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O fascínio do público nerd tem com super heróis não é nenhuma novidade. Dos tradicionais e recorrentes quadrinhos à popularização de filmes do gênero com o MCU, somos atraídos pelas histórias de humanos com super poderes e todos os desdobramentos que isso pode trazer.

Se já adoramos os heróis independentes como o Homem-Aranha Miranha ou o Demolidor, quando se trata de grupos de super-heróis a coisa fica um pouco mais interessante. Aí entra o RPG!
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A Jornada da Mestra – O Chamado para a Aventura

Ilustração de moça sentada em poltrona amarela, com um gato cinza em cima do encosto, atrás dela. Na frente há uma mesa com miniaturas e livros de rpg espalhados.

Olá, queridos companheiros de aventura! Já sentiu vontade de mestrar RPG, mas ainda não encontrou aquela chama especial? No artigo do mês passado elencamos vários pontos básicos, mas importantes, sobre a figura enigmática do mestre e hoje, dando continuidade a nossa jornada, conversaremos sobre talvez um dos pontos mais importantes para a nossa aventura: as motivações para se tornar um mestre de RPG.

Se você me segue na capenga rede social do ex passarinho azul, talvez se lembre de uma pergunta sobre o assunto. Afinal, todo mundo precisa de um motivo para começar algo, nem que seja apenas um “porque eu quero” – que já é o suficiente. Nem tudo precisa de uma razão profunda, entretanto, como estou empenhada na construção de um exército de mestres para tomar os meios de produção, vale a pena mergulharmos um pouco mais fundo.

Portanto, o artigo de hoje será guiado por duas perguntas: por que mestrar? E porque não mestrar?

O chamado para a aventura

the hobbit adventure gif | WiffleGif

Eu poderia comentar sobre a noite fria na qual eu vi minha família ser levada pela polícia do RPG. Desolada, mas destemida a mudar o meu destino, eu gritei: “eu vou me tornar a rainha dos mestres de RPG!“. Contudo, eu iniciei a minha jornada porque minhas opções eram mestrar ou não jogar. Pois é, nada glamouroso. 

Eu queria muito aprender a jogar RPG e, após pentelhar todos os meus amigos, alguns deles acabaram se interessando pelo hobby. Contudo, ninguém se voluntariou para ser o mestre, logo a tarefa foi gentilmente delegada a mim.

Alguém tem que tomar uma pelo time, não é?

Eu não fazia a mínima ideia de como começar e de como conduzir as coisas. Tenho ansiedade, estava cheia de vergonha e com medo de tudo sair uma porcaria. Superei isso? Mais ou menos. Ainda tenho ansiedade, vergonha e medo das sessões não serem divertidas, mas tenho bons amigos para me dar apoio e me divirto construindo histórias em grupo.

Eu já escrevia ficção antes então a parte narrativa fluiu muito melhor do que eu havia imaginado. Meu maior problema foi – e ainda é – com as regras e as mecânicas. Eu sempre esqueço ou confundo alguma coisa. Mas isso não é o fim do mundo e é muito menos assustador do que parece.

Meus amigos foram um fator importante nessa jornada, já até contei sobre isso no primeiríssimo artigo desta coluna. Todos eram iniciantes e alguns nem sabiam o que era RPG de mesa. Aprendemos a jogar juntos, de tropeço em tropeço, e continuamos até hoje, rindo das nossas próprias palhaçadinhas.

Eu mestro RPG porque amo contar histórias com meus amigos, amo compartilhar minhas ideias com eles e gosto das soluções caóticas que eles trazem para os problemas que aparecem.

Por que não ser um mestre de RPG?

Quando a party destrói o planejamento do mestre de RPG

Por mais que seja uma heresia – é brincadeira, tá? – também acho importante entender o porquê de alguém recusar o chamado. Um simples “não quero” já basta, mas podemos encontrar outros motivos como: “não quero ter trabalho no meu lazer”. Se você leu o artigo anterior, você sabe que mestrar exige certo esforço. É muito válido não querer complicar a sua diversão. Nada como apenas sentar e espalhar o caos.

Se você acha que talvez haja muita coisa para você gerir, está tudo bem fechar as portas. Entretanto, o que pode te ajudar nesse sentido é encontrar aventuras prontas em sistemas com cenários já estabelecidos — já ouviu falar das aventuras de Tormenta20 da Jambô?

Embora ainda seja necessário preparar as sessões, dá muito menos trabalho construir algo sob um mundo/aventura já feito por alguém. E você também não precisa mestrar uma campanha de três, cinco ou dez anos. Comece com uma aventura breve ou uma one-shot, pondere suas opções – one-shot é um termo muito utilizado para histórias que contenham apenas um capítulo. No RPG de mesa, uma one-shot é uma aventura concluída numa única sessão.

O fantasma da solidão

YARN | - I'm going to Mordor alone. - Of course you are. | The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring (2001) | Video gifs by quotes | cd9186ae | 紗

Você também pode não ser um mestre de RPG por falta de pessoas. No editorial da revista Dragão Brasil 199, o J. M. Trevisan contou sobre um caso presenciado por ele na CCXP e a situação me deixou sentida porque sim, às vezes, mesmo rodeado por vários colegas, a gente se sente sozinho.

Às vezes nossos gostos são muito diferentes das pessoas que conhecemos. Ou vemos tantas pessoas engajadas que pode parecer ser especialmente necessário você ter um batalhão de amigos para começar a jogar. Mas não. Jogar RPG também é sobre descobrir e conectar pessoas, fazer amizades. Gostar de RPG, mesmo não tendo jogado, já é um ponto de partida para começar um novo vínculo. É mais normal do que parece encontrar pessoas desabrigadas, procurando por um grupo para jogar.

Com o grande advento da internet, encontrar alguém com gostos semelhantes aos nossos se tornou mais fácil. Você não precisa mais se embrenhar em buracos suspeitos para encontrar um aventureiro buscando ajuda. Já conhece o discord da Jambô Editora e outras comunidades de Tormenta20?

É difícil engolir a timidez, acredite eu sei, mas existem muitas pessoas dispostas a te ajudar a embarcar nessa aventura.

O demônio do medo

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Outros monstros enfrentados pelo mestre de RPG são a vergonha, o medo, a timidez, a incapacidade de manter os jogadores interessados e etc. Manter o interesse dos jogadores é uma tarefa conjunta e falaremos mais sobre isso num próximo artigo. Mas adianto que você não é o único responsável por isso, os jogadores também precisam querer engajar no jogo.

Além disso, saiba que imprevistos vão acontecer, coisas vão dar errado e talvez você gagueje mesmo.

Ninguém é perfeito e, sobretudo, nada sai perfeito ao iniciar uma nova atividade. Mas você precisa mesmo ser perfeito? Por que você quer ser perfeito? O que é ser um mestre perfeito?

Ainda acho que esse tópico merece um artigo próprio, portanto serei breve. Sua stream favorita pode fazer parecer que jogar é atuar num filme de Oscar, mas lembre-se de que aquilo é uma produção e ela tem como objetivo entreter um público. Sua mesa caseira no fim de semana tem que divertir apenas a você e aos seus amigos.

Ficar com medo dos erros não faz com que eles desapareçam, isso só te impede de experimentar algo novo que pode ser muito divertido. Timidez e vergonha são problemas difíceis, eu sei, eu sinto vergonha de tudo e sou ansiosa. Nem leio as coisas que eu escrevo depois de publicadas porque sinto vontade de desfalecer. Peça ajuda aos amigos, converse com eles sobre o que te deixa desconfortável. Se você não tem um grupo, comece jogando com estranhos na internet mesmo. As pessoas estão mais dispostas a ajudar do que pode parecer.

Não posso garantir que você não vá encontrar gente estúpida pelo caminho, mas garanto que encontrará uma galera muito bacana.

Se você realmente quer aprender a mestrar, se dê uma chance.

Porque ser um mestre de RPG?

Monty Python - Holy Grail French Taunting animated gif
Gif meramente ilustrativo do 35º personagem de um dos seus jogadores.

Agora a pergunta de um milhão de tibares.

Recebi muitas respostas para a minha pergunta na rede social ao lado e algumas compartilhavam do mesmo sentimento de bucha: ou mestra ou não tem jogo. Contudo, uma grande parte respondeu que ama contar histórias, ama compartilhá-las com os amigos e ama criar boas memórias. A sensação de construir uma narrativa em conjunto é única, os jogadores tem sempre um personagem interessante para apresentar, uma carta na manga, uma surpresa mirabolante ou uma ideia sem pé nem cabeça. Toda sessão é um mistério para todo mundo. Alguns mestres adoram narrar esse caos e geralmente o resultado dessas pataquadas viram piadas e bons motivos de risada.

Já vi jogador quase morrendo para pular um poço sendo que o caminho ao redor estava livre, o incrível dragão Jovem de Osasco, nomes muito criativos para armas como: Varão Ungido e Ex-Ciumenta, uma sessão de pesquisa virando uma sessão de adoção, entre outros.

Assim como muitos, eu adoro provocar sentimentos nos meus amigos, embora às vezes eles ameacem a minha integridade física. É muito divertido vê-los engajados na história, montando planos duvidosos, fazendo piadas e criando as teorias mais aleatórias que eu já vi. Melhor ainda é quando fica no ar aquela sensação de urgência pela próxima sessão ou quando alguém pensa na resolução para algo completamente fora do meu esperado.

Ser um mestre de RPG também te permite externar e testar suas próprias ideias, aquelas que estão engavetadas, pedindo para ver um único raio de sol. Criar mundos, deuses, personagens, monstros e situações. Criar. Ou destruir impérios, destronar reis ou ser obrigado a interpretar um macaco aleatório.

Tem gente que mestra para fazer as pessoas gostarem de RPG com objetivo de trazê-las para esse nosso mundinho colorido. Tem gente mestra para fortalecer os laços de amizade, para reunir pessoas incríveis com um mesmo objetivo: se divertir. Quem não gosta de dar boas risadas com os amigos não é? Na minha mesa já até saiu romance entre jogadoras, oh la la!

Algumas pessoas mestram porque é aquilo que elas gostariam de viver como jogadores e isso é um fator muito importante. Se você não gosta do que está fazendo, é difícil deixar a coisa legal. Pode parecer que o mestre tem uma responsabilidade pela diversão dos jogadores, mas não. Como discutimos no outro artigo, todos são responsáveis pela diversão de todos na mesa. Ou você senta na mesa do bar com os amigos e só se preocupa consigo mesmo?

Qual é o seu chamado?

Princess Leia Youre My Only Hope GIF by Star Wars

Cada um tem um motivo particular para mestrar. Tem uma história na cabeça? Um mundo prontinho para ser explorado? Quer ver adultos se descabelando porque não conseguem decifrar um enigma infantil? Que descobrir até onde o caos dos jogadores pode ir? Quer reunir seus amigos para construir uma história incrível?

O importante é o motivo ser válido para você.

Segura na minha mão que vamos nos aventurar juntos! No próximo artigo entraremos num assunto mais prático: como começar a mestrar? Vamos falar o básico sobre narrativa, improviso, ferramentas úteis para a construção de mundo e etc. Tudo bem simples e descomplicado.

Lembre-se: RPG é sobre encontrar pessoas, fazer amigos e dar umas gargalhadas em conjunto.

Não se esqueçam de beber água e comer frutas!

Até a próxima!

A Jornada da Mestra – Quem é o Mestre de RPG?

Olá, queridos companheiros de aventura! Sentiram saudades? Como estão? Espero que estejam bem e preparados para mais um ano de muita balbúrdia sobre a criatura misteriosa que é o mestre do RPG de mesa!

Para esse início de 2024 eu decidi rebobinar a fita cassete. Caso você não seja do tempo das cavernas e não saiba o que é isso, bom, hoje eu darei alguns passos para trás nessa jornada de mestre – badum, tss.

Mas o que isso significa? (mais…)

Bençãos da Deusa — Aventuras de improviso: o exercício das 3 palavras

3 palavras

Mestrando em sistema de Guilda (se você não sabe o que é, pode ler mais sobre aqui e aqui), me vi diante da seguinte situação: as pessoas estavam lá, disponíveis para jogar naquele mesmo dia ou no dia seguinte, e eu com vontade de mestrar, mas não tinha nenhuma aventura para o nível delas preparada. Então um amigo, durante uma conversa, me pediu 3 palavras aleatórias. Falei qualquer bobagem e ele criou uma aventura na hora, usando aquelas palavras.

Achei fantástico e em seguida resolvi tentar: pedi 3 palavras para ele e criei um plot em cima daquelas palavras. Foi uma experiência não só divertida, como também libertadora. Eu sempre digo que não tenho criatividade para pensar em plots para mestrar, e este exercício mostrou que se eu parar por alguns minutos, saem coisas legais. Neste dia, eu mandei os jogadores para a entrada da área de Tormenta de Tiberus usando as palavras batata, peteca e corno. Foi uma mesa tensa que eu adorei mestrar — e espero que os jogadores tenham gostado de jogar, apesar de algum trauma. 

Assim, pedi para alguns amigos 3 palavras enquanto escrevia este texto para mostrar pra vocês como funciona. Desde já, aviso que os plots serão inspirados em Tormenta 20, que é o que estou mestrando no momento.

Macarrão, gaivota e radioatividade

Puristas montaram um laboratório de testes nos limites com Svalas. Estão trabalhando com material radioativo para desenvolver geneticamente novos monstros e atacar o Reinado. Alguma coisa porém saiu errada: após uma explosão, uma gaivota gigante fugiu do laboratório e está aterrorizando as cidades mais próximas, além de roubar toda produção de macarrão dos arredores para se alimentar, principal atividade econômica da região.  

Parábola, inconstitucional e contagem

O Triunvirato de Tiberus tenta ainda manter a ordem e reerguer o que sobrou da cultura minotáurica. Porém, o senador Glabo Varaxus não concorda com o caminho conciliador e antiescravagista para o qual Pérola e Kelskan guiam sua civilização, e planeja um golpe inconstitucional. Ele irá sugerir uma eleição para novos membros e irá alterar a contagem de votos através de sua rede de influência política. Alguns de seus planos foram interceptados, mas não servem como provas porque estão escritos em código, como parábolas. O grupo precisa investigar e juntar provas para evitar que o povo minotáurico mergulhe novamente numa era de escravização.   

Seguro, trabalho e relatório

Um grupo de trabalhadores de uma mina de escavação de pedras preciosas em Trebuck consegue enviar uma mensagem pedindo ajuda. Eles foram contratados para trabalhar na mina com várias garantias, tendo sido assegurado que a maior parte do que fosse encontrado seria deles. Porém, a medida que o tempo foi passando e os relatórios foram mostrando que havia cada vez menos tesouros no lugar, o responsável os escravizou, retirando deles quase tudo que é garimpado. Sob forte vigilância e fracos pelas péssimas condições de trabalho, estas pessoas não têm como escaparem sozinhas. Precisam da ajuda de aventureiros capazes de acabar com este terror. 

Cachoeira, bolo e sertanejo

Os aventureiros são chamados por um nobre em Namalkah para resolver um problema: uma receita de um bolo de família, passado de geração em geração, foi roubada. Para protegê-la, existia uma única cópia. Eles devem investigar, descobrir e encontrar o responsável pelo roubo: uma sereia que se esconde em uma gruta atrás de uma linda cachoeira.  A forma de descobrir onde ela está é através de sua música, uma doce melodia sertaneja. Esta melodia, porém, quando ouvida por muito tempo, ou muito de perto, pode deixar fascinados aqueles de vontade fraca. 

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Viram como funciona? Levei cerca de 15 minutos pensando em cada plot. Claro que estes são ideias iniciais e algumas coisas precisarão ser organizadas, mas temos aqui o ponto de partida de várias tramas, pensadas como tipos diferentes de aventuras. No início, pode parecer meio assustador, mas vocês vão perceber que é mais fácil do que parece, e que pode ser muito divertido. Agora mandem mensagens para algum amigo, peçam 3 palavras e se divirtam com o caminho para onde esta aleatoriedade pode levá-los.

Agradecimento especial para Thiago Trot, que além de mandar 3 palavras foi quem me mostrou este método, e para Ricardo Correa, Lucas Felipetto e Diogo Stone, que mandaram 3 palavras para esta matéria.