Autor: Emerson Xavier

Escolinha de Tanna-Toh — Termos que confundem Vol. 2

Três folhas de papel antigo sobrepostos e com textos de letras antigas escritas

Olá, caríssimos artonianos! Como estão enfrentando a chegada do frio do inverno? Espero que todos aqueles agasalhados, mas principalmente quem não estiver, sintam-se à vontade e entrem, aproveitem para ler o tema deste mês enquanto se esquentam nas salas da Escolinha de Tanna-Toh que estão todas bem aquecidas e aconchegantes.

Este mês vamos falar de alguns deslizes comuns que todos já vimos (ou até cometemos!) por aí, em geral por falta de atenção, pressa e, em alguns casos, pura confusão. (mais…)

Escolinha de Tanna-Toh — Inspiração

Olá, artonianos! Sejam mais uma vez bem-vindos à Escolinha de Tanna-Toh! Sei que faz um tempo desde a última vez em que conversamos, mas os últimos tempos foram conturbados para este devoto do Conhecimento.

Bom, vamos ao que interessa, o tema deste mês foge um tanto dos assuntos que costumo abordar por aqui, que em geral tratam de gramática de forma bastante direta, mas hoje vamos falar de inspiração, o conceito que tantos procuram no momento da escrita, ou de qualquer forma de criação (não, eu não estou me referindo à habilidade de classe do bardo).

A Inspiração

Antes de começarmos, pare e pense um pouco: o que você entende por inspiração? Algo vem de forma clara à sua mente? Ou surgem apenas ideias vagas, meio insubstanciais, difíceis de colocar em palavras?

Algumas pessoas vão dizer que é um forte sentimento criativo que surge de forma inesperada e em qualquer lugar, outros podem dizer que se sentem inspirados quando veem/leem/escutam algo ou alguém que os motiva a criar. De qualquer forma, muitos vão dizer, e acreditam com todas as forças, que não conseguem criar (seja escrevendo, desenhando ou criando encontros poderosos para causar TPKs, digo, desafiar seus jogadores) sem sentirem inspiração.

Tudo isso faz, pelo menos, algum sentido.

Mas, de onde vem a inspiração?

As musas

Segundo a mitologia grega (de um mundo distante de Arton), elas eram belas mulheres, filhas de Zeus (líder daquele panteão), que tinham a capacidade de inspirar a criação artística. Mas, ao contrário do que sugere a lenda, a inspiração não surge pura e unicamente da visão ou do poder de uma ninfa ou deusa.

O que, no entanto, vários pensadores do campo da escrita e da literatura parecem concordar é que a inspiração surge a partir do acúmulo de experiências, tanto reais, quanto ficcionais. O próprio bardo necromante, Stephen King (que toca o terror em suas histórias), diz que para ser escritor é preciso fazer duas coisas à exaustão: ler e escrever, o que é, de maneira óbvia, acrescentar mais material às nossas experiências ficcionais. (Ainda que ele próprio diga que possui sim uma musa, mas não uma bela mulher, e sim um cara que mora no porão e fuma charuto¹).

Na época em que eu ainda cursava os estudos devocionais de Tanna-Toh na universidade, tive uma aula com a grã-mestra Jucimara², que lecionava literatura para minha turma, em que discutimos o conceito de inspiração. Um colega levantou a questão da inspiração naquele dia, e nossa mestra descartou a ideia, dizendo que inspiração, da forma romântica como muitos a encaram, simplesmente não existe. Tudo o que existe são as nossas experiências, nossas leituras, escutas, lembranças e percepções delas que, processadas no turbilhão do nosso cérebro, dão origem a ideias e pensamentos que entendemos como nossas e resultam em nossas obras, tão originais quanto elas podem ser.

O grão-mestre de outra universidade, o didático Assis Brasil³, em seu tratado Escrever Ficção, levanta também a questão da vivência, apontando diversos escritores que fizeram de suas vidas diárias e interesses pessoais material literário de muita qualidade. E embora eu não me recorde de ter lido a palavra “inspiração” em seu tratado, o professor leva muito em consideração o fator humanidade de cada escritor em seu texto e, por consequência, tudo aquilo que compõe a chamada inspiração.

Por fim…

Talvez você tenha aberto esse texto esperando encontrar alguma definição que fosse, no mínimo, precisa do que é inspiração. Mas o que eu espero, é que você possa abrir um pouco mais a mente e o coração, e que crie coragem para encarar o pergaminho em branco mais vezes, mesmo quando não houver a dita inspiração. (Ou mesmo quando o homem que costuma ficar sentado no canto escuro da sala fumando charuto não estiver lá, ou quem quer que seja sua musa).

Até o mês que vem, e boa escrita!

 

1 – Stephen King — Sobre a Escrita, p. 126.

2 – Professora Doutora Jucimara Tarricone, Professora de Literatura Portuguesa e da vida.

3 – Professor Doutor Luiz Antonio de Assis Brasil, Professor na PUC-RS e escritor brasileiro.

Este texto é dedicado à memória do Professor Mestre Murilo Jardelino da Costa, que foi uma verdadeira inspiração para seguir meu próprio caminho.

Escolinha de Tanna-Toh — Vícios de Linguagem

Imagem em Preto e Branco. Na esquerda está o rosto de Talude, olhando para a direita. Na direita, o rosto de Vectorius, olhando para a esquerda.ra direita, está

Olá novamente, bravos artonianos! Como diria a sabedoria da nossa madrinha, a Deusa do Conhecimento, “antes tarde do que mais tarde” chega mais um texto da Escolinha de Tanna-Toh para vocês! Hoje vamos falar de Vícios de Linguagem.

E o que são vícios de linguagem? São, em termos mais formais, desvios não intencionais da norma-padrão. Ou seja, são aquilo que consideramos como erros que acabam gerando algum problema ou ruído no texto, eles são divididos em diversos tipos e hoje vamos falar de alguns deles.

Solecismo é o que chamamos de erro de sintaxe, ou seja, erros de concordância, regência ou colocação. Em termos simples, é um erro na estrutura da frase. (Não, não tem nada a ver com o personagem comb…, uhm digo, otimizado, solar o chefe que o mestre preparou).

Concordância:

  • Os minotauro são muito briguento. (errado)
  • Os minotauros são muito briguentos. (certo)

Regência:

  • O clérigo chegou no templo. (errado)
  • O clérigo chegou ao templo. (certo)

Colocação:

  • A mestra me disse que posso. (errado)
  • A mestra disse-me que posso. (certo)

Os solecismos são muito comuns na oralidade, quando estamos em conversas (principalmente as informais), mas em situação formais, em especial nos textos escritos, são regras que precisam de atenção.

Barbarismos são erros de pronúncia, grafia ou uso que ocorrem de diversas formas, até mesmo na conjugação de alguns verbos. (E isso não tem nada a ver com personagens que têm Fúria como habilidade de classe, embora seja causa de irritação para muita gente).

Vejamos alguns dos exemplos mais comuns:

  • Falar “brica” no lugar de “rubrica”, pois a sílaba tônica é “bri”, ou falar “gratuíto” em vez de “gratuito”. (erro de pronúncia)
  • Flexionar “cidadão” para o plural como “cidadões”, quando o correto é “cidadãos”. Ou escrever “ancioso” no lugar de “ansioso”. (erro de grafia)
  • Usar “comprimento” no lugar de “cumprimento”, e vice-versa:
    O guarda comprimentou o grupo. (errado)
    O cumprimento da corda não era suficiente. (errado)
    O guarda cumprimentou o grupo. (certo)
    O comprimento da corda não era suficiente. (certo)
  • Na conjugação de alguns verbos, como “ver”:
    — Quando ver o grupo outra vez, dê a recompensa. (errado)
    — Quando vir o grupo outra vez, dê a recompensa. (certo)

Mais uma vez cabe lembrar que na fala muitas dessas ocorrências são comuns, até mesmo insignificantes ou indetectáveis (como no caso de ancioso/ansioso), mas que em contextos formais devem ser evitados ao máximo.

Ambiguidade é quando há duplo sentido em alguma frase, o que pode causar confusão em quem lê o texto. É muito comum que o pronome possessivo “seu/sua” cause isso.

  • O cavaleiro foi atrás do cavalo correndo.
    Quem estava correndo?
  • O cavaleiro estava com o guerreiro falando de sua espada.
    A espada de quem?

Para evitar a ambiguidade nessas frases poderíamos reescrevê-las.

  • O cavaleiro foi atrás do cavalo que corria.
    ou
    O cavaleiro correu atrás do cavalo.
  • O cavaleiro falando de sua própria espada para o guerreiro.
    ou
    O cavaleiro estava falando com o guerreiro sobre a espada dele.

Eco é o fenômeno que ocorre quando há repetição de sons de forma não intencional na frase, o que pode causar ruído e estranheza na leitura. Em alguns textos ocorre com a repetição excessiva de advérbios de modo (palavras terminadas em “-mente”) em um mesmo parágrafo.

  • Furtivamente, a ladina atacou calmamente e traiçoeiramente.
  • Seu coração parou de supetão com aquela ação do valentão.
  • O amor lhe causará dor sem pudor ou clamor.

Para evitar esse tipo de repetição é preciso cultivar um amplo vocabulário, de modo a ter ferramentas para reestruturar as frases conforme necessário. E claro, esse tipo de repetição pode em alguns casos ser usado como um recurso narrativo, como para evidenciar a fala de um personagem.

Bom, meus caros, este foi o texto desse mês! Espero que tenham acumulado mais XP e até a próxima!

Escolinha de Tanna-Toh — Acentuação

crase

Olá novamente, bravos artonianos! Depois do mês em que as instalações educacionais desta coluna estavam em reforma, a Escolinha de Tanna-Toh está de volta! (Eeeeeee!!!) Este mês iremos falar de um assunto para o qual muitas pessoas acabam não dando atenção no dia a dia e muitas vezes deixam de usar ou apenas seguem o que “parece” certo, vamos falar sobre acentuação!

Acentos gráficos são pequenos sinais gráficos usados para marcar a tonicidade de determinadas palavras em português. No Brasil, usamos dois acentos tônicos, são eles: o acento agudo (´) e o acento circunflexo (^). O acento grave (`), também conhecido como crase, é usado para marcar a contração da preposição “a” com as formas femininas do artigo “a” e o pronome demonstrativo “a”, e da qual já falamos por aqui. Já o til (~) é usado para marcar nasalidade, não tonicidade na palavra, embora em boa parte das palavras em que o til é usado, seja também na sílaba tônica.

Antes de seguirmos adiante: preciso deixar claro que esse texto não se propõe a listar todas as regras de acentuação. O intuito do texto é esclarecer algumas das regras principais, sem abordar casos muito específicos e/ou muito raros.

Palavras de uma sílaba só, chamadas monossílabos ou palavras monossilábicas.

Apenas as palavras monossílabicas terminadas em “a”, “e” e “o” recebem acento, mesmo que sejam seguidas de “s”:

  • Cá, gás, pá, fé, três, pé, nó, nós, dó.

Já as monossílabas terminadas em “i”, “u” ou “z”, não recebem:

  • Ti, li, vi, tez, vez, paz.

Palavras cuja sílaba tônica é a última, no caso, as oxítonas.

Apenas as oxítonas terminadas em “a”, “as”, “e”, “es”, “o”, “os”, “em” e “ens” recebem acento:

  • Está, café, jiló, ninguém, após, parabéns.

Paroxítonas, palavras cuja sílaba tônica é a penúltima.

Todas as palavras paroxítonas terminadas em “i”, “is”, “u” e “us”:

  • Júri, pônei, bônus, vírus.

Paroxítonas terminadas em consoantes:

  • Difícil, fácil, ágil, cânon, pólen.

Paroxítonas terminadas em “ão” e “ãos”:

  • Bênção, órgão, órfão.

Por fim, paroxítonas terminadas em ditongos, com ou sem “s”:

  • Área, régua, água.

Todas as palavras proparoxítonas, ou seja, com a sílaba tônica sendo a antepenúltima, são acentuadas:

  • Métrica, música, mágica, tática, básica, matemática, dúvida.

Essas são, como falei no começo do texto, regras básicas, às quais a maioria das está acostumada, mas há diversas outras. A seguir, falarei de algumas mudanças após o Acordo Ortográfico e que muitas pessoas ainda confundem, já que várias palavras perderam o acento, ou como se diz por aí: “o acento caiu”. Ri sozinho quando descobri que o acento de “voo” tinha “caído”. Me perdoem pelo trocadilho.

Deixaram de receber acento diversas palavras, muito comuns para o vocabulário de nós, RPGistas, aqui vai uma lista de algumas delas:

  • Goblinoide, humanoide, paranoico, heroico, jiboia, ideia, plateia.
  • Voo, veem, preveem, enjoo, povoo.

No entanto, alguns dos acentos diferenciais não foram abolidos. Enquanto para diferenciar os termos “pode” e “pôde”, o acento é obrigatório:

  • Ele pode chamar a guarda a tempo. (ele tem o poder, a capacidade, a possibilidade, de chamar a guarda, verbo no presente do indicativo)
  • Ele pôde chamar a guarda a tempo. (ele conseguiu chamar a guarda, verbo no pretérito perfeito do indicativo)

Para os termos “forma” e “fôrma”, o acento diferencial é facultativo:

  • A forma daquele elemental era assustadora.
  • Aquela era a melhor fôrma da padaria.

O acento circunflexo deixou de ser usado na conjugação de alguns verbos, tais como leem, veem e creem, que antes do Acordo eram grafados assim: lêem, vêem e crêem. O mesmo ocorreu com “voo”, do verbo voar, citado acima.

No entanto, ele foi mantido em outros verbos, o que causa alguma confusão. Os verbos “ter” e “vir” mantiveram o acento circunflexo em sua conjugação para a 3ª pessoa do plural (eles/elas), mas se manteve sem acento para a 3ª pessoa do singular (ele/ela):

  • A necromante tem poder sobre os mortos-vivos. (ela tem)
  • Os juízes têm o poder de decisão. (eles têm)
  • O herói solitário vem pela estrada. (ele vem)
  • As medusas vêm nessa direção. (elas vêm)

O mesmo vale para verbos derivados de “ter” e “vir”: conter, deter, manter, etc. Com a diferença que conjugados na 3ª pessoa do singular, esses verbos recebem acento agudo e na 3 ª pessoa do plural recebem o acento circunflexo:

  • O frasco contém a poção de cura. (ele contém)
  • As garrafas contêm veneno. (elas contêm)
  • O xerife mantém a cidade em ordem. (ele mantém)
  • As clérigas detêm o poder dos deuses. (elas detêm)

Por hoje é isso, caros artonianos! Espero que as dicas e regras ajudem a esclarecer as dúvidas mais frequentes sobre o tema.

Até o próximo mês!

Escolinha de Tanna-Toh — Meio-traço e Hífen

crase

Olá outra vez, bravos aventureiros de Arton! Sejam bem-vindos à Escolinha de Tanna-Toh! Hoje iremos falar sobre dois sinais que muitos confundem ou usam onde não deveriam, estou falando do hífen e da meia-risca.

Estes dois sinais gráficos possuem funções específicas na língua portuguesa e não devem ser confundidos com o travessão ou usados em seu lugar. O hífen é um traço bem pequeno (-); já o meio-traço (também chamado de meia-risca), é um traço um pouco maior (–).

Para ficar claro:

  • Travessão: —
  • Hífen: –
  • Meio-traço: –

O uso do meio-traço é mais simples. Ele serve para juntar elementos dos extremos de uma série ou intervalo e para unir palavras em um sentido lógico.

  • A Guerra Artoniana (1412–1417) foi o conflito mais sangrento da história recente de Arton.
  • Os patamares de jogo em Tormenta 20 são: Iniciante (níveis 1–4), Veterano (5–10), Campeão (11–16) e Lenda (17–20).
  • A viagem Nova Malpetrim–Valkaria é feita por muitos aventureiros.
  • Muitos aventureiros fizeram a viagem Reinado–Tamu-ra depois de Orion Drake.
  • O inverno nas Uivantes (-35ºC–0ºC) é muito mais rigoroso do que no resto do Reinado (-2ºC–15ºC), mesmo considerando os lugares mais frios.
  • Um personagem com 60 PV possui um intervalo razoável de pontos de vida em que fica inconsciente (-29 PV–0 PV), mas se chegar a -30, morre.

Embora na maioria dos casos o uso do hífen no lugar do meio-traço não acarrete em nenhum prejuízo de sentido, repare que nos últimos exemplos o uso da meia-risca é especialmente útil, pois o nome Tamu-ra possui hífen na composição e números negativos (-1) geralmente usam o hífen como sinal, assim, usar o meio-traço pode evitar confusões.

Já o hífen possui mais algumas funções. É o sinal usado na separação silábica e translineação (quando uma palavra não cabe inteira na mesma linha e o restante da palavra fica na linha seguinte), em palavras compostas e colocação pronominal (mesóclise e ênclise).

  • Tor-men-ta (separação silábica)
  • Tor-
    menta (translineação)
  • Centopeia-dragão; urso-coruja, lobo-das-cavernas (palavras compostas)
  • Ver-me-ia (mesóclise) e veria-me (ênclise).

É importante ainda lembrarmos de algumas regras referentes às palavras compostas, que muitas vezes são motivo de confusão.

O hífen é usado em substantivos compostos que não possuem ligação e formam um termo de significado próprio; que sejam iniciados por grã e grão; nomes de plantas e animais (e monstros); com advérbios mal e bem; com além, aquém, recém:

  • Matéria-prima, arco-íris, ano-luz, guarda-chuva, quarta-feira;
  • Grã-mestra,  grão-mestre;
  • Bem-te-vi, erva-doce, centopeia-dragão;
  • Bem-humorado, mal-estar;
  • Recém-nascido, além-mar.

No caso dos prefixos bem e mal, é preciso observar o sentido, por exemplo:

  • O grupo foi bem-sucedido na missão. (O grupo teve sucesso na missão.)
  • O cargo de grão-mestre foi bem sucedido. (O cargo teve um bom sucessor.)
  • O cavaleiro foi bem educado pela ordem. (O modo como foi educado, “bem” é um advérbio.)
  • O cavaleiro era bem-educado. (“Bem-educado” qualifica o cavaleiro, é um adjetivo.)

Em palavras com outros prefixos as regras são mais simples. Usa-se hífen em palavras compostas quando a última letra da primeira palavra e a primeira letra da segunda palavra são iguais:

  • micro-organismo;
  • contra-ataque;
  • extra-alcance;
  • sobre-erguer;
  • anti-inflamatório.

Quando a segunda palavra começa com H:

  • micro-habitat;
  • contra-hegemonia;
  • extra-hospitalar;
  • sobre-humano;
  • anti-histamínico.

Nos casos em que a última letra da primeira palavra e a primeira letra da segunda palavra são diferentes, não se usa hífen, porém se a segunda palavra começa por R ou S, a consoante é duplicada:

  • microssistema, microrregião, microcosmo;
  • contrassenso, contrarreforma, contraproposta;
  • extrassensorial, extrarregional, extraordinário;
  • sobressair, sobrerrepresentação, sobreposição;
  • antissocial, antirreflexo, antiderrapante.

Há os casos específicos, sob- e sub-, que usa hífen quando a segunda palavra começa com B, H ou R:

  • sub-base;
  • sub-humano;
  • sob-roda.

O caso do prefixo co-, que só utiliza hífen se a segunda palavra começa por H:

  • cooperar;
  • coordenação;
  • co-habitação.

O caso dos prefixos tônicos pós-, pró-, pré-:

  • pós-vida;
  • pré-venda;
  • pró-arte.

Mas quando o prefixo é átono (pos-, pro-, pre-), não se usa hífen:

  • posposição;
  • proativo;
  • preconceito.

Os prefixos ex- e vice- sempre usam hífen:

  • ex-governante;
  • vice-rei.

Por fim, a maioria das locuções não usa mais hífen:

  • dia a dia;
  • fim de semana;
  • cão de guarda;
  • café com leite…

Com as seguintes exceções, já consagradas pelo uso:

  • água-de-colônia;
  • arco-da-velha;
  • cor-de-rosa;
  • mais-que-perfeito;
  • pé-de-meia;
  • ao deus-dará;
  • à queima-roupa.

Para quem quiser saber as regras para o travessão, citado no início do texto, é só clicar aqui.

Por hoje é isso, caros aventureiros! Espero que tenham gostado e até a próxima!

Escolinha de Tanna-Toh — Verbo Haver

crase

Olá, caríssimos artonianos! Acomodem-se em seus lugares na Escolinha de Tanna-Toh, e venham comigo sanar dúvidas mais traiçoeiras que devotos de Sszzaas, pois hoje o tema é o verbo haver!

Este verbo vem do latim habere, é usado principalmente com o sentido de ocorrer, ter ou existir e é um verbo irregular, o que significa que sua conjugação é diferente para cada pessoa do discurso (no presente do indicativo, por exemplo: eu hei, tu hás, ele há, nós havemos, vós haveis, eles hão), além disso, em alguns tempos verbais o radical (a raiz da palavra) muda de “hav-” para “houv-” (havia – houve); e em outros ainda muda para “haj-” (haja).

Claro que isso por si só já seria suficiente para confundir a cabeça da maioria das pessoas, mas a grande questão aqui é que na maioria das vezes em que usamos o verbo haver em uma frase ele é um verbo impessoal.

É o quê?

Isso mesmo, como eu já disse, a maioria das vezes em que usamos o verbo haver em uma frase, ele tem o sentido de ocorrer, ter ou existir (e de alguns outros verbos, como veremos), e nesses casos ele se torna impessoal. Na prática, isso significa que ele não tem sujeito e por isso não será conjugado como os outros verbos, mas ficará sempre na 3ª pessoa do singular (ele).

Vejamos alguns exemplos:

  •  Havia muitos furtos naquela cidade antes da nova capitã da guarda chegar. (ocorreram ou aconteceram)
  •  — Cuidado, aventureiros! Há perigos à espreita em todos os lugares de Arton. (existem)
  •  Naquela época, houve muitas emboscadas na estrada. (ocorreram ou aconteceram)
  •  — Estivemos na cidade há apenas três dias e nossas poções já acabaram! (faz)
  •  — Quando houver oportunidade use sua magia no chefe deles. (tiver)
  •  Havia muitas pessoas no festival de Lena. (estavam presentes ou tinha)

O verbo haver ainda pode atuar como verbo auxiliar, e nesse caso será conjugado normalmente:

  •  O clérigo já havia iniciado a cerimônia.
  •  — Eu havia avisado, senhora, mas não quiseram escutar.
  •  As pessoas haviam dito que aquele guerreiro era invencível.
  •  — Pensávamos que havíamos fugido, mas o monstro nos encontrou.

No entanto, se estiver acompanhado de outro verbo e o verbo haver for o verbo principal, ambos devem ficar na 3ª pessoa do singular (ele):

  •  — Deve haver uma saída deste labirinto!
  •  — Se quiserem terminar o ritual, estejam avisados: pode haver complicações.
  •  — Deve haver uma solução razoável para o problema, caro guarda.

Fora isso, há ainda duas questões que causam dúvidas (ou problemas) nos textos com certa frequência.

A primeira delas é a diferenciação entre “haver” e “a ver”. O verbo haver já foi explicado acima, então resta a explicação de “a ver”. Essa expressão tem o mesmo significado de “estar relacionado” ou que “diz respeito a alguma coisa”. Vejamos alguns exemplos:

  •  — Vou pintar minha armadura de uma cor que tenha mais a ver comigo.
  •  — Querem me prender por quê? Eu não tenho nada a ver com magia!
  •  O elfo andava meio curvado e estava maltrapilho. Não tinha nada a ver com a antiga glória élfica.
  •  — Aquele qareen tem tudo a ver comigo — disse o bardo cheio de malícia.

A segunda questão está relacionada com uma expressão muito comum para começar histórias: “Há muito tempo”. Quando falamos de tempo passado podemos dizer “há muito tempo” ou “muito tempo atrás”. Dizer “há muito tempo atrás” é redundante. Claro que se pode pensar que é uma forma de reforçar a ideia, mas é deselegante. Se houver necessidade de reforçar quanto tempo se passou, existem outras formas. Aqui vão algumas delas:

  •  Há muito, muito tempo…
  •  Há muitíssimo tempo…
  •  Muito tempo atrás, quando o Panteão ainda era jovem… (neste exemplo cabem diversos tipos de comparação, basta escolher algo condizente com o que está escrevendo).

Por hoje é isso, caríssimos artonianos. Espero que tenham gostado e até a próxima!

Escolinha de Tanna-Toh — Crase

crase

Sejam mais uma vez bem-vindos à Escolinha de Tanna-Toh, intrépidos aventureiros de Arton! Hoje lidaremos com uma adversária que engana mais do que clérigos de Hyninn, que é mais poderosa do que dragão vermelho e mais assustadora do que as criaturas sombrias de Aslothia, mas não o suficiente para espantar os devotos da Deusa do Conhecimento! Vamos falar da famosa e temida crase!

O que é a crase?

Em termos simples, a crase é a contração de duas vogais iguais (a + a), a ocorrência mais comum é a de preposição (a) e artigo definido feminino (a), e é representada pelo acento grave (à).

Ocorre antes de palavras femininas em situações que exijam o uso tanto da preposição quanto do artigo definido:

  • Implorou à clériga por cura.

Veja que o verbo implorar exige preposição: quem implora, implora a alguém, no caso, a clériga. Então implora (a + a) à clériga.

  • Os novos estudantes chegaram à Academia Arcana.
  • Os aventureiros sobreviveram à viagem.

Repare que, nos três exemplos acima, se você substituir o termo feminino por um termo masculino a junção a + a, se tornaria a junção a + o: “implorou ao clérigo”; “chegaram ao templo”; “sobreviveram ao desafio”. Então, uma boa dica para quando estiver com dúvida se ocorre crase ou não, é trocar o termo feminino por um termo masculino.

A crase ocorre também obrigatoriamente em diversas expressões: à noite, à tarde, às vezes, à toa, à deriva, à vista, etc. É importante notar que nenhuma dessas expressões é formada por termos masculinos.

  • Criaturas sombrias caçam à noite.
  • A embarcação estava à deriva no Mar Negro.
  • Encontros aleatórios podem ser desastrosos às vezes.

(Curiosamente, não falamos “à manhã”, mas sim, “pela manhã”, pois a preposição exigida é outra (por), então temos a junção “por + a”, formando “pela”).

Em alguns casos, pode ocorrer a crase antes de um substantivo masculino, mas somente quando houver uma expressão subentendida, à moda de, à maneira de:

  • Foi um jantar à Rei Thormy. (Um jantar à maneira do Rei Thormy).
  • Foi uma festa à Tex Scorpion Mako. (Uma festa à moda de Tex Scorpion Mako).

A crase é usada para determinar clareza em algumas situações:

  • Foi lavar a mão no rio. (Fazer a limpeza da mão).
  • Foi lavar à mão suas roupas. (Lavar com as próprias mãos).
  • Colocou à venda sua antiga armadura. (Está vendendo a armadura).
  • Colocou a venda nos olhos do aprendiz. (Tampou a visão do aprendiz).

Também usamos crase para especificar horários:

  • O grupo sempre levantava às seis horas.
  • A reunião será às três horas.
  • Chegarão à meia-noite.

No entanto, se outra preposição for usada, não ocorre crase:

  • Estavam acordados desde as seis horas.
  • A reunião estava marcada para as três da tarde.
  • A cerimônia seria após a meia-noite.

Há também as situações em que não usamos crase. Não ocorre antes de substantivos masculinos (salvo a exceção explicada):

  • Andaram a pé da cidade até o rio.
  • Foram a cavalo porque tinham pressa.

Também não ocorre antes de verbos:

  • Estava aprendendo a lutar sem armas.
  • O bardo não chegou a cantar naquela noite.
  • O dragão não estava disposto a escutar.

Expressões de palavras repetidas, independente do gênero:

  • Seu dia a dia era na estrada.
  • Ficaram lado a lado durante o combate.
  • Precisavam resolver a situação cara a cara.

No geral, para saber quando usar a crase, outra dica muito útil é entender qual é o sentido da frase. No primeiro exemplo do texto (Implorou à clériga por cura), se não usarmos a crase, a frase muda de sentido: “Implorou a clériga por cura” é o mesmo que “A clériga implorou por cura”. Enquanto outras frases ficam completamente sem sentido: “Criaturas sombrias caçam a noite”, não é possível caçar a noite em si, apenas caçar durante a noite, portanto à noite.

Por hoje é isso, espero ter ajudado a entender um pouco melhor essa regra que aterroriza(va) as mentes e corações de tantos de nós. Obrigado por ter lido até aqui e até a próxima!

Escolinha de Tanna-Toh — Termos que confundem

crase

Olá, artonianos! Sejam todos bem-vindos à Escolinha de Tanna-Toh! Hoje trago para vocês um assunto que causa dúvidas recorrentes mesmo em quem está muito acostumado a escrever, mesmo profissionalmente. Vamos falar de palavras e expressões que confundem por serem muito parecidas ou que são faladas da mesma forma.

Esse e Este

Esses dois pronomes demonstrativos causam muita confusão na hora de escrever, mas o uso dessas duas palavras é diferenciado em três instâncias: tempo, espaço e discurso.

Quando usar “esse”:

  • Tempo: quando a pessoa ou o objeto de que se fala está no passado ou no futuro em relação à pessoa que fala.
  • Espaço: quando a pessoa ou objeto de que se fala está longe da pessoa que fala, mas perto da pessoa com quem se fala.
  • Discurso: quando se fala de algo que já foi mencionado no discurso.

Vejam os exemplos:

  • Essa aventura será muito difícil. (tempo)
  • Esse foi o ano em que mais joguei RPG. (tempo)
  • — Essa aí é a sua espada nova? (espaço)
  • Cuidado! Você vai ativar essa armadilha aí! (espaço)
  • Descobrir quem roubou os ingredientes da bruxa. Essa é a missão. (discurso)
  • Esse poder já foi explicado. (discurso)

Quando usar “este”:

  • Tempo: quando a pessoa ou objeto de que se fala está no tempo presente em relação à pessoa que fala.
  • Espaço: quando a pessoa ou objeto de que se fala está perto da pessoa que fala.
  • Discurso: quando se fala de algo que vai ser mencionado no discurso.

Vejam os exemplos:

  • Esta é a melhor época para aprender e jogar RPG. (tempo)
  • Eu continuo sustentando a magia durante mais esta rodada. (tempo)
  • — Será esta aqui a joia que estamos procurando? (espaço)
  • Por pouco eu não ativei esta armadilha aqui! (espaço)
  • A missão é esta: descobrir quem roubou os ingredientes da bruxa. (discurso)
  • Este poder é explicado adiante. (discurso)

Há ainda um terceiro pronome demonstrativo que merece ser mencionado aqui: aquele. Esse pronome tem regras mais simples do que os outros dois, sendo usado em duas situações: quando a pessoa ou objeto de que se fala está longe de quem fala e de com quem se fala, e quando se fala de um passado distante.

Vejam os exemplos:

  • Aquela cidade, lá em cima, é Vectora. (espaço)
  • Dizem que aquela montanha é parte do território do dragão. (espaço)
  • Aquele foi o ano em que Thwor capturou a princesa elfa. (tempo)
  • Aquela época, antes da Tormenta, foi muito feliz. (tempo)

Embora Este e Esse sejam termos que pertencem à mesma classe gramatical, existem muitas outras palavras e expressões que são escritas e/ou faladas de maneira igual ou muito parecida e são coisas bastante diferentes. Aqui vou mostrar apenas alguns que são mais frequentes de acordo com a minha experiência, mas sei que existem vários outros termos assim.

A fim e Afim

“A fim de” é uma expressão bem popular e usada para indicar que há interesse em algo (ou alguém), pode ser lida como “com a finalidade de” e também é utilizada para indicar finalidade ou intenção.

  • Não estou a fim de entrar em uma área de Tormenta… (interesse)
  • O grupo aceitou a missão a fim de conseguir a recompensa. (finalidade).

Já a palavra “afim”, indica aquilo que tem semelhança ou afinidade.

  • Khalmyr e Lin-Wu representam ideais afins.
  • — Se você quer acesso a livros e afins, é melhor procurar um templo de Tanna-Toh.

Embaixo e em baixo

“Embaixo” indica posição inferior.

  • Doherimm fica embaixo do Reinado, nos subterrâneos.
  • A dragoa prendeu o ladino embaixo da pata.

“Em baixo” é uma expressão formada por uma preposição (em) e um adjetivo (baixo).

  • Os rascunhos do bardo tinham vários trechos em baixo calão.
  • O ladino tentou falar em baixo volume para não acordar a dragoa.

Viagem e viajem

“Viagem”, com a letra G, é um substantivo, ou seja, é um nome.

  • A viagem até Valkaria foi tranquila.
  • Os aventureiros fizeram uma longa e perigosa viagem.

“Viajem”, com a letra J, é uma forma do verbo “viajar”, ou seja, é uma conjugação verbal.

  • — Espero que vocês viajem logo!
  • Que eles viajem com segurança.

Trás e Traz

Aqui, temos um caso parecido com o anterior. “Trás”, com acento agudo e S, é um advérbio, indica um lugar ou posição, a parte de trás.

  • O bandido saiu de trás da porta.
  • Eles guardaram o tesouro na parte de trás da carroça.

“Traz”, sem acento e com a letra Z, é uma forma do verbo trazer.

  • O inventor sempre traz suas engenhocas na mochila.
  • A druida sempre traz seu companheiro animal até o lago.

Sei que há outras palavras e termos que causam esse mesmo tipo de confusão por aí, como o famoso trio “a – há – à”, mas esse fica para outra conversa. Espero que tenham gostado do conteúdo e até mês que vem!

Escolinha de Tanna-Toh — Sinais Gráficos

crase

Olá, artonianos! Sejam mais uma vez bem-vindos à Escolinha de Tanna-Toh! Aproveitando o embalo do mês passado, este mês decidi explorar um tema relacionado àquele, mas que também é causador de muitas dúvidas para quem deseja produzir materiais para a IniciativaT20. Hoje vamos falar dos usos de alguns sinais gráficos.

Reticências

As reticências (os famigerados três pontinhos) são um sinal gráfico que, por incrível que pareça, não são três pontinhos, mas sim um sinal único, tal como o hífen ou o travessão. São usadas em diversas situações indicando suspensões, interrupções, ações inacabadas, hesitação, dúvida etc. Veja alguns exemplos:

  • Talvez ele devesse ir embora porque… (suspensão)
  • O vento soprava… (ação inacabada)
  • E-eu… não tenho certeza… (hesitação)
  • Mas talvez você não devesse… (dúvida)

Esses não são os únicos usos das reticências, ainda há outros casos em que elas seriam corretamente aplicadas, como em situações que indiquem ironia ou mesmo tristeza. No entanto, o que mais vejo causar dúvida no uso das reticências é o uso de  maiúsculas e minúsculas após a ocorrência das reticências. A boa notícia é que isso não é um bicho de sete cabeças.

Se a frase antes das reticências concluir a ideia, depois das reticências a primeira palavra vai ser com inicial maiúscula. Se a frase antes das reticências não concluir a ideia, a primeira palavra depois das reticências vai ter sua inicial minúscula.

  • O inimigo fugiu… O que vamos fazer?
  • O dragão está acordando… É melhor fugirmos logo!
  • Acontece que… não sei se minha magia funcionará neste caso.
  • Esta quantia… não é suficiente para pagar pela armadura.

Aspas duplas e aspas simples

As aspas duplas são usadas em algumas ocasiões. Citações e transcrições são os casos mais comuns, mas também podem ser usadas para marcar ironia ou simplesmente destacar um termo na frase. No livro básico Tormenta20, as aspas duplas também são usadas para citar um tópico específico dentro do livro.

  • “— Eu vejo tudo. É você que está cega.” — Azgher em O Inimigo do mundo. (citação)
  • “A magia é uma força poderosa e muito presente em Arton.” (transcrição)
  • — Que “ótimo” plano, invadir o covil de um dragão vermelho! (ironia)
  • Mago não é um caminho “melhor” do que bruxo, apenas são propostas diferentes. (termo destacado)
  • Veja em “Como mestrar”, na página 228.

Já as aspas simples têm um uso mais… bem, simples. Elas são usadas quando há necessidade de usar aspas em um trecho dentro de aspas.

“Não há personagem ‘melhor’, não há raça ou classe mais forte.” Tormenta20, página 12.

Travessão

O travessão pode ser usado em três situações: para indicar o discurso direto, para separar orações intercaladas e para realçar uma informação na frase.

O travessão indica o discurso direto das falas de personagens em textos literários, sendo usado para indicar o início da fala e para separar a mudança da fala para o narrador. (Este é o padrão no Brasil, em alguns países é comum o uso de aspas duplas para marcar frases de diálogos. Não é proibido usar as aspas duplas assim, mas também não é recomendado.)

  • — De onde você vem, cavaleiro? (fala)
  • — De onde você vem, cavaleiro? — perguntou o guarda no portão. (fala seguida de narração)

Uma dica importante, quando a fala é seguida de narração, alguns padrões são seguidos em livros no Brasil. Quando a narração em seguida da fala descreve como a fala foi feita, a narração é iniciada em letra minúscula, quando isso ocorre, a narração é iniciada por aquilo que chamamos de verbos dicendi: dizer, falar, perguntar, gritar, bradar etc. Repare que isso ocorre mesmo que a frase termine com alguma pontuação, como uma exclamação ou interrogação, e na ausência dessas pontuações, o ponto final virá depois da frase do narrador.

  • — Você é um covarde! — gritou o mago.
  • — Eu prometi para eles… — choramingou o menino.
  • — A clériga está vindo — anunciou o guarda.

No entanto, se a narração não descreve como a fala foi feita, a frase do narrador será iniciada em letra maiúscula, e o ponto final da fala fica antes do travessão que separa a fala da narração.

  • — Eu estou cansado e com sede. — Ergueu o copo e bebeu.
  • — Vamos andando. — Pegou a bolsa de moedas e saiu.

Em algumas falas, há a interrupção feita pelo narrador no meio da frase, geralmente essa narração é inserida em algum trecho da frase onde há a necessidade do uso da vírgula. A vírgula, por sua vez, é inserida após o travessão que separa o fim da frase narrativa da frase de fala.

  • — Fiquei preocupado com você — respondeu com calma —, mas depois entendi o que aconteceu.
  • — Arsenal é um Deus Maior hoje — explicou o clérigo —, mas já foi um mortal, assim como eu e você.

O travessão pode também ser usado para intercalar orações dentro da mesma frase.

  • Alguns — obviamente, os nobres — recebem mais proteção em suas fortalezas do que os plebeus em suas casas.

Também é usado para destacar uma informação na frase.

  • Sem nenhum outro empecilho, o mago finalmente concluiu seu objetivo — executar o ritual para se tornar um lich.

Antes de finalizar, dois recados muito importantes.

Primeiro, se no seu texto, as falas dos personagens são marcadas por travessão, não use o travessão dentro da fala para destacar um informação, por qualquer razão que seja, pois isso vai confundir seus leitores. Prefira usar aspas ou parênteses. Já em trechos de narração pura, fique à vontade para dar destaque como achar melhor.

Segundo, alguns dos caracteres que citei neste texto precisam de comandos específicos para serem inseridos. O comando do caractere de reticências no Word é CTRL + ALT + ponto final, este comando não funciona em alguns editores de texto (como o Google Drive). O comando para inserir travessão é CRTL + 0151 (no teclado numérico). Em qualquer caso, você ainda tem a opção de abrir a tabela de símbolos com o comando tecla windows + ponto final, onde constam diversos símbolos que podem ser úteis em alguns casos.

Espero que tenham gostado e até o próximo mês!

Escolinha de Tanna-Toh — Padronização

crase

Olá novamente, bravos aventureiros de Arton! Aproveitaram os festivais para recuperar os PV e os PM? Eu espero que sim, pois é hora de buscar novos conhecimentos e acumular mais experiência. O tema escolhido para o texto deste mês é algo de grande importância ao produzir um livro ou suplemento de RPG, a padronização.

Porque padronizar

A padronização é um recurso organizador do livro, e na fase de produção, serve justamente para ajudar os profissionais que produzem o livro ou texto a, bem, produzir e escrever o livro. Uso de determinados termos no lugar de outros, símbolos e caracteres específicos, uso de caixa alta ou caixa baixa (como são chamadas as letras maiúsculas e minúsculas no mercado editorial), a forma de escrever números e em quais contextos aplicá-las.

Fora tudo isso, um material que tenha uma boa padronização vai oferecer uma leitura muito mais suave e fácil, conduzindo o leitor com segurança pelas páginas do livro. E tudo isso se torna ainda mais importante na hora de produzir suplementos e outros materiais de RPG que, em geral, são recheados de tabelas, listas e outros termos e numerações que podem confundir as pessoas que estão começando no hobby.

O próprio manual básico Tormenta20 tem uma padronização bem clara e organizada para diversos termos, indo da escrita dos nomes das raças básicas até os padrões numéricos. E como o intuito desta coluna é fornecer dicas para quem quer produzir para a IniciativaT20, eu elaborei uma pequena lista que pode ajudar quem tem dúvidas sobre como organizar o próprio material.

Respeite os padrões do manual básico

Em sistemas D20 existem muitas regras, e em Tormenta20 não é diferente. Ainda assim, por mais próximas que as estruturas de alguns sistemas possam ser, sempre vai haver particularidades de cada um. Os desenvolvedores do jogo escolheram determinados termos para escrever as regras e os mantiveram em todo o livro, sendo assim não é uma boa ideia mudar a nomenclatura de regras em um suplemento.

Então não escreva Pontos de Armadura quando estiver escrevendo sobre Defesa, não use pontos de ferimento no lugar de pontos de dano, as siglas PV e PM não flexionam para o plural, então não escreva PVs e PMs, nem use dedução de dano quando quiser se referir a resistência a dano.

Nomes de raças

Tormenta é um universo rico e diverso, por isso raças exóticas existem aos montes e muitas delas têm formas diferentes na escrita, enquanto algumas flexionam tanto em gênero quanto em número, outras não flexionam nunca. Vejam esses exemplos:

Humano flexiona tanto em gênero: humano ou humana; quanto em número: humanos ou humanas. A mesma regra se aplica para diversas outras raças: anão, anã, anões; elfo, elfa, elfos.

Dahllan, qareen, hynne e osteon, por outro lado, não flexionam nunca, nem em gênero, nem em número: os qareen, as dahllan, a osteon, os hynne.

Em materiais que apresentem novas raças, as escolhas sobre os nomes cabe a quem está produzindo, e é importante manter o padrão escolhido do início ao fim do material.

Numeração

Em termos de regras, o manual básico sempre usa números e os símbolos adequados para cada situação, assim bônus e penalidades, em geral, são descritos da seguinte forma:

+2 na Defesa;

–3 nos testes de ataque;

+2d8 pontos de dano.

Em descrições, de maneira geral, os números são escritos por extenso quando são palavras curtas:

Estrela negra de cinco pontas.

Vinte deuses.

E quando a palavra é muito grande, como quatrocentos, por exemplo, normalmente aparece na forma numérica:

“Sua fundação data de 400 anos atrás…”

Uso de caixa alta e caixa baixa (maiúsculas e minúsculas)

Neste ponto, segue a regra geral: início de frases e nomes próprios. Porém é importante atentar para alguns títulos que, por padrão, são escritos com iniciais maiúsculas:

Arsenal, Deus da Guerra;

Hippion, Deus Menor dos Cavalos;

Rainha-Imperatriz Shivara;

Aslothia, o Reino dos Mortos.

Uso de itálico nas palavras

Em termos de regras, além de ser usada nas fichas na linha do tipo e tamanho das criaturas, a configuração da fonte em itálico é usada para escrever nomes de magias e itens mágicos. Nos textos descritivos, esta configuração é usada apenas quando há necessidade de enfatizar alguma palavra no texto, e é importante prestar atenção para não usar em excesso e banalizar aquilo que se queria enfatizar.

Separe as descrições das regras da maneira mais clara possível

De modo geral, tanto para itens mundanos quanto para itens mágicos, o manual básico separa de duas formas. A primeira forma são as tabelas que mostram as estatísticas em regras dos itens. A segunda forma é na descrição em si, que separa de maneira clara os termos interpretativos dos efeitos em regras:

Cimitarra.  Espada com a lâmina curva e muito afiada. A cimitarra é uma arma ágil.

Elétrica. Uma arma elétrica causa +1d6 de dano de eletricidade. Uma arma elétrica emite faíscas e é coberta de arcos voltaicos.

Eu sei que tudo isso parece muito trabalhoso, e é mesmo. Mas saiba que você só tem a ganhar por produzir seus materiais da melhor forma possível. E os seus leitores também.

Escolinha de Tanna-Toh — Queísmo

crase

Olá, artonianos, sejam novamente bem-vindos à Escolinha de Tanna-Toh! Neste mês vamos tratar de um assunto um tanto diferente, sendo motivo de terror para muitas pessoas, tanto para quem lê quanto para quem escreve: o famigerado Queísmo!

Mas o que é isso?

Queísmo nada mais é do que o uso excessivo do termo “que”. Simples, não?

Conceitualmente sim, mas a sua ocorrência pode prejudicar fortemente textos que, sem a sua presença, poderiam ser muito melhores e fluidos. Isso acontece porque palavras que se repetem muito ou que possuem sons que se parecem, podem dar a entender que quem escreveu é alguém que possui um vício de linguagem ou alguém que possui um vocabulário que é fraco.

Percebeu?

Vamos de novo: Isso acontece porque palavras usadas repetidamente, ou de sonoridade semelhante, podem dar a entender que o escritor está com um vício de linguagem ou possui pouco vocabulário.

Veja que, na primeira explicação, eu usei o termo “que” sete vezes, e na segunda, apenas uma, deixando o trecho muito mais fluido e simples de ler. O Queísmo é um fenômeno bastante comum porque o termo “que” pode exercer diversas funções gramaticais dentro de uma frase, funcionando como substantivo, pronome, conjunção e até mesmo como preposição.

Assim, é importante sabermos como substituir esse termo quando, por distração ou cansaço, o usamos em excesso. Aqui vão algumas dicas:

Os verbos no infinitivo são seus amigos

A forma infinitiva de um verbo é o seu próprio nome, por exemplo, “haver” é a forma no infinitivo do verbo haver.
A frase: Precisamos tomar cuidado para que não haja desperdício de PM.
Pode ser reescrita como: Precisamos tomar cuidado para não haver desperdício de PM.

Trocar as palavras de lugar é um recurso valioso

Os clérigos de Arsenal querem que mais templos sejam construídos.
Se mudarmos o lugar de “mais templos” para o final da frase, temos:
Os clérigos de Arsenal querem a construção de mais templos.
Importante notar que, ao trocar as palavras de lugar, precisamos prestar atenção às suas formas e quais serão modificadas ou não.

Reduzir frases e orações também elimina os “quês”

Assim que subir de nível, poderá escolher um novo poder.
Ao subir de nível, poderá escolher um novo poder.

O cavaleiro que vestia a capa vermelha fugiu.
O cavaleiro de capa vermelha fugiu.

O recurso de redução de frases não é útil apenas para a eliminação de termos que possam causar ruídos. Escrever frases curtas que transmitam o sentido que se deseja podem ser úteis em diversos casos, desde a simples organização do texto na fase de diagramação, facilitando a organização do espaço na página (especialmente em livros com ilustrações junto ao texto), mas também se você precisa manter o texto dentro de um número máximo de caracteres ou palavras. Lembre-se que a maioria dos editais de escrita impõem um limite máximo de caracteres ou palavras.

Aumente o seu vocabulário

Se você quer (ou precisa) diminuir a repetição de palavras nos seus textos, o melhor caminho é expandir seu vocabulário, e embora exista mais de uma forma de fazer isso, a melhor ainda é a leitura. Leia tanto quanto puder e procure experimentar livros de autores desconhecidos para você. Aqui no site da Jambô, você encontra uma boa disposição de títulos na aba Jambô Curadoria, com livros recomendados por quem entende (muito!) de escrita. Boa pesquisa e boa leitura!

Uma última recomendação: quando tiver terminado seu texto, respire e descanse. Vá fazer outra coisa. Cansado e com a mente ligada no que você acabou de escrever, uma releitura ou revisão imediata pode fazer você deixar de ver erros e ruídos óbvios ou bobos. Descanse e só depois releia seu material, tenho certeza de que você vai perceber nuances e detalhes que haviam passado despercebidos.

Mais dicas de escrita da Escolinha de Tanna-Toh

Gramática
Porques
Vírgula

Escolinha de Tanna-Toh — Uso dos porques

Imagem em Preto e Branco. Na esquerda está o rosto de Talude, olhando para a direita. Na direita, o rosto de Vectorius, olhando para a esquerda.ra direita, está

Feliz Dia do Reencontro, artonianos! É com muita alegria e satisfação que venho trazer o primeiro texto da Escolinha de Tanna-Toh de 2022 e desejar a todos vocês que este seja um ano cheio de novos conhecimentos!

No texto de hoje vamos falar sobre um dos assuntos que mais gera dúvidas e insegurança em nós: as quatro formas dos porquês e seus usos.

Quando usar Por que

“Por que”, separado e sem acento, é usado em dois tipos de frases. O primeiro, e mais visto, ocorre no início de frases interrogativas, como nos exemplos:

Por que Vectorius e Talude são rivais?

Por que os devotos de Lin-Wu não podem mentir?

Nesses casos, o “por que” é o mesmo que “por qual motivo ou razão”:

Por qual motivo Vectorius e Talude são rivais?

Por qual razão os devotos de Lin-Wu não podem mentir?

O segundo tipo ocorre ao estabelecer relação com um termo anterior na frase, sendo chamado de “por que relativo”:

Os motivos por que lutei são apenas meus.

A estrada por que passei é muito boa.

Nesses casos, o “por que” é o mesmo que “pelos quais”, “pela qual”, mas em outros exemplos ainda poderia ser “pelo qual”, “pelas quais”, “por qual” ou “por quais”, conforme a concordância de gênero e número dos termos, veja:

Os motivos pelos quais lutei são apenas meus.

A estrada pela qual passei é muito boa.

Imagem em Preto e Branco. Embaixo está Vectorius, olhando à frente. Acima, olhando para direita, está Talude

Quando usar Porque

“Porque”, junto e sem acento é usado em frases explicativas e em respostas. É uma conjunção causal ou explicativa, que, como diz o nome, serve para apresentar uma causa ou explicação.

Vectorius e Talude são rivais porque eles disputam o título de “Maior Arcanista de Arton”.

Devotos de Lin-Wu não podem mentir porque mentir é um comportamento desonrado.

“Porque” pode ser substituído por outros termos explicativos, como: pois, visto que, uma vez que etc.

Vectorius e Talude são rivais pois eles disputam o título de “Maior Arcanista de Arton”

Devotos de Lin-Wu não podem mentir uma vez que mentir é um comportamento desonrado.

Quando usar Por quê

“Por quê”, separado e com acento, é usado no final de frases, seguido por ponto de interrogação ou ponto final. Seu uso é diferenciado do “por que” (separado e sem acento) de acordo com a posição na frase.

VOCÊ NÃO VENCEU POR QUÊ?

O clérigo gargalhava, mas não conseguia dizer por quê.

“Por quê” pode ser substituído por “por qual motivo” ou “por qual razão”:

VOCÊ NÃO VENCEU POR QUAL MOTIVO?

O clérigo gargalhava, mas não conseguia dizer por qual razão.

Quando usar Porquê

“Porquê”, junto e com acento, é usado como um substantivo, geralmente acompanhado de um artigo definido ou indefinido (o/os ou um/uns).

Nem Klunc sabe o porquê de gostar tanto de presunto.

Glórienn deixou o Panteão sem que os artonianos soubessem os porquês.

“Porquê” pode ser substituído por “motivo”ou “razão”:

Nem Klunc sabe o motivo de gostar tanto de presunto.

Glórienn deixou o Panteão sem que os artonianos soubessem as razões.

Lembrem-se de que os porquês têm funções que são usadas em situações diversas e que a melhor dica para saber qual das quatro formas você deve usar é pensar no sentido que a sua frase carrega. Seja para fazer uma pergunta, ou para dar uma explicação, a forma a ser utilizada deve ajudar a construir esse sentido.


Mais dicas de escrita da Escolinha de Tannah-Toh

Gramática
Vírgula