Vida.
Uma palavra frágil demais para algo tão importante. Prefiro “existência”.
A minha começou num sopro, assim como a vida se vai.
Uma peça de carruagem velha, um moinho desativado há anos, uma ferradura, pedaços de uma construção desmoronada. Foi daí que vim.
Construída a marteladas, desmonte, remonte, fogo, derrete, endurece, furada, encaixada.
― Que nome dará, senhor?
― Achei engraçado o barulho que faz as suas engrenagens. Parece dizer: Liiiic.
― Lica?
― Será Lica. Doce, curto e inocente. Dê-lhe uma besta, virotes e espírito de caça.
Não ouvi esse diálogo, contara-me. Ainda não havia existência.
O sábio misterioso, como disseram-me, soprou em meu rosto. Não senti nada, não sentiria de qualquer forma.
― Como é despertar, Lica? ― Foi a primeira pergunta que me fizeram. Mas não a primeira palavra a me darem. Antes ouvi ordens, insultos e admiração.
― Não há experiência suficiente para te responder esta pergunta.
Para ser aquilo que fui criada
Vestira-me como humano para ser confundida e atacada primeiro. Os invasores nunca tiveram essa chance.
Eu não durmo. Não me canso. Nunca.
Passava dia e noite andando pelo perímetro com minha besta em mãos.
Criaram-me para ser certeira. Atirar primeiro, atirar para matar.
― Em qualquer circunstância, ouviu bem? Caçar é o seu dever.
Caçar era o meu dever.
Sentimentos são complexos para um coração de metal
Eu cumpri o meu dever.
Joselin, uma criada que não corria ao me ver, disse-me que o senhor estava com medo.
Medo. Guardei aquela palavra.
― Tente não ser tão…
― Não compreendo.
― Fria.
― Sou de metal.
Ela riu.
Vinte virotes atirados. Vinte alvos abatidos.
Então eu descobri o que era medo. Com o dedo trêmulo, o senhor apontou a saída.
― Besta! Monstro!
Não entendi quem eram aqueles, mas segui as ordens e sai.
Caçar é preciso. Viver não é preciso.
Caminhei sem saber para onde estava indo, apenas segui na direção que ele apontou. No caminho as pessoas queriam me dar tibares em troca de caça. Ganhei muito.
― Sabe onde você pode ganhar muito mais? Conhece Valkaria?
E segui o caminho que o halfling me orientou.
Um grande coliseu e seus dizeres “Arena de Valkaria” foi onde parei. Ajeitei meu chapéu e caminhei até o barbudo que segurava um pergaminho.
― Conhece o sistema?
Ele perguntou com uma sobrancelha arqueada.
― Vale tudo?
Ele sorriu. Assentiu com a cabeça e começou a anotar com uma pena.
― Nome?
― Lica.
― Só Lica?
― Só Lica.
― Preciso de mais. De essência, sabe?
Pensei. Tentei. Olhei para meu corpo e encontrei a essência ali.
― Metal.
― Lica Metal? ― Ele riu. ― Sei a parceira ideal para você. Talvez ela não te mate. Entre por ali e procure por Werna. Sua luta começa em 15 minutos. Boa sorte.
Sorte não é preciso. Apenas um alvo e um objetivo.
***
Lica Metal é minha personagem na Arena de Valkaria. Lutas em duplas no maior evento de gladiadores que Arton já viu! Acontece toda terça, às 20h, na Twitch da Jambô Editora. Perdeu as primeiras lutas? Não se aflija e assista lá no canal do YouTube!