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Bençãos da Deusa — Minha Retrospectiva RPGística Parte 1: O que rolou em 2020

Retrospectiva RPGística

2020 foi um ano atípico para todo mundo, e pra mim não foi diferente. Meu trabalho virou homeoffice, fiquei de quarentena desde a metade de março, sem ir nem ao supermercado, pois sou grupo de risco. Definitivamente não foi um bom ano de forma geral. Mas foi um ano de muito RPG, MUITO MESMO! Nunca joguei tanto na minha vida, e acho que nunca joguei tantos RPGs diferentes também. Presa em casa, o RPG me ajudou a passar o tempo e a encarar esse período de aflições e insegurança, e vou fazer com vocês uma retrospectiva RPGística desse ano louco.

Janeiro e Fevereiro

As coisas ainda estavam relativamente normais. Aqui em casa, acompanhávamos as notícias de outros países e sabíamos que chegaria aqui. Álcool gel já fazia parte da nossa rotina quando o primeiro infectado foi anunciado. Estava jogando Deadlands e 13ª Era, além do grupo fixo de Tormenta RPG – A Libertação de Valkaria. Chegamos a impedir que uma amiga que voltava da Europa viesse jogar presencialmente em casa. 

Março e Abril

As mesas presenciais viraram todas mesas online. Também recebi o convite do Thiago Rosa para uma mesa de Tormenta Alpha, que obviamente aceitei. O que era para ser uma mesa pessoal, entre amigos, se tornou uma stream semanal no canal da Jambô Editora na Twitch. Joias para Lamashtu se tornou um dos grandes incentivos na minha vida: a mesa incrível composta por Carine Ribeiro, Glauco Lessa, Rafael Pelluso, além de mim e do Thiago, cativou uma galera fiel, toda semana presente nas stream – e fora dela: rendeu ainda a “Guilda dos Fanfiqueiros de Joias”. Era o primeiro aviso de que o RPG começaria a tomar conta de minha vida como nunca antes.

Maio

Depois de assistir uma live com Felipe Della Corte e Thiago falando da Jornada Heroica – que até então eu não estava dando muita bola – entrei em um hype gigantesco. Assim, descobri a Organização Secreta no discord, na época não tão cheia e um espaço delicioso para… hypar. Foi um espaço importante de debate, troca de ideias, enfim. Era o ambiente que eu precisava. Para fechar o mês com chave de ouro, dia 29 saiu a primeira versão final do Tormenta 20. Foi o que me fez sair de dois meses de letargia e “pôr a mão na massa”.

Junho

Já no dia 1º de junho eu jogava minha primeira mesa de Tormenta 20. Eu e um grupo de malucos, liderados pelo Daniel Duran, que topou adaptar “Dia de Tormenta” pro recém saído T20, nos aventuramos neste sistema até então desconhecido. A one-shot virou uma “quadri-shot” e nos divertimos demais conhecendo o sistema juntos. Também acabei organizando um mini evento de aniversário do servidor na mesma semana, e mestrei Tormenta 20 também. Foi o mês em que comecei o meu próprio canal na Twitch, para falar de RPG e afins. Também tive a felicidade de jogar uma one-shot de Sakura Card Captors pra 3d&T que foi resolvida com uma festa ao invés de combate: foi incrível! Finalzinho do mês também criamos um grupo para jogar Apocalipse World, que eu até então desconhecia. Mas os jogos só começaram em julho….

O segundo semestre de 2020 foi ainda mais insano, mas isso eu conto pra vocês no mês que vem. Que vocês tenham um 2021 recheado de RPG, assim como foi o meu 2020, e até janeiro!

Mestrar RPG: Ideias comuns que não são bem verdades

mestrar rpg

A função de mestrar RPG é vista como uma das mais centrais no hobby. Em particular, a ideia do “bom mestre” de RPG tem um aspecto quase lendário – algo que todo grupo de amigos querendo jogar RPG busca e um título muito almejado.

Porém, o RPG não depende de “bons mestres”. Imagina o quão limitado seria um jogo que você só pudesse jogar com alguém que é muito bom nele? Um “bom mestre” em um grupo com má vontade nada pode fazer. Aliás, é exatamente por isso que o RPG funciona tão bem: ele não depende de uma pessoa para que seja divertido e emocionante, e sim da colaboração de todos no grupo.

Já falamos aqui sobre como é fácil começar a mestrar RPG, mas ainda assim alguns mestres sentem que precisam desenvolver habilidades para serem “bem sucedidos”. Não há nada de errado em querer melhorar em uma atividade que gostamos de fazer. Mas também isso não significa que lhe falta algo ou que você seja “ruim”.

Esse sentimento normalmente é produto de algumas crenças que a comunidade tem sobre o papel do mestre e que eu vou tentar desconstruir nesse artigo.

O mestre é responsável pela diversão do grupo

A atribuição mais difundida sobre o papel do mestre de RPG é, também, uma das mais absurdas: “O mestre é responsável pela diversão dos jogadores”. Isso significa que, se um grupo de 4 a 6 pessoas joga uma sessão de RPG de cerca de 4 horas que não é divertida, então a culpa é somente de uma pessoa — do mestre. Isso também dá a ideia de um papel mais “servil”: o mestre joga RPG para entreter os jogadores. E essa ideia muitas vezes os leva a priorizar a diversão dos outros ao invés da própria.

Não parece injusto?

Primeiramente, diversão é algo difícil de definir. Como saber se uma sessão de jogo foi divertida? Normalmente temos uma resposta circular: “a sessão foi divertida se todos se divertiram”, mas o que isso quer dizer? Para muitos grupos, a sessão foi divertida se houveram momentos em que todos deram risadas ou comemoraram, mas e para jogos com um tom diferente, como drama ou horror? Na prática, cada pessoa tem uma definição diferente do que é divertido — seja derrotar inimigos, investigar mistérios intrincados ou criar relacionamentos com outros personagens.

Além da dificuldade da definição, que varia de pessoa para pessoa, também existem inúmeros fatores fora do controle do mestre que influenciam a diversão. Alguns jogadores podem estar cansados e sem energia para jogar, o grupo pode não estar gostando do sistema do jogo, problemas pessoais podem impedir que um jogador preste atenção, o próprio mestre pode estar com um bloqueio criativo, etc. Às vezes o jogo pode não ser divertido e isso não é culpa de ninguém.

Por fim, devemos lembrar que o mestre também tem coisas que gostaria de ver no jogo. Podem ser personagens que quer interpretar, desafios que deseja ver em cena, etc. Como qualquer outro jogador, ele também joga para se divertir. Portanto, a responsabilidade pela diversão é de todos no grupo: mestre e jogadores devem buscar criar a sua própria diversão, contribuindo para a narrativa, além de facilitar a diversão dos outros integrantes do grupo.

Mestrar RPG é ser o “deus” do mundo do jogo

É muito comum ouvirmos que o “mestre manda”, como se a palavra dele fosse final sobre qualquer assunto e ele não estivesse sujeito às regras. Sob esse ponto de vista, jogadores não poderiam questionar a aplicação de regras e teriam de aceitar qualquer coisa que acontecesse no jogo.

Essa concepção faz sentido, se levarmos em conta que o mestre é o encarregado da aplicação das regras e de narrar como o mundo reage quando um personagem jogador (PJ) faz uma ação, mas será que o mestre tem realmente essa liberdade e poder todo?

Por mais livre que seja o RPG comparado a outros jogos, todos os jogadores, inclusive o mestre, são limitados por diversos elementos, como o gênero do jogo, as regras, o contrato do grupo estabelecido na sessão zero e o que é esperado de cada papel. Em particular, cada jogo define quais são as atribuições do mestre (se houver um) e como devem ser desempenhadas.

No geral, o objetivo do mestre é o de ajudar o grupo a criar uma história interessante com a contribuição de todos na mesa. Não é função do mestre frustrar os jogadores ou impedir os planos dos seus personagens, mas tornar a sua execução mais emocionante. A “autoridade” sobre as regras também varia de jogo para jogo: em Tormenta 20, por exemplo, o grupo inteiro deve concordar com quaisquer mudanças nas regras.

Finalmente, é importante prestarmos atenção em que contexto esse tipo de afirmação aparece. Assumir a postura de “eu sou o mestre, eu mando” para resolver desavenças no grupo nunca é uma saída saudável. Seus jogadores vão apenas se frustrar, o jogo vai deixar de ser divertido ou eles vão parar de jogar com você. Conversar com o grupo e chegar a um consenso é sempre o melhor caminho.

Mestrar RPG é contar uma história para os jogadores

Outra ideia bastante difundida é a de que o mestre conta a história do jogo para os jogadores. Certamente, para quem olha um jogo de RPG de fora, esse parece ser o caso. É o mestre quem está falando na maior parte do tempo, enquanto os jogadores escutam atentamente antes de declarar suas ações, mas tem muito mais acontecendo aí.

Mesmo que o mestre controle todos os outros personagens, os protagonistas do RPG são os PJs. São eles que têm o maior poder de decisão sobre a direção que a história vai tomar e o mestre não pode e nem deve tentar controlar suas ações. Por esse motivo, tentar contar uma história pré-estabelecida para os jogadores no RPG é uma atividade extremamente contraproducente.

Isso não significa que o mestre não pode preparar a aventura. A preparação – tópico que varia muito de mestre para mestre – ajuda a reagir melhor às ações dos PJs e a ter coisas interessantes para narrar, mas ela é uma ferramenta auxiliar, não algo a ser seguido à risca.

É importante ter em mente que a história é um produto da interação do mestre e dos jogadores com as regras do jogo – e não algo que alguém pensou antes como deveria ser. Por isso ignorar regras em prol da “história” não faz sentido: a história é o que está sendo criada ali, naquele momento, abrace ela.

Mestre, nada mais que um jogador

Certamente existem outras ideias nocivas sobre o papel do mestre (que talvez até justifiquem uma segunda parte desse artigo) que fazem a tarefa parecer mais difícil do que ela é, mas essas três são bem populares e costumam ser fontes de insegurança para muitos novatos.

Dito isso, assim como os jogadores, o mestre de RPG tem responsabilidades. Por exemplo, é ele quem equilibra quanto “tempo de tela” cada PJ tem, permitindo que todos tenham uma chance de contribuir para a história. Também é quem dá a base para o tom do jogo, garantindo que a história se mantenha consistente.

Enxergar o papel do mestre apenas como um jogador diferente nos permite encarar a aventura com a leveza necessária para apenas sentar com os amigos e se divertir. Por isso, não perca tempo procurando um “bom mestre” para o seu grupo de amigos: leiam o livro do jogo, decidam quem será o mestre e comecem a viver histórias fantásticas juntos.

*****

Mestrar  RPG é uma tarefa muito mais fácil do que parece, mas algumas crenças sobre isso pode nos deixar bastante inseguros para assumir esse papel. Que dica você daria para alguém que está com dúvidas sobre mestrar?

“Background misterioso”: A preguiça do jogador e a vingança do mestre

background em rpg

A história que vou contar hoje vem com uma lição de moral que TODO jogador de RPG deveria levar para a vida: a importância de criar um background para o seu personagem.

Cadê o backgroud que devia estar aqui?

Eu mesma era muito preguiçosa para criar uma história antes da aventura, um porquê o meu personagem estar ali, suas motivações, passado trágico, medos, amores… Tenho amigos que faziam um verdadeiro conto épico com datas, nomes e árvore genealógica. Um orgulho!

No entanto, tive um amigo que não se preocupava muito com isso e acabou criando o background mais preguiçoso e clichê de todos. Nem preciso resumir, ele era um mago que não se lembrava do seu passado, não tinha pais e havia sido criado por um homem que virou seu mestre. Fim.

O mestre (um daqueles amigos que desenvolve uma história fantástica a cada personagem que joga), sádico como é conhecido, até deu a chance dele criar algo a mais para incrementar o personagem, mas o inocente disse que já estava bom.

Foi com o sorriso do mestre seguido de “Você que sabe” que me fez perceber que o coitado do mago (preguiçoso, mas coitado) seria o alvo da vez.
Vocês já se ferraram muito no RPG? Tipo, tudo de ruim que poderia acontecer, acontecia logo com o seu personagem? Mas não pergunto isso sobre um dia de campanha, ou uma luta/desafio específico. O mago se ferrou a campanha inteira. INTEIRA.

“Não ter um background me dá liberdade para criar o que eu quiser.”

O mago perdeu suas magias, descobriu que seus pais faziam parte de uma organização do mal e que o abandonaram, teve um arco todo de busca ao seu mestre que estava preso numa gruta, em tamanho gigante, sendo comido vivo por vermes e morrendo na frente do nosso amigo ferrado depois de um triste discurso. Esse último foi traumatizante (rindo de nervoso aqui).

Eu morria de dó, claro, mas me divertia a cada expressão de tristeza do mago quando o mestre começava a rir malignamente na rolagem de dados. Teve uma vez que ri muito porque (não lembro o porquê) ele ficou careca, como um cosplay chateadíssimo do Ripp (Ledd). Mas a gozação deu lugar à caridade, e minha paladina de Thyatis (sim, a zumbi) doou parte do seu cabelo para que o companheiro de aventura usasse como peruca.
Ficou ridículo, pelo menos na minha imaginação.

Lição dada, lição aprendida

Apesar dos pesares, o mago fez uma campanha muito boa! Conseguiu se reinventar, criou formas de usar sua magia limitada em situações de perigo e salvou nossas vidas. Por fim, a sua jornada foi a mais épica e acabou sendo o ponto principal da nossa campanha em certo ponto. Mesmo que ele não tivesse se esforçado tanto e preferisse ser apenas um personagem sem grandes histórias que queria se aventurar,. Daria um ótimo livro.

Não joguei novamente com esse amigo depois, mas fiquei sabendo que ele mudou muito e que hoje cria histórias mais consistentes e bem amarradinhas, movido pelo medo de ser torturado novamente.

Não há problema algum em ter um personagem misterioso e com um passado que precise ser um segredo, isso também é background. Meu conselho é que conte pelo menos ao mestre a sua história e deixe que ele te ajude a manter o enredo e enriquecer ainda mais o seu personagem.

Não seja preguiçoso e boa campanha!



Baú Referencial: Muv-Luv Alternative

Os horrores da Invasão Beta para Brigada Ligeira Estelar

Em Brigada Ligeira Estelar, a seção Baú Referencial não traz adaptações de cenário — ele busca, em outros animes, ideias e conceitos aplicáveis à ambientação.

E a franquia Muv-Luv Alternative vive um bom momento em particular para isso: enquanto lá fora foi anunciada uma nova animação para 2021 (Muv-Luv Alternative: The Animation), por aqui temos um de seus derivados sendo exibido em TV aberta: Scharzesmarken, na Rede Brasil.

Tendo em conta as origens do cenário, não deixa de ser surpreendente: tudo nasceu como um mero… eroge (ou seja, um jogo erótico) escolar. Mas conseguiu uma surpreendente migração para o mainstream.

E quem não conhece a série deve estar achando que perdi o juízo.

Como Assim… Eroge?

A primeira série — Muv-Luv Extra — era um simulador de romance escolar aonde o protagonista se envolveria com várias meninas. Contudo, a cada jogo novo, ele pularia para outra linha de tempo alternativa.

No segundo jogo — Muv-Luv Unlimited — ele cairia em um cenário de história alternativa com invasores alienígenas e robôs gigantes. Mas, para surpresa geral, eles chamaram a atenção de um público maior.

Assim, foram feitas versões dos jogos sem cenas de sexo — e veio Muv-Luv Alternative, ambientada nessa linha de tempo nova, tornando-se uma franquia de mecha bem sólida por si só.

Hoje, Muv-Luv Alternative nos traz mangás, light novels, um RPG com dois suplementos até agora, dois animes (Muv-Luv Alternative: Total Eclipse e o citado Schwarzesmarken) — e, claro, videogames.

O Mundo de Muv-Luv Alternative

Uma raça monstruosa — os BETA — foi avistada em Marte em 1958, chegando à Lua em 1967… e à Terra em 1973, sabe-se lá como.

Aparentemente eles não são uma raça inteligente mas, sim, uma espécie de praga cósmica — se multiplicando como formigas e destruindo tudo pelo caminho.

Agora a humanidade está à beira da extinção, dependendo de pilotos de robôs gigantes para tentar virar a mesa. No entanto, a maior ameaça pode não ser os monstros — mas os próprios interesses políticos e militares humanos…

Para piorar, a Guerra Fria não acabou.

Em Total Eclipse, acompanhamos um grupo de pilotos de provas trabalhando para desenvolver um equipamento experimental capaz de mudar os rumos da guerra. Já em Schwarzesmarken, acompanhamos a linha de frente em uma Alemanha Oriental (mal-)escrita como se fosse uma extensão da Alemanha Nazista.

E em Brigada Ligeira Estelar?

Temos duas possibilidades aqui. A primeira, e mais óbvia, é a frente Proscrita.

É presente tanto em Total Eclipse quanto em Schwarzesmarken. Claramente é uma Ficção Científica Militar de tom árido (recomendamos uma olhada aqui e aqui), aonde os personagens podem ter mortes horríveis e golpes de misericórdia podem ser uma bênção.

Uma abordagem funcional é enxergar os Proscritos como se fosse uma força da anti-natureza, existindo apenas para matar e destruir. O suplemento Arquivos do Sabre pode ajudar nesse sentido.

Há referências úteis nesse sentido. Por exemplo, os Zygoteanos do cult A Odisseia da Metamorfose, de Jim Starlin: eles invadem mundos para explorá-los e abandoná-los, deixando-os sem vida.

A Campanha do Lado Sombrio

A segunda possibilidade é uma campanha nos moldes de Scwarzesmarken.

Nela, vocês não são necessariamente maus, mas trabalham para forças sombrias e estão sujeitos à suas intrigas e decisões mal-intencionadas. Por exemplo, imaginem um esquadrão de pilotos novatos da Guarda Regencial de Tarso com o cérebro formatado pelo discurso supremacista local.

Quem sabe, em um “gesto político de boa vontade”, eles sejam cedidos para a frente proscrita.

Mas e se isso na verdade tiver sido feito com o objetivo de encobrir um plano de espionagem e roubo de tecnologia inimiga com as bênçãos do empresariado tarsiano?

Dessa forma, temos tudo: personagens bois-de-piranha, superiores nada confiáveis e a certeza de se estar trabalhando com os vilões e nada poder fazer.

Por último: eu não poderia ser honesto com o material sem abordar esse aspecto…

Seja Sexy!

Apesar do reposicionamento da marca, originalmente Muv-Luv era um eroge e assim, alguns desses elementos se tornaram parte de sua identidade.

Dessa forma, temos o motivo de termos muito mais mulheres do que homens nos esquadrões. Ou dos trajes de pilotos serem colantes e tão… reveladores quanto aos atributos físicos de cada um.

Lembrem-se então: personagens jovens, bonitos e com os hormônios borbulhando são obrigatórios. As tramoias de bastidores se confundem com as tensões sexuais. Jogos narrativos como Monsterhearts podem emprestar ideias para essa dinâmica na mesa de 3D&T.

No entanto isso ainda é uma campanha de robôs, com muitos combates. Não deixem isso se tornar um Eroge na mesa de jogo — mas se vocês preferirem assim, não temos nada a ver com isso e já não é mais assunto nosso…

Até a próxima!

Twitter de Brigada Ligeira Estelar: https://twitter.com/BrigadaEstelar
Blog oficial de Brigada Ligeira Estelar: https://brigadaligeiraestelar.com/

Instagram de Brigada Ligeira Estelar: https://www.instagram.com/brigadaligeiraestelar

A Deusa no Labirinto: Quando a fantasia critica a realidade

a deusa no labirinto

De animais falantes dispostos a livrar uma fazenda do terrível fazendeiro no clássico de George Orwell a um estado escravagista liderado por minotauros em A Deusa no Labirinto, a literatura usa do fantástico para trazer a tona discussões reais. Uma leitura, a princípio por puro entretenimento, pode levar o leitor a repensar a sociedade na qual está inserido e levanta discussões cobertas com magia e ação. 

Ficção e realidade

Ler um livro é sempre uma surpresa. Mesmo quando o gênero é claro, muitas vezes somos surpreendidos por assuntos reais e atuais contados de maneira fantástica, romântica e até mesmo aterrorizante. Utilizar a ficção como uma forma de demonstrar opiniões políticas, críticas sociais ou exemplos de superação é tão comum como beber um copo de dinamite pangaláctica. A referência não é gratuita: O Guia dos Mochileiros das Galáxias, de Douglas Adams, critica de burocracia à religião usando humor non sense para destacar o quanto o mundo e a sociedade da realidade podem ser absurdos.

Não que a literatura não possa ser criada visando apenas o entretenimento. Eu mesmo já escrevi textos guiados a recreação das pessoas. Um livro pode ensinar e divertir, muitas vezes (e aí está a genialidade da coisa) ensinar enquanto diverte. E essa é a marca de uma grande obra de gêneros como ficção científica, terror ou fantasia.

A Deusa no Labirinto: A fantasia com contexto 

A fantasia épica dispõe de mundos fantásticos, com religiões, espécies, raças e problemas criados em um universo concebido na mente do escritor. Em A Deusa no Labirintohttps://blog.jamboeditora.com.br/produto/a-deusa-no-labirinto/, Karen, Soarele transporta discussões globais para dentro de Arton, utilizando elementos de Tormenta para contar um trecho sórdido da humanidade.

A escravidão é um dos assuntos impossíveis de não serem discutidos. Ainda hoje, vemos reflexos claros dessa época cruel e suas consequências, como a violência e a normalização do racismo para os descendentes de humanos escravizados. Não deixar o passado morrer e brigar por igualdade é uma das lutas travadas diariamente por toda uma sociedade refém dos estragos causados por séculos de submissão. 

Não só o povo africano, os indígenas também sofreram sob o domínio dos brancos, e a autora deixa claro a indiferença dos escravistas quanto aos seres dominados, tratando o julgamento taurico por uma questão do forte contra o fraco, do poder contra a fraqueza.

Utilizando o medo, degradação e miséria causados por guerras antigas e a Tormenta, os minotauros usam a desculpa da proteção do exército mais forte do mundo e a cidade mais protegida, bem estruturada e em desenvolvimento constante, para permutar a serventia dos seres artorianos por uma humilhante segurança

“Uma vida de submissão, mas uma vida de segurança”

No livro, uma clériga (a velha conhecida Gwen, de A Joia da Alma) devota de Tanna-Toh, se infiltra em Tiberus, a capital do Reino Tapista e um centro escravagista, com a missão de implodir o Império militar taurico.

A intenção da clériga é objetiva: livrar humanos, elfos e qualquer criatura da tirania bovídea. Apesar de fantástica, a rotina fictícia dos escravos nos leva de volta a tempos tirânicos, remetendo a mente do leitor a vil escravidão.

Chicoteamento, encarceramento, submissão e desprezo são rotinas na cidade protegida por Tauron, o deus da força. Mesmo os escravos mais leais (mães dos filhos do patrono, inclusive) recebem chibatadas mensalmente com o intuito de lembrá-los de onde estão e quem são. Nesse ínterim, Appius, filho de um poderoso senador, se mostra um abolicionista ferrenho, contrariando os dogmas do pai e a base na qual o estado tirânico está apoiado. De uma maneira objetiva, a autora nos mostra os dois lados da moeda e ensina que o lugar de onde você vem não o define. Mesmo uma debaixo de uma carapuça grossa de couro, existe um ser sensível e disposto a ir contra tudo para defender seu ideal.

A fantasia critica a realidade

A autora descreve com maestria as perversidades sofridas por todas as espécies encarceradas, passeando por vários pontos de vista. O livro vai desde os escravos que são tratados de forma especial pelos seus senhores e por isso exercem uma função privilegiada perante os demais (e com um detalhe importante: isso não faz com que esses estejam livres do chicoteamento), aos escravos comuns, sombras silenciosas numa mansão hercúlea, dos poderosos. E ainda mostra a naturalidade de como tratam a situação como se fossem seres de bondade e preocupação, cuidando de criaturas indefesas. Uma mesma cena sentida por vários corações e mentes, guiados pelo mundo em que vivem e por toda a história oriunda de tempos maléficos. 

E isso nos insere nesse mundo de caos e tranquilidade, medo e segurança, fartura e solidão. Quando percebemos, estamos cerrando os olhos com a dor de uma chibatada, torcendo o nariz com o desprezo e vibrando com uma conquista. 

E tem mais: A autora nos leva para dentro de mentes psicologicamente destruídas pela escravidão. A narrativa nos mostra a veracidade com que uma relação abusiva e torturante, anos de conformidade regada a força e a destruição da personalidade faz. Não são apenas as marcas visíveis das chicotadas e ataques gratuitos que causam marcas. Após umas reviravolta, escravos conseguem fugir e reagem de maneiras diferentes a confusa liberdade. Alguns fogem afoitos, outros se perdem no mesmo e na insegurança e os mais frágeis psicologicamente procuram uma saída rápida para esse turbilhão de mudanças.

Uma história que resume muitas eras

A Deusa no Labirinto ainda modifica o cenário de Tormenta, e uma das qualidades do livro é o poder sucinto da autora de nos colocar a par de um universo gigantesco criado ao longo de vinte anos. Se você nunca leu nada baseado em Tormenta, não se sentirá perdido. Com doses muito bem divididas e informações inseridas em momentos exatos, o livro consegue te deixar a par de centenas de anos em poucas páginas. A leitura é um sedutor convite para se aprofundar no continente artoniano. A leitura cria o desejo descobrir mais sobre Glórienn, as guerras táuricas, o passado dos protagonistas, como surgiu a tempestade… enfim, apesar de ser um dos mais recentes lançamento desse universo, A Deusa no Labirinto é uma excelente porta de entrada para Arton.

Agora quero saber de vocês: depois desse artigo, conseguem lembrar de algum livro que usou uma roupagem para discutir problemas reais? Escreva nos comentários!

Brigada Ligeira Estelar: o Sultanato de Escher

Uma frota espacial nômade para suas campanhas de Brigada Ligeira Estelar!

A Brigada Ligeira Estelar não está sozinha no combate aos Proscritos.

Há frentes de voluntários — e, principalmente, frotas corsárias voltadas a colaborar com o esforço de guerra contra os proscritos. A mais famosa delas é a frota liderada pela nave Cormorão, dos irmãos Almadén.

Mas a mais ambiciosa e preocupante, do ponto de vista político, é o Sultanato de Escher — comandado por  Omar Yagur Hummel-Heinz Escher, de Ottokar. Ele é mais conhecido como o Príncipe Abutre.

Omar é um nobre que virou corsário em meio ao caos da invasão interestelar. Ele atua por toda a ponta do Sabre resgatando e pilhando locais já cruzados pelos Proscritos.

Quem é Omar Escher?

Omar é nativo de Ottokar, mas descende da mistura de casas nobres remanescentes de várias ondas colonizadoras do planeta no passado. Isso explica sua ligação com tantos ramos colaterais de casas que, em alguns casos, desapareceram em seus mundos natais.

Essas casas híbridas criaram tradições próprias do caráter de “nobres em exílio” e “estranhos numa terra estranha” da sua presença em Ottokar. Entre estas, estão equipar seus herdeiros não apenas com um robô hussardo — mas com tropas — e enviá-los contra algum desafeto ou vizinho vulnerável para tomar territórios.

No caso do Omar, sua família fez inimigos demais — então, quando o pai o armou, entregou-lhe tropas e disse: “vá e conquiste, meu filho!”

Reviravolta

Mas o domínio-alvo estava BEM mais armado do que o esperado. Senhores de domínio rivais enviaram reforços para armar-lhe uma emboscada.

Quando o pai mandou mais tropas para apoiar o filho, seus rivais caíram em bloco sobre as terras temporariamente BEM menos guarnecidas da família.

Eles acabaram com os domínios dos Escher, mas Omar conseguiu escapar com suas tropas da emboscada — e as agregou a estes soldados fugidos das terras de seus pais.

Quando as coisas estavam nesse ponto de incerteza e vulnerabilidade, os Proscritos chegaram. E a desgraça de Ottokar foi a janela de oportunidade para ele e os seus se safarem — por serem, nesse exato momento, um senhor de domínio com uma tropa em movimento.

Nasce o Príncipe Abutre

Omar poderia ter virado mais um caudilho ou senhor da guerra. Porém, a forma como viu seu mundo virar duas vezes de ponta-cabeça em tão pouco tempo lhe pôs o alerta na cabeça:

“Se não puder correr mais do que a fera, corra mais do que as outras presas ao menos. Parar é morrer.”

Assim começou seu mergulho em uma trilha de nomadismo e pilhagem para viver, indo, vindo e dando voltas em Proscritos, rivais e outros para sobreviver, saqueando tudo o que pudessem carregar — e resgistrando o que não pudessem em mapas.

No processo, eles foram arrumando naves, resgatando sobreviventes e criando jeitos de mover mais gente, com mais rapidez — e mais pilhagem.

Em algum ponto do caminho, Omar comprou sua Carta de Corso, passando a ser conhecido como o Príncipe Abutre.

Surge o Sultanato

Omar e seu bando se adaptaram a viver na crista da onda do vagalhão Proscrito, chegando um pouco antes como alarme e um pouco depois como times de resgate, seja humano ou dos despojos de guerra — e eventualmente as duas coisas.

Omar tem também certa notoriedade — claramente exagerada, sem dúvida — por ter se envolvido com mais de uma donzela (das mais variados estratos sociais) resgatada nessas andanças e ao invés de ser recompensado, terminar envolvido em duelos com esposos, noivos, pais, filhos ou irmãos ultrajados…

… mas rumores são rumores. Acredita nessa fama quem quiser.

A Frota do Sultanato

“Sultanato de Escher” não passa de um nome de pretensão dado por Omar.

O tempo a tornou uma frota de refugiados e um armazém móvel — uma caravana espacial que serve de ponto de parada e comércio primariamente para seu bando, mas aberta a contato com quem ele queira manter boas relações.

As naves do Sultanato também pousam em planetas quando um lugar é confirmado como seguro mas a própria devastação e insegurança da região — locais sem infraestrutura para reconstruir, eventuais senhores da guerra dispostos comprar briga pelo terreno… ou pior, forças Proscritas — tornam difícil a esperança de se fincar raízes em algum lugar.

Mas por essa razão, Omar tem uma frota crescente em mãos, mesmo sendo primariamente composta de cargueiros cheios de refugiados não-combatentes.

Porque a Brigada Ligeira Estelar deveria se Preocupar?

O nome do Sultanato pode ser uma piada — mas também uma declaração de intenções velada.

A princípio eles parecem um misto de caravana mercante com frota corsária — mas há quem fale sobre a possibilidade de torná-la um protetorado autônomo no espaço, como algumas estações espaciais já tentaram através do precedente da Estação Parlamentar.

Para complicar tudo, eles representam um recurso estratégico preocupante — mas de grande valia — para aliados de ocasião, como o Império ao qual deve sua Carta de Corso… mas também para parentes distantes, forçados a entrar em brigas de família indesejadas. Aí tudo depende de situação e favores trocados, é claro.

Boatos e Rumores

  • o Príncipe Abutre, segundo alguns, pretende fazer da horda de refugiados o núcleo de um futuro império, assim como Falconeri o fez no passado — não apenas em suas naves mas em Ottokar, Uziel, Aliança das Seis Luas, Saumenkar, Villaverde, Winch e, inacreditavelmente… Altona. Ou será (caso isso seja verdade) que a escolha desse planeta tem algum motivo em especial?
  • Uma nave menor de sua frota aonde ele estava presente foi supostamente avistada nos limites do sistema mais longínquo do Império por piratas espaciais — junto a estranhas naves jamais vistas antes. Há quem fale de contatos seus além da Constelação… ou da captura de alguns geradores de buraco de minhoca Proscritos, permitindo a ele investigar sistemas distantes.
  • Fala-se pelos cantos: Yetta Garra de Ferro (ver Belonave Supernova) está viva e foi escondida por Omar Escher em meio a operações de resgate em Uziel. O príncipe-regente suspeita disso mas não pode acusá-lo — visto sua colaboração em esforços de reconstrução e contenção de desordem no planeta. Mas será que isso não é intriga de gente invejosa… ou que tem a ganhar com a fragilidade do poder regencial?

     

Mais Boatos e Rumores

  • De acordo com algumas pessoas, o Sultanato de Escher só existe graças a um patrono misterioso. Após esbarrarem com um grupo de membros do Círculo da Espada aonde TODOS (até as damas) tinham rixa com o Príncipe Abutre, há quem aposte nessa organização: o número de membros dela na Ponta do Sabre quintuplicou com a entrada de vários inimigos, desafetos e familiares indignados de casos passados — e enquanto Omar estiver vivo e em movimento, ela não deve parar de crescer!!!
  • Aqueles a saber da existência dos Peregrinos do Infinito tendem a apostar neles como esse patrono, se ele existir. Mesmo se eles não o forem, o Príncipe Abutre provavelmente já os conhece e certamente vê neles o potencial de grandes acordos de negócios fora dos radares das autoridades.
  • Sabe-se de tensões entre a frota do Cormorão e a frota do Sultanato. Dizem, entretanto, que o verdadeiro motivo da capitã corsária Mistral Almadén não gostar de Omar foi por ele ter dado em cima dela, ou do seu irmão Clavis Almadén, ou (dependendo da versão) dos dois. Versões mais cabeludas sugerem que ele PEGOU a ele, ou a ela, ou a ambos… e depois deu treta. Há também quem diga que eles nem se encontraram pessoalmente — mas fofoca é um telefone sem fio que não acaba mais!

Nas Campanhas de Brigada Ligeira Estelar

O Príncipe Abutre não é flor que se cheire.

Ele é falastrão e amistoso — mas trai em um piscar de olhos caso as circunstâncias mudem. Às vezes, trocando de lado múltiplas vezes na mesma história. Ou episódio. Ou cena.

Por outro lado, ele pode ser bem útil para os personagens jogadores. Ele não é apenas um corsário fazendo pilhagens — com ele, é possível fazer compras úteis de despojos de guerra. Afinal, ele ainda é um mercador.

Além disso, há coisas que não deveriam ser vendidas, e sim entregues às autoridades. Ele pode muito bem contribuir com tecnologia ilegal não-registrada para os jogadores, caso se feche um olho para suas irregularidades.

E claro, há o fato dele comandar uma frota corsária e mercante — tornando-o uma ameaça para piratas espaciais ao circular pela Ponta e pelo Fio do Sabre. Para muitos refugiados, ele se tornou uma chance de vida digna.

Por outro lado, seu comportamento… sedutor com quem lhe despertar interesse pode enfiar a ele e os personagens em encrencas: ele pouco se importa com consequências e rapidamente vai pôr o pé na estrada — mas os problemas acontecerão mesmo assim. Isso pode ser fonte de muita diversão na mesa de jogo.

Divirtam-se e até a próxima!

Arte do cabeçalho: o Príncipe Abutre em pessoa por Tabby Kink e Rodrigo de Salles.

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Resenha do livro “O Tratado dos Mil Cantos”

O tratado dos mil cantos

À primeira vista o leitor pode estranhar um pouco como foi feita a organização de apresentação de “O tratado dos mil Cantos”. O autor preferiu organizar a sua narrativa mesclando acontecimentos do passado com o presente. A partir dessa cronologia, é apresentado para o leitor uma mitologia muito rica inspirada na antiga Mesopotâmia. Neste universo as pessoas podem manipular a água, o fogo, o ar, a terra, a luz e as trevas.
Nesse sentido, compreende-se que dois poderes dicotômicos que existiam ou era temido ou era muito desejado: as trevas e a luz. Se por um lado o poder da luz é raro e muito cobiçado devido as façanhas que poderia realizar, tal como curar. Por outro lado, o poder das trevas é, de certa forma, proibido.

O Tratado dos Mil Cantos: Uma boa história é feita de bons personagens

A história nos apresenta quatro personagens manipuladores de alguns dos elementos citados anteriormente que buscam chegar a um local sagrado para a realização de um ritual que decidirá o destino daquele mundo. É a partir dessa breve contextualização que entraremos em um dos aspectos mais importantes de uma narrativa: os personagens. Todo jogador de RPG sabe que os personagens são as peças mais essenciais para a construção de qualquer texto e quando a narrativa já é fantástica isso ajuda ainda mais na formação de personalidades.

Uma boa personagem carrega consigo elementos necessários que levará a narrativa adiante. Em O tratado dos mil Cantos, o autor nos apresenta quatro personagens extremamente fortes e trabalhados. Cada um com o seu passado contribui para o momento presente do livro, mas o que mais se destaca na história é que todos eles possuem algo em comum: a perda.

O abandono do passado em busca do amanhã

Com o passar de cada página é possível estar próximo desses personagens, cada um carregando em suas histórias pessoais o fardo de precisarem lidar com alguma privação, seja de um reino, de sua família, de sua liberdade… Todos estão entrelaçadas por algo que já foi perdido em seu passado e que culminou no encontro delas no presente. A partir disso o livro nos traz para uma reflexão para além das páginas: mesmo que tenham tirado de você algo muito importante e que as vozes de outrora insistam em dizer que o caminho tende sempre ser escuro e solitário, cabe a nós, em nosso presente, pegar o que é mais forte em nós mesmos e lutar por um hoje e um amanhã que acreditamos ser melhor.

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Como o jogador pode influenciar a narrativa no RPG

Quando jogamos RPG, algumas vezes pode parecer que a influência do papel do jogador sobre a história é bem mais limitada do que a do narrador —  principalmente para pessoas novas no hobby. Isso pode levar a jogos mais estáticos, onde o grupo apenas reage ao que o narrador fala, nunca sugerindo maneiras de como a história pode seguir em frente. Hoje eu vou dar algumas dicas de como você pode influenciar a narrativa como jogador, ajudando o grupo a desenvolver uma história divertida e interessante.

Interprete o seu personagem como se ele fosse real

Pense no seu personagem não só como o seu avatar no mundo do jogo, mas também como uma pessoa real. Ele pode ter família, amigos e conhecidos. Ele tem ideias sobre o que é certo ou errado e também tem objetivos, convicções, crenças ou até superstições.

Claro, você não precisa (e nem deve!) decidir tudo isso antes do jogo, mas à medida que o narrador apresenta situações, lugares e personagens, pense nesses elementos e em como eles podem guiar a sua interpretação. Um bom hábito é se perguntar frequentemente “como o meu personagem está se sentindo agora?”, e então reagir de acordo, descrevendo suas ações para o grupo.

Por exemplo, como o seu personagem se sente estando de volta à cidade onde traiu um chefe do crime? Ao receber uma missão que envolve resgatar uma criança da idade de seu filho, que deixou em casa? Ou ao ter sido forçado a fazer algo que sua divindade não aprova? Note que esses detalhes podem ser definidos no decorrer do jogo – apenas confirme com o narrador se está tudo bem. Sua interpretação a partir desses elementos irá inspirar novas cenas e interações entre os personagens e, dessa forma, influenciar a narrativa.

Crie oportunidades para os outros PJs

Um dos papéis do mestre é o de balancear quanto “tempo de tela” cada personagem tem. Isso garante que todos terão oportunidades iguais de fazer contribuições para a história. Entretanto, isso é algo que os jogadores também podem ajudar a fazer.

Claro que todos gostamos de ver nossos personagens brilharem, mas também procure por momentos em que o seu personagem pode criar oportunidades para que os personagens dos outros jogadores entrem em ação. Para isso, entenda as habilidades e interesses dos seus aliados e interprete essa passagem do holofote no jogo.

Ao chegar em uma cena de crime, por exemplo, vire para o investigador do grupo e pergunte o que ele acha. Ele, por sua vez, ao achar um artefato misterioso, pode se voltar ao personagem mais erudito do grupo e perguntar se ele já viu algo parecido antes. Se todos no grupo estiverem atentos para esses momentos, o resultado é uma narrativa mais dinâmica, em que todos os personagens são igualmente importantes.

Dê combustível para a narrativa

Muitas vezes em filmes e livros vemos os protagonistas tomarem decisões que os trazem problemas. Às vezes eles vão a algum lugar sabendo que há uma armadilha, outras vezes eles fazem perguntas demais e atraem atenção indesejada. Seja como for, essas decisões trazem conflitos para a história e a tornam mais interessante.

Alguns jogadores, entretanto – talvez por experiências passadas ruins – tendem a elaborar demais algumas ações ou planos, buscando blindar seu personagem de qualquer consequência negativa que possa sofrer. Em exagero, isso pode criar situações onde o jogo fica travado em cenas de discussão e planejamento, sem avançar a história.

Portanto, não deixe que o medo das adversidades o impeça de continuar avançando o jogo. Claro, procure tomar decisões e criar planos inteligentes, mas quando problemas interessantes estiverem no horizonte, vá com tudo. Certamente será muito mais divertido.

Por fim, ajude a criar o cenário

Ao apresentar uma cena, dificilmente o narrador diz tudo que há nela. É natural, pois o ato de narrar se apoia bastante na capacidade da nossa imaginação de completar lacunas onde necessário – e além disso, é muito tedioso descrever todos os detalhes de uma cena. Isso significa que existe bastante espaço para os jogadores inserirem elementos em que têm interesse. Essa é outra maneira de influenciar a narrativa, e a melhor forma de fazer isso é perguntando ao narrador.

Alguns exemplos de perguntas são: “Eu vejo alguém da minha antiga gangue enquanto andamos pela cidade?”, “Há uma carroça ou algo que eu possa usar para pular nele?”, “Tem um templo do meu deus nesse vilarejo?”, “Há algum compartimento secreto no hangar?”, “Tem alguém que eu conheça na caravana que acabou de chegar?”. O narrador pode responder com algo que ele já havia pensado, inventar algo na hora ou até devolver a pergunta para você!

É claro que essas perguntas são sugestões de coisas que você gostaria de ver acontecendo na narrativa. Pegar essa contribuição e adaptá-la para o cenário e tom do jogo é um dos trabalhos do narrador, portanto não se preocupe e use as características do seu personagem para inserir elementos capazes de gerar cenas interessantes.

*****

Seguindo essas dicas, ou tomando qualquer atitude que ajude a compor a narrativa com o mestre,  você colabora com uma aventura mais rica e memorável para todos os envolvidos, afinal, os PJs são os protagonistas da história sendo construída.

Você também tem alguma dica de como os jogadores podem influenciar a narrativa na mesa de RPG? Compartilha com a gente nos comentários.

Ex Tenebris, Lux: uma música sobre a Tormenta pelo bardo Victor Lucky

ex tenebris lux

Nós aqui na Jambô ficamos muito empolgados quando Victor Lucky, a misteriosa entidade que habita o Twitter e grupos de Discord, lançou seu single Ex Tenebris, Lux, inspirado no romance O Terceiro Deus, de Leonel Caldela. Aproveitando o lançamento e a recepção que a comunidade teve do projeto, trouxemos o bardo em pessoa para falar como foi o processo de criação da música e do clipe!

*****

Ex Tenebris, Lux: Transformando a Tormenta em música

Por Victor Lucky

No dia 14 de novembro, lancei meu primeiro single: Ex Tenebris, Lux. Inspirado no cenário de Tormenta, decidi escrever e produzir uma canção que falasse dos Cavaleiros de Corvo, a ordem de cavalaria que apareceu em O Terceiro Deus, um dos romances do cenário.

Minha música tem sido muito bem recebida pelos fãs do cenário e até mesmo pela equipe que produz e escreve o meu RPG favorito no mundo. Com toda essa recepção, muitas pessoas quiseram saber mais sobre o processo de composição e produção. Estou aqui para falar um pouco sobre esse isso e responder a algumas dúvidas comuns.

Transformando inspirações em ideias

Escrever uma música é muito parecido com contar uma história. Você precisa de um tema, de argumentos, conflitos e resoluções. Mas o começo do processo é sempre uma ideia. Que história você quer contar? Eu queria falar sobre os Cavaleiros do Corvo. Queria que fosse uma “música de guerra”, algo simples, mas eficiente, que contasse a história indo direto ao ponto.

Ir direto ao ponto foi o primeiro obstáculo. Sempre fui tecladista e resistir ao impulso de colocar várias camadas de teclados e orquestrações foi uma necessidade imediata. Preferi limitar os teclados apenas ao essencial e mantive o foco nas guitarras, que considero um instrumento poderoso, adequado a cavaleiros que arriscam a vida contra a Tempestade Rubra. Sentei-me com uma guitarra no colo e comecei a experimentar, assim surgiu a melodia que serviria como tema central da música.

O compasso 6/4 foi pensado para ser uma marcha misturada com uma valsa. Nenhum detalhe ocorre por acaso.

Quando terminei de escrever todo o instrumental, a música já tinha nome: Ex Tenebris, Lux foi batizada pelo lema dos Cavaleiros do Corvo, “das trevas, trago a luz”, misturado ao meu antigo caso de amor com a língua latina. Eu ainda não sabia que o título faria parte da letra, isso viria a seguir…

Português ou inglês? Quero ambos!

Qualquer fã de Power Metal conhece muito bem músicas que cantam sobre temas de heroísmo fantástico. Ainda que eu não considere Ex Tenebris, Lux como uma canção do gênero, é impossível não identificar influências e similaridades. Essas músicas são quase sempre cantadas em inglês, mas Tormenta é um cenário 100% brasileiro, e agora?

A ideia original sempre foi escrever a letra em português. Para mim não fazia sentido promover um lançamento anglófono inspirado em literatura brasileira. A ideia de fazer uma versão em inglês da letra veio depois, por sugestão de uma amiga, e acabou virando um “lado B” do projeto. Não é uma tradução exata, isso seria impossível, mas uma releitura da letra original. Dessa forma, o clipe e todo tema original do single seriam em português, mas com aquele extra para as pessoas que preferem ouvir temas medievais na língua inglesa.

Gravação e produção

Eu falei acima que escrever uma música é como contar uma história. Pois é, gravar uma música é como escrever um conto. É muito fácil se render ao impulso criativo de querer fazer tudo de uma vez só, mas a partir do momento em que já está tudo planejado, faz bem ter paciência e ir com calma. Impus uma limitação de gravar não mais que um instrumento por dia. Isso me obrigou a ter uma dose extra de carinho em cada etapa da produção. Cada parte gravada foi ouvida com atenção e regravada de acordo com a necessidade. Demorei horas para gravar todas as guitarras de maneira satisfatória, e tudo bem. O baixo me levou menos de 15 minutos, e tudo bem, também.

O vocal foi algo bem desafiador para mim. Não costumo cantar, mas quando canto, mostro claramente as minhas influências de música pesada. Gosto de gritar, fazer drives e efeitos com a voz, mas essa música era uma canção de guerra e nada disso era necessário. Cortei os excessos e investi numa linha vocal limpa e tranquila, com exceção do refrão que canta o título da música. O coro de “Cavaleiros do Corvo” evocando a frase em latim foi gravada em 7 partes sobrepostas, cada uma em um registro vocal diferente.

A mixagem e masterização são o polimento de qualquer produção. É o que transforma pedaços de música numa obra concisa. O maior desafio desse processo está na principal ferramenta utilizada: os ouvidos. Existem diretrizes e sugestões, mas no geral, é o ouvido do produtor que determina se está bom ou não. Para mim foi o processo mais longo e demorado, mas um dos mais gratificantes também. Ver sua performance bruta se transformando em algo que você se orgulha de ter feito é muito especial.

Câmera e ação!

Em algum momento pensei “já que vou lançar essa música, eu poderia fazer um clipe também, né?”. Imediatamente me imaginei gravando em alguma floresta, porque é isso que as bandas de Power Metal fazem. Mas só ir para o mato e gravar me pareceu meio sem graça, eu queria dar um contexto para o clipe, contar uma história junto com a música.

Foi quando surgiu a ideia de começar com uma “mesa de RPG”. Vazia, porque afinal a produção foi individual, mas viva de algum jeito. As vozes da “sessão” que acontece na mesa são de integrantes do meu querido grupo de RPG da adolescência. Foi com aqueles caras que conheci Tormenta, e foi com eles que cresci jogando 3D&T, GURPS, Pathfinder e uma quantidade obscena de Lobisomem. Pareceu a ideia perfeita na hora, e fiquei muito feliz que deu certo.

As imagens onde eu apareço foram filmadas pela minha esposa, Maurine Cardoso, e eu mesmo fiz as outras tomadas. O clipe foi inteiramente editado e produzido por mim e, surpreendentemente, deu bem menos trabalho do que eu esperava.

Claro que eu jamais faria um videoclipe inspirado em Tormenta sem evocar a clássica piada feita por Leonel Caldela num antigo Podcast da Dragão Brasil e hoje repetida o tempo todo: “tem que acabar o Victor Lucky”. Isso ficou como bônus para os observadores, bem no finalzinho do vídeo.

O valor de Sabedoria na ficha parece correto.

Tá na hora de lançar!

No final de setembro eu anunciei no Twitter que iria lançar um single inspirado em Tormenta. Começou ali um hype que eu não esperava, mas com o qual precisei aprender a lidar. A postagem foi curtida por bastante gente da comunidade e até por autores do cenário. Naquele momento, em que eu tinha acabado de gravar os vocais e ainda tinha muito chão pela frente, eu sabia que tinha que garantir que o produto final ficaria legal.

Eu ainda não tinha terminado a mixagem, eu ainda não tinha clipe, eu ainda não tinha uma capa. Mas como todo processo criativo, se resolveria com trabalho e determinação. Nas semanas que seguiram eu comentei no Twitter um pouco sobre atrasos que aconteceram, como eu estava aprendendo com o processo todo e sobre como eu aprendi que não adiantava reclamar, era necessário arregaçar as mangas e continuar seguindo em frente.

Até que veio o dia do lançamento, e o resultado está aí para todos os que quiserem ver e ouvir.

Vem mais coisa por aí?

Há algum tempo eu não escondo mais que tenho várias músicas inspiradas em Tormenta, a maioria ainda inacabada. Talvez a experiência de lançar Ex Tenebris, Lux seja o incentivo que preciso para terminar mais algumas e enviar para o público. É um trabalho completamente por amor, é fanart no mais puro sentido da palavra, mas dá um gosto imenso. Tormenta está comigo há tanto tempo que é de lá que veio o meu “nome artístico” que uso há quase tanto tempo quanto o cenário existe, “Lucky”, inspirado no bardo mais famoso de Arton.

Lançar esse single foi uma jornada incrível. Recomendo a qualquer um que queira tentar fazer algo parecido.

Arte da capa pelo talentosíssimo Marcelo Almeida (@marcelodigitalartist no Instagram).

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Bençãos da Deusa — Aventuras de improviso: o exercício das 3 palavras

3 palavras

Mestrando em sistema de Guilda (se você não sabe o que é, pode ler mais sobre aqui e aqui), me vi diante da seguinte situação: as pessoas estavam lá, disponíveis para jogar naquele mesmo dia ou no dia seguinte, e eu com vontade de mestrar, mas não tinha nenhuma aventura para o nível delas preparada. Então um amigo, durante uma conversa, me pediu 3 palavras aleatórias. Falei qualquer bobagem e ele criou uma aventura na hora, usando aquelas palavras.

Achei fantástico e em seguida resolvi tentar: pedi 3 palavras para ele e criei um plot em cima daquelas palavras. Foi uma experiência não só divertida, como também libertadora. Eu sempre digo que não tenho criatividade para pensar em plots para mestrar, e este exercício mostrou que se eu parar por alguns minutos, saem coisas legais. Neste dia, eu mandei os jogadores para a entrada da área de Tormenta de Tiberus usando as palavras batata, peteca e corno. Foi uma mesa tensa que eu adorei mestrar — e espero que os jogadores tenham gostado de jogar, apesar de algum trauma. 

Assim, pedi para alguns amigos 3 palavras enquanto escrevia este texto para mostrar pra vocês como funciona. Desde já, aviso que os plots serão inspirados em Tormenta 20, que é o que estou mestrando no momento.

Macarrão, gaivota e radioatividade

Puristas montaram um laboratório de testes nos limites com Svalas. Estão trabalhando com material radioativo para desenvolver geneticamente novos monstros e atacar o Reinado. Alguma coisa porém saiu errada: após uma explosão, uma gaivota gigante fugiu do laboratório e está aterrorizando as cidades mais próximas, além de roubar toda produção de macarrão dos arredores para se alimentar, principal atividade econômica da região.  

Parábola, inconstitucional e contagem

O Triunvirato de Tiberus tenta ainda manter a ordem e reerguer o que sobrou da cultura minotáurica. Porém, o senador Glabo Varaxus não concorda com o caminho conciliador e antiescravagista para o qual Pérola e Kelskan guiam sua civilização, e planeja um golpe inconstitucional. Ele irá sugerir uma eleição para novos membros e irá alterar a contagem de votos através de sua rede de influência política. Alguns de seus planos foram interceptados, mas não servem como provas porque estão escritos em código, como parábolas. O grupo precisa investigar e juntar provas para evitar que o povo minotáurico mergulhe novamente numa era de escravização.   

Seguro, trabalho e relatório

Um grupo de trabalhadores de uma mina de escavação de pedras preciosas em Trebuck consegue enviar uma mensagem pedindo ajuda. Eles foram contratados para trabalhar na mina com várias garantias, tendo sido assegurado que a maior parte do que fosse encontrado seria deles. Porém, a medida que o tempo foi passando e os relatórios foram mostrando que havia cada vez menos tesouros no lugar, o responsável os escravizou, retirando deles quase tudo que é garimpado. Sob forte vigilância e fracos pelas péssimas condições de trabalho, estas pessoas não têm como escaparem sozinhas. Precisam da ajuda de aventureiros capazes de acabar com este terror. 

Cachoeira, bolo e sertanejo

Os aventureiros são chamados por um nobre em Namalkah para resolver um problema: uma receita de um bolo de família, passado de geração em geração, foi roubada. Para protegê-la, existia uma única cópia. Eles devem investigar, descobrir e encontrar o responsável pelo roubo: uma sereia que se esconde em uma gruta atrás de uma linda cachoeira.  A forma de descobrir onde ela está é através de sua música, uma doce melodia sertaneja. Esta melodia, porém, quando ouvida por muito tempo, ou muito de perto, pode deixar fascinados aqueles de vontade fraca. 

*****

Viram como funciona? Levei cerca de 15 minutos pensando em cada plot. Claro que estes são ideias iniciais e algumas coisas precisarão ser organizadas, mas temos aqui o ponto de partida de várias tramas, pensadas como tipos diferentes de aventuras. No início, pode parecer meio assustador, mas vocês vão perceber que é mais fácil do que parece, e que pode ser muito divertido. Agora mandem mensagens para algum amigo, peçam 3 palavras e se divirtam com o caminho para onde esta aleatoriedade pode levá-los.

Agradecimento especial para Thiago Trot, que além de mandar 3 palavras foi quem me mostrou este método, e para Ricardo Correa, Lucas Felipetto e Diogo Stone, que mandaram 3 palavras para esta matéria.

 

 

A Todo Vapor: quando os livros tomam as telas

A Todo Vapor

Quando os livros ganham a tela, personagens criados em nossa imaginação tornam-se  palpáveis. A dura missão de qualquer diretor é transformar uma história idealizada na cabeça do leitor em um filme que não vá decepcionar milhares de mentes únicas. Cozinhar um prato com a pitada certa de sal e pimenta para diversos paladares, criar uma peça de roupa que irá agradar a todos, responder perguntas diferentes com a mesma palavra é o desafio da adaptação cinematográfica. Esse era o desafio de A Todo Vapor.

Jornada do texto para o vídeo

Deixar sua imaginação ser o pincel é uma das coisas mais deliciosas ao pintar um fantasioso quadro em nosso cérebro. . Criar o cabelo, traços, trejeitos. Uma cena de ação descrita detalhadamente pelo autor nos torna parte de um universo mágico, perfeito em nossa imaginação.

Adaptar essa concepção não é fácil. O livro tem um elemento difícil de ser batido até pelos maiores diretores do cinema: a idealização do leitor.

Cada personagem desenvolvido pelo escritor passa por uma transformação na mente de quem lê. Por mais eficiente que as descrições no texto sejam, o mundo criado é individual. Lembranças vividas, experiências pessoais, rostos conhecidos e até o momento no qual a pessoa vive… tudo influencia na hora de criar um cenário, um dragão, um cavaleiro.

Então, como agradar os fãs de uma franquia, sabendo o quão íntima é a ligação do leitor com o personagem? Minha opinião pessoal? Sendo fiel a IDEIA do autor.

Cenografia, fotografia, direção, caracterização, sonoplastia… tudo isso é deixado de lado quando o conceito da história se perde em meio a efeitos especiais tecnológicos e atores vencedores de Oscar. Quando batalhas mirabolantes e poderes mágicos engolem o principal conflito da trama, o filme deixa de fazer sentido para os fãs e dança na linha tênue idealizada pelos admiradores.

Uma adaptação de heróis brasileiros

A literatura nacional também ganha espaço na querida telinha que ainda é parte obrigatória na sala do brasileiro. A novidade de 2020 nos alegra não só por ter sido criada a partir de uma obra de Enéias Tavares e Felipe Reis, mas também pelo fato de ser uma obra de steampunk.

A Todo Vapor é é um divisor de águas no mundo da literatura nacional. De maneira independente, os autores transformaram o impossível em realidade ao levar essa série para uma das maiores plataformas de streaming do mundo sem nenhum gigante da indústria por trás dos holofotes. Mas vamos contar a história do início…

Antes de mais nada, o que é steampunk?

Categorizado como subgênero do Cyberpunk (e com alguma divergência sobre ser ficção científica ou especulativa, porém deixo essa discussão para os especialistas), o steampunk é, resumidamente, montado a partir da tecnologia a vapor retrofuturista baseada no conhecimento tecnológico existente no  século XIX, em uma utopia (ou distopia? Também não vou entrar nos méritos) na qual a indústria a vapor evoluiu de tal maneira que subjugou qualquer outra. Em um mundo dominado pela tecnologia avançada, equipamentos eletrônicos são substituídos por versões a vapor, tendo suas funções e características primordiais mantidas, apesar da enorme diferença visual. 

O figurino é outro fator importante no steampunk. Com roupas que remetem a estética vitoriana (século XIX, Londres), óculos grandes e acessórios mecânicos, visivelmente é fácil identificar uma história passada nesse universo.

A Todo Vapor: um steampunk brasileiro

Baseada na séries de livros do projeto “Brasiliana Steampunk” de Enéias Tavares e Felipe Reis, o seriado foi ao ar em Setembro de 2020 na Amazon Prime e faz uma leitura steampunk de personagens dos clássicos da literatura brasileira. Conhecemos então Juca Pirama, um detetive com poderes místicos, jeito malandro e um código moral próprio, que se mistura aos transeuntes na agitada São Paulo dos Bravos Bandeirantes, conhecida também como São Paulo dos passantes apressados (algumas coisas não mudam nem na ficção). Juca, na verdade, já é um velho conhecido meu, fomos apresentados no excelente romance “Juca Pirama: Marcado para Morrer“, e mantenho um exemplar autografado na minha biblioteca pessoal.

Ao contrário do livro citado, a série divide o protagonismo entre Capitu Machado, Victória Acauã, Doutor Benignus (meu personagem favorito, talvez minha formação em engenharia pese um pouco nessa escolha) e outros heróis que buscam solucionar crimes sobrenaturais em um mistério macabro que cerca a pequena Vila Antiga dos Astrônomos.

Heróis dos clássicos nacionais

Capitu e Juca são detetives que chegam a cidade e se deparam com mortes baseadas em cartas do Tarô. Cada episódio começa com um personagem da trama dando seu depoimento sobre os crimes investigados pelos heróis, um pequeno prelúdio da trama que irá se desenrolar. E se alguns desses nomes lhe soaram familiar, não se preocupe! Os personagens da série foram baseados em ícones da nossa literatura, como Dr. Benignus (do português naturalizado brasileiro Augusto Emílio Zaluar), o conto Acauã (Inglês de Sousa), Capitu ( Machado de Assis) e o próprio Juca Pirama (Gonçalves Dias). Uma jogada genial de Enéias e Felipe, trazendo uma releitura de personagens clássicos e evidenciando escritores renomados.

Uma série steampunk gravada em São Paulo

Antes de qualquer coisa, é importante lembrar do empenho dos autores para entregar esse conteúdo na plataforma digital. Um esforço hercúleo que abre uma enorme porta e faz com que todos os escritores brasileiros possam enxergar uma possibilidade dificilmente vislumbrada. Uma série independente ganhar espaço na grade da Amazon é um feito maravilhoso, um divisor de águas. O steampunk em evidência, escritores nacionais mostrando seu trabalho sem nenhuma grande ajuda financeira é louvável. Isso por si só já é um convite luxuoso, mas a série não é feita só de esforço.

A introdução alegra qualquer fã do gênero. Não é necessário mais que três segundos para nos sentirmos a fuligem dos motores a vapor, nos levar para a Londres antiga com seus trajes elegantes e postura inglesa. O figurino segue a mesma pegada vitoriana, chamando a atenção pela qualidade do design e a fidelidade com os personagens desenvolvidos em histórias posteriores do universo brasiliana steampunk nos são apresentados. A parte visual não decepciona, trazendo episódio após episódio mirabolantes soluções do Dr. Benignus, balões controlados mecanicamente, magias e até parte do cenário construído por computação gráfica. 

O roteiro começa com um mistério simples e o objetivo claro de caçar os assassinos, que logo se mostram seguidores da seita de Pamu. Juca (interpretado por Felipe Reis) e Capitu (Thais Barbeiro) chegam a pequena cidade no interior de São Paulo prontos para solucionar os crimes. A trama se desenrola cena a cena, quando mais mortos são encontrados e um padrão é desenvolvido pelo suposto assassino. 

Entre lutas, mistério, vapor e bugigangas tecnológicas (Dr. Benignus que o diga), a série nos insere nos deixa curioso para descobrir como os heróis conseguirão resolver esse conflito e quais aparatos novos usarão para se livrarem dos (muitos) percalços.

Enfrentando novos desafios

Cheio de referências à literatura nacional, motores a vapor e reviravoltas, A Todo Vapor é uma série construída com muito suor e uma vontade inabalável de fazer dar certo, não decepciona e agrada tanto quem ainda engatinha no mundo steampunk quanto os ávidos fãs que tanto a tem celebrado.

Torço para que as produções independentes nacionais continuem ganhando espaço, e que a Brasiliana Steampunk siga a todo vapor.

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