoltas

Investigação: um obstáculo para achar os responsáveis é a existência de inúmeros grupos separatistas nas seis luas, na maioria compostos por grupos pequenos — porém com ambição em excesso e juízo de menos. Dessa forma, é bem possível cruzar com o grupo errado e deliberadamente, por disputas ideológicas, eles indicarem outro grupo errado…

Cui Bono?: o regente governamental de Ziva, cujos atos estão sob julgamento, obviamente é o maior beneficiado pelo crime. Contudo, após a reivindicação de autoria do ato, há homens infiltrados para eliminar os terroristas antes que abram mais a boca. Logo, é preciso salvá-los, mas eles também tem seus robôs de combate e não estão dispostos a ouvir…

Como se Isso não Bastasse: nesse ínterim, nossos vilões regulares querem se aproveitar desse caos para roubar as tecnologias alienígenas. Portanto, eles podem oferecer para o regente governamental de Ziva uma proposta simples: armas incomuns (e mais potentes) para os seus homens na caça aos personagens jogadores. Assim, em troca, eles só querem as peças.

Epílogo

Caso tudo corra bem, o escudo das armas será exibido antes do julgamento a portas fechadas. Como a regência governamental de Ziva é um cargo nomeado pelo governador dos territórios lunares (com aval do Príncipe-Regente de Arkady), provavelmente ele apenas será “convidado a se demitir” para evitar escândalos. Mas essa história pode não ter acabado aqui…

Ideias

Puxadas de Tapete: pense em reviravoltas atrás de reviravoltas. Assim, é interessante ter algum senso de humor nesse contexto. Os personagens seguem pistas falsas que levam a pistas falsas. A inclusão de vilões recorrentes existe para colocar os personagens na trilha certa.

Torne tudo Difícil: o grupo separatista teve o acesso à peça facilitado e assim, seu depoimento vai resolver a questão. Porém, eles ainda são um grupo separatista: por menos espertos que sejam, não querem ser presos. Dessa forma, os vilões recorrentes podem ajudá-los a escapar, complicando tudo.

Considerações para Brigada Ligeira Estelar RPG

A ideia, aqui, é retomar o lado mais capa-e-espada da ambientação. Os aspectos políticos são mais um pano de fundo para uma aventura rocambolesca, na qual robôs gigantes são mais pontuais. A inclusão de vilões regulares é um modo de oferecer adversários com face e, assim, oferecer um rumo aos protagonistas — se eles estão aqui, algo está acontecendo.

Para tornar essa aventura um one-shot, desvinculado da trama central, em primeiro lugar remova os vilões regulares e substituam-nos por um nobre de Zeme ligado ao regente governamental. Em segundo, altere o final para que tudo se resolva aqui.

Divirtam-se.

Episódios Anteriores

00 — Introdução (AQUI) 
01 — O Sinal Desconhecido (AQUI)
02 — Madredeus (AQUI)
03 — A Fortaleza Lunar (AQUI)
04 — Cidade do Perigo (
AQUI)
05 — O Templo dos Guerreiros (
AQUI)
06 — Zona Devastada (
AQUI)
07 — 0,8 Miligramas por Litro (
AQUI)
08 — Leviatã Ataca! (
AQUI)
09 — Duelo na Área 77 (
AQUI)
10 — O Cio dos Dragões (
AQUI)
11 — Prisioneiros dos Piratas (
AQUI)
12 — A Voz Soberana (
AQUI)
13 — A Fúria dos Nephilim (
AQUI)
14 — Proposta Maldita (
AQUI)

Twitter de Brigada Ligeira Estelarhttps://twitter.com/BrigadaEstelar
Blog oficial de Brigada Ligeira Estelar:
https://brigadaligeiraestelar.com/
Instagram de Brigada Ligeira Estelar:
https://www.instagram.com/brigadaligeiraestelar

Um deus? Pfff! Eu sou abençoado pela sorte!

Dessa vez vou contar a história de um novato que ficou emocionado com a sorte que estava tendo nos dados e decidiu confrontar um deus.

Prontos para mais um causo de RPG?

Sorte de principiante

Todo mundo sabe que a “Sorte de Principiante” é uma constante nas mesas de RPG. Já cheguei a crer que seriam as divindades nerds que dão esse empurrão para ter mais um coitado convertido ao RPG. Depois de um primeiro encontro épico, é quase certo que a pessoa vai querer continuar. Quem não curte uma boa sorte?

Aí descobre que a vida de um RPGista não é tão colorida e poderosa…

Enfim, o novato protagonista desta crônica era um guerreiro (clássico) e, até alcançar o NPC misterioso, havia desfrutado do sabor de vitórias cheias de acertos críticos e narrações memoráveis do mestre.

Os outros na mesa, jogadores já experientes e calejados pelos dados ruins da vida, soltaram o bordão “sorte de principiante” desde o início, mas ainda assim o ego do guerreiro foi esmagando o seu bom senso.

O mestre, velho de mesa que só, não deixou passar essa oportunidade e narrou de forma dramática a chegada de um NPC escondido em uma capa negra e falando com a voz grave.

“O que quer aqui, forasteiro?” perguntou o guerreiro no seu tom mais debochado.

Risos baixos entre aqueles que já sabiam que ia dar merda.

“É intimidação?” retrucou o mestre com um sorriso de quem esconde a malandragem.

“Posso intimidar?” olhinhos brilharam segurando firme o D20.

“Pode tentar”

 

Uma regra não falada entre os jogadores é: Não mate o NPC! Ele pode ser importante! (além de “não mate o mensageiro”)

Animado com o potencial novo alvo, o guerreiro apontou sua espada para o estranho encapuzado e deixou uma ofensa gratuita (quem nunca?).

“Relaxa, cara! Ele pode ser um aliado” um veterano tentou argumentar, mas o guerreiro deu um passo à frente, ignorou o conselho e continuou seu corajoso embate.

O mestre ainda ofereceu outra solução através de diálogo, mas nada adiantou. O novato estava cego pelo brilho dourado do poder de primeiro nível, brandindo a espada que ganhou no kit básico continuou até que os insultos tornaram-se mais corajosos.

O grupo deixou para ver o que ia acontecer, alguns até dando um pouco de corda, outros desacordados esperando a merda acontecer. E ela aconteceu.

O NPC se apresentou como o avatar de um grande deus daquele mundo, que havia ido até lá para presenteá-los com artigos poderosos, mas aquele guerreiro insultava a sua imagem, o desrespeitou e iria receber uma lição.

“Um deus? Pfff! Eu sou abençoado pela sorte!” foi a última fala do guerreiro.

 

E morreu

Brincadeira. Ele não morreu, não, mas tomou um susto danado e que rendeu uma memória engraçada para ele e para o grupo.

E você? Já encarou um NPC importante e se deu mal? Conta aí!

E já tá sabendo que a primeira light novel de 3DeT Victory está em pré-venda? Pois já pode avisar todo mundo, pois Era das Arcas já está entre nós! 

 

Leia as outras Crônicas do RPG aqui.

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