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Lica Metal, a caçadora de aço

Vida.

Uma palavra frágil demais para algo tão importante. Prefiro “existência”.

A minha começou num sopro, assim como a vida se vai. 

Uma peça de carruagem velha, um moinho desativado há anos, uma ferradura, pedaços de uma construção desmoronada. Foi daí que vim.

Construída a marteladas, desmonte, remonte, fogo, derrete, endurece, furada, encaixada. 

― Que nome dará, senhor?

― Achei engraçado o barulho que faz as suas engrenagens. Parece dizer: Liiiic.

― Lica?

― Será Lica. Doce, curto e inocente. Dê-lhe uma besta, virotes e espírito de caça.

Não ouvi esse diálogo, contara-me. Ainda não havia existência.

O sábio misterioso, como disseram-me, soprou em meu rosto. Não senti nada, não sentiria de qualquer forma.

― Como é despertar, Lica? ― Foi a primeira pergunta que me fizeram. Mas não a primeira palavra a me darem. Antes ouvi ordens, insultos e admiração.

― Não há experiência suficiente para te responder esta pergunta. 

Para ser aquilo que fui criada

Vestira-me como humano para ser confundida e atacada primeiro. Os invasores nunca tiveram essa chance.

Eu não durmo. Não me canso. Nunca. 

Passava dia e noite andando pelo perímetro com minha besta em mãos. 

Criaram-me para ser certeira. Atirar primeiro, atirar para matar.

― Em qualquer circunstância, ouviu bem? Caçar é o seu dever.

Caçar era o meu dever. 

Sentimentos são complexos para um coração de metal

Eu cumpri o meu dever.

Joselin, uma criada que não corria ao me ver, disse-me que o senhor estava com medo.

Medo. Guardei aquela palavra.

― Tente não ser tão…

― Não compreendo.

― Fria.

― Sou de metal.

Ela riu.

Vinte virotes atirados. Vinte alvos abatidos. 

Então eu descobri o que era medo. Com o dedo trêmulo, o senhor apontou a saída.

― Besta! Monstro!

Não entendi quem eram aqueles, mas segui as ordens e sai.

Caçar é preciso. Viver não é preciso.

Caminhei sem saber para onde estava indo, apenas segui na direção que ele apontou. No caminho as pessoas queriam me dar tibares em troca de caça. Ganhei muito.

― Sabe onde você pode ganhar muito mais? Conhece Valkaria?

E segui o caminho que o halfling me orientou.

Um grande coliseu e seus dizeres “Arena de Valkaria” foi onde parei. Ajeitei meu chapéu e caminhei até o barbudo que segurava um pergaminho.

― Conhece o sistema?

Ele perguntou com uma sobrancelha arqueada.

― Vale tudo?

Ele sorriu. Assentiu com a cabeça e começou a anotar com uma pena.

― Nome?

― Lica.

― Só Lica?

― Só Lica.

― Preciso de mais. De essência, sabe?

Pensei. Tentei. Olhei para meu corpo e encontrei a essência ali.

― Metal.

― Lica Metal? ― Ele riu. ― Sei a parceira ideal para você. Talvez ela não te mate. Entre por ali e procure por Werna. Sua luta começa em 15 minutos. Boa sorte.

 

Sorte não é preciso. Apenas um alvo e um objetivo.

 

Lica Metal - Ricardo Mango

***

Lica Metal é minha personagem na Arena de Valkaria. Lutas em duplas no maior evento de gladiadores que Arton já viu! Acontece toda terça, às 20h, na Twitch da Jambô Editora. Perdeu as primeiras lutas? Não se aflija e assista lá no canal do YouTube!

Overdose de cura e a grande piada do destino

Olá, aventureiros! Espero que não tenha precisado de muita poção de cura por esses tempos. Sabem, hoje a crônica não é sobre uma personagem minha, mas a de uma amiga que deu muito azar com as poções de cura. Muito. 

Infelizmente eu não estava nessa campanha, mas a loucura foi tanta que passei horas ouvindo a história da criação da personagem dela. Seria uma ladina morta-viva, devota de um deus que não deve ser nomeado. Ela achava que tinha o background perfeito. Ela estaria infiltrada no grupo para colher informações ao culto que cresceu. Se passaria por uma humana-viva clériga de Khalmyr até alcançar certo ponto da campanha.

Apenas o mestre sabia.

Ela estava empolgada, coitada. Já ria malignamente só de imaginar como seria a revelação. Estava arriscando com uma personagem tão complexa e blá blá blá.

Pois bem. 

Começou a viagem para um templo de Tanna-Toh. Falsidade vai, falsidade vem, e ela acabou ganhando a confiança do grupo e virando a protegida deles. O mestre estava em êxtase com a interpretação dela, já prometendo ponto de ação pelo entretenimento.

A linha tênue entre a sorte e o azar

Tudo ia bem, tudo ia perfeitamente bem. Até que ― sempre tem um ― encontraram um monstro aleatório no caminho. A batalha foi feroz, ela não precisou mover um músculo a princípio e ia dando glórias ao seu deus toda vez que alguém não precisava de cura.

Sua participação foi bem fraquinha. Fazia uns testes pedidos pelo mestre para conseguir “abençoar” seus companheiros. Tinha que tentar ferrar um deles sem que percebessem para conseguir poderes do seu deus para continuar enganando… Mas não foi nada muito trabalhoso.

O bom é que no meio da batalha, com todos de olho em suas próprias fichas, ninguém percebeu que ela tentava mais atrapalhar do que ajudar.

O monstro estava quase acabado. Quase.

O mestre, com a benção do deus do caos, tirou um acerto crítico que resultou num ataque direcionado muito poderoso. Foi tirado no dado quem seria o felizardo.

Ela já chorava internamente. Pensava “Por que logo clériga? Devia ter feito uma ficha de guerreira ou lutadora.” Não precisaria usar magia e ainda poderia mentir que distribui errado seus pontos. Agora teria que curar o azarado para que sua missão desse certo.

Mas já sabem que não foi nenhum dos companheiros o atingido.

O mestre gargalhou. Os outros ficaram sem entender. Ela… Bom, ela encostou a testa na mesa e sussurrou: Manda.

O ataque foi brutal. Desmaiada, quase “morta”. 

Não chore. Ainda dá para piorar

“Eu tenho poção de cura aqui.”

Foi o que um gentil companheiro gritou tentando ajudar.

E vocês sabem o que acontece quando dá poção de cura a um morto vivo, né?

O mestre teve que desligar o microfone e para rir e pediu uma pausa. No privado ele questionou o que ela faria. Por ser uma morta nova, ainda não precisava disfarçar sua forma cadavérica. Mas, ela iria morrer se eles continuassem.

Ela perguntou se poderia usar o ponto de ação e ele deixou quando chegasse na vez dela, disse que tentaria ajudar. Ele, tanto ou mais que ela, não queria perder aquela personagem.

Voltando da pausa, os dois descobriram que os companheiros ficaram conversando durante a pausa sobre métodos para salvá-la. Um deles disse que gastaria o restante de mana que tinha para recuperar toda a vida dela.

Ela tentou argumentar que não precisava, que eles poderiam continuar lutando, mas a conversa foi findada para não interferir na campanha.

Quase aos prantos, ela viu o nobre companheiro sacrificar todo os eu mana para salvá-la. Nisso, ela já ia olhando o Manual para criar a sua nova personagem.

Depois de toda uma encenação mágica de cura, cheia de brilho e palavras bonitas. Os companheiros ficaram confusos quando o mestre perguntou se ela havia morrido e ela respondeu que sim.

O mestre, não sabendo se ria ou se chorava, narrou que a tatuagem da raposa apareceu no pescoço quando “a vida” deixava aquele corpo. Ao fundo, o riso esganiçado de um deus podia ser ouvido quando se davam conta de que andavam com uma traidora. Uma traidora, que por uma piada ruim do destino, morreu por uma overdose de cura.

Tem uma história legal que queira ser contada aqui no blog? Entre em contato comigo através do [email protected], ou pelas minhas redes sociais Instagram e Twitter

Leia as outras crônicas de RPG aqui.

Vai ser uma honra narrar suas aventuras.

Minha primeira personagem: Donzela indefesa? Aqui não!

Olá, aventureiro! Pronto para conhecer mais uma personagem minha?

Espero que esteja jogando muito RPG e criando histórias fantásticas nestes tempos sombrios. Se você está precisando de um incentivo ou inspiração para se aventurar, aconselho que leia alguns artigos aqui do blog sobre o assunto. Tem muita informação legal que pode enriquecer demais seus conhecimentos RPGísticos!

Pensando sobre a contribuição positiva que o RPG está dando na minha vida nesta pandemia, voltei às origens e lembrei da primeira vez que joguei.

Aula de Artes para quê? Para fazer arte!

Tinha 16 anos, era aula de Artes e eu não estava muito interessada (Não façam isso, crianças. Prestem atenção nas aulas!). Vi dois colegas jogando num cantinho e fui de intrometida perguntar “O que estão fazendo?”

Em minutos eu já tinha uma ficha pronta: filha do deus Apolo, semideusa e arqueira. O sistema era bem simples, mas a história era super complexa e cheia de inimigos poderosos.

 Lembro que meu poder vinha do sol (obviamente) e fui aprendendo a usar isso a meu favor nas campanhas. Então, ao entender a lógica do jogo fui crescendo, crescendo, upando e me divertindo.

Cada vez que nos reuníamos eu queria tentar algo diferente. Abusar da criatividade para criar cenas cada vez mais épicas e sentir aquela sensação de estar sendo uma heroína.

Até que entrou um NPC que seria recorrente.

Algo de errado não está certo…

De alguma forma, a minha personagem caia em situações cada vez mais impossíveis de sair. Sem sol para lhe dar poder ou contra um inimigo que apenas aquele NPC tinha poder para lutar contra.

Minha personagem se tornou a donzela indefesa.

Esse NPC tinha um background que o empurrava para ser par romântico da minha personagem. Estava sempre por perto, cantando e tentando ser lisonjeiro. Uma vez que deixei a narrativa seguir assim e nunca mais consegui me livrar.

Toda vez a minha personagem chegava perto da morte e eu já esperava o belo e poderoso herói vir me salvar. O mestre parecia se divertir mais jogando com esse NPC do que mestrando em si. Mas só ele estava se divertindo.

A situação estava chata. Eu não queria mais jogar, mas tinha medo de acabar atrapalhando a mesa ou algo similar. Não queria ser um estorvo e isso continuou por tempos.

Mas você acha que eu nunca reclamei? Que ficava passiva diante disso? De forma alguma! Mais de uma vez tentei explicar que estava chato ficar esperando o herói ir me salvar, mas de nada adiantava. Nas campanhas, eu apoiava o queixo na mão e dizia já cansada: “Não se preocupem, o fulano já tá chega para salvar todo mundo.” 

Porém, um dia, a minha personagem rompeu com esse fulano sem motivo algum. “Um absurdo”, dizia o mestre, “ele era tão foda!” 

Me revoltei mesmo. 

Donzela Indefesa? Essa personagem não me cabe

Fiz o que eu queria. Ignorava o que o NPC tentava me falar, mas ele continuava atrás de mim. Até que tive uma DR dentro do jogo, gritando para que ele me deixasse em paz. Que deixasse eu trilhar o meu caminho sozinha. 

Contudo, os dados me ajudaram muito (quando o mestre não estava muito a fim). 

Lembro bem dessa cena. Estava presa num calabouço escuro, tinha apenas mais uma flecha e todas as respostas para as perguntas “bobas” que fiz. 

“Tá chovendo? Nublado?”

“Esse calabouço é feito do que? Todo ele? A flecha que tenho atravessa?”

Perguntei se tirasse um crítico eu poderia quebrar uma parede com o tiro. O mestre disse que sim.

Tirei um acerto crítico, mas invés da parede, mirei no teto (que era do mesmo material) e arrebentei. Então narrei que o sol entrou, já que o dia não estava nublado, e pude usar o poder de semideusa filha de Apolo (ponto que estava esquecido depois de tudo). 

Finalizei o Final Boss com um brilho solar que batia contra o poder das trevas dele. Não tinha como tirar essa glória de mim, da minha personagem.

Nunca mais joguei com esse mestre. Não foi divertido.

Desculpem pela falta de comédia dessa vez, mas é que às vezes não tem graça mesmo.

Dia Internacional da Mulher: Um compilado de posts e uma promoção imperdível

Não que seja novidade para alguém, mas em 8 de março comemoramos o Dia Internacional da Mulher, uma data usada como marco no mundo para as lutas das mulheres em busca de um mundo mais igualitário. Aqui no blog tivemos diversos posts dedicados às mulheres da casa, e decidimos compilar todos aqui para que vocês possam encontrar o conteúdo de forma mais prática.

Além disso, a Jambô vai marcar presença neste dia oferecendo um cupom de 20% de desconto em todas as obras criadas ou protagonizadas por mulheres disponíveis em nossa loja! Para participar, basta usar o cupom GRLPWR na hora de fazer a compra dos livros que estão participando da promoção até o dia 12 de março.

Elisa Guimarães, tradutora de Arquivos de Poder

Ficha de Wanda e Visão para Mutantes & Malfeitores 

Aproveitando o grande sucesso de WandaVision, série protagonizada pela poderosa Wanda Maximoff, a Feiticeira Escarlate do universo da Marvel, Elisa Guimarães fez fichas dos protagonistas da série usando as regras do RPG Mutantes & Malfeitores, já aplicando alguns poderes exclusivos do suplemento futuro Arquivos de Poder, que também está sendo traduzido por Elisa.

Resenha de Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes

A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, o mais novo livro da série Jogos Vorazes, escrito por Suzanne Collins, deixa um pouco de lado o ponto de vista da icônica rebelde Katniss Everdeen para explorar a juventude do vilão Coriolanus Snow. No blog tivemos uma super resenha pela nossa multi-diplomada redatora Tais Turaça Arantes.

Karen Soarele, escritora de A Deusa no Labirinto

A Deusa no Labirinto: Quando a fantasia critica a realidade

Como podemos explorar os males do mundo real a partir da ficção de fantasia? É essa a questão de Waldir L. Santos levanta ao analisar A Deusa no Labirinto, obra da romancista Karen Soarele para o universo de Tormenta que transformou o mundo de Arton para sempre.

Karen Soarele é finalista do 62º Prêmio Jabuti com romance ambientado em Tormenta

E já que o assunto é A Deusa no Labirinto, vocês sabiam que o livro foi finalista no 62º Prêmio Jabuti, o mais importante da literatura brasileira? O livro competiu com outras obras de autores renomados e mostrou mais uma vez que não existe lugar no mundo que não possa se tornar área da Tormenta.

Carine Ribeiro, tradutora da série A Lenda de Drizzt

O que são fanfics e como elas estão ganhando o mercado editorial

Astral, romance de Marcela Alban para o Selo Odisseias, começou como uma fanfic de Naruto, e Waldir L. Santos falou sobre a importância das criações de fãs para a literatura, e como muitas obras podem partir disso para ganhar vida própria.

Perdido na ordem de leitura de A Lenda de Drizzt? A gente te ajuda!

Nossa querida tradutora amiga dos elfos, Carine Ribeiro, vem trabalhando na saga de Drizzt Do’urden desde o volume 1, lançado pela Jambô com uma nova tradução. Para facilitar a vida de quem quer se aventurar por Forgotten Realms com o elfo negro mais famoso da literatura, nós montamos este guia.

Lançamento: A Lenda de Drizzt Vol. 5 — Rios de Prata

E falando em Drizzt, você já leu Rios de Prata? O 6º volume da série é também o segundo na famosa Trilogia do Vale do Vento Gélido, que será concluída em breve com o lançamento de A Joia do Halfling, também traduzido por Carine Ribeiro.

Marcela Alban, autora de Astral

3 curiosidades sobre Astral, de Marcela Alban

Como transformar um fanfic baseado em um anime shonen de ninjas em uma comédia romântica sobre a louca dos signos? A autora de Astral compartilhou 3 curiosidades sobre seu romance com a gente.

3 Curiosidades sobre A Deusa no Labirinto

Sabia que cada encantamento de Gwen foi cuidadosamente construído com ritmo e métrica de poesia por Karen Soarele? Aqui você encontra curiosidades compartilhadas com a gente pela autora de A Deusa no Labirinto.

5 mulheres falam sobre 5 heroínas de Tormenta

Arton é um mundo povoado também por poderosas figuras femininas. No post especial do Dia Internacional da Mulher do ano passado, trouxemos 5 mulheres para falar um pouco sobre suas heroínas preferidas de Tormenta.

Dia Internacional da Mulher com as redatoras do blog

Além disso, temos as autoras na equipe do blog da Jambô produzindo conteúdo sobre RPG e literatura:

Camila Gamino, com dicas para jogadores novatos de RPG.

Elisa Guimarães, com dicas para jogadores experientes de RPG.

Marcela Alban, com crônicas vindas diretamente das mesas de jogo.

Taís Turaça Arantes, com resenhas de literatura.

Leia mulheres neste 8 de Março!

Aqui você encontra todos os materiais do nosso catálogo escritos, traduzidos ou protagonizados por mulheres! Com o cupom GRLPWR você ganha 20% de desconto nesses livros e quadrinhos até o dia 12/03.

Ally e as 6 cabeças: Como uma caçadora quase matou o grupo todo lutando contra uma hidra

medusa caçadora

Era uma vez uma jogadora que estava cansada de sair de sua zona de conforto e lutar corpo a corpo com espadas e adagas. Ela queria sentir a sensação imaginária da corda de seu arco, a musculatura intangível tremendo ao puxá-la após posicionar uma flecha, a brisa irreal que triunfa com o tiro certeiro. A pose da caçadora.

A antiga caçadora volta às origens

A caçadora em questão era eu (surpresa). Acostumada a jogar com um arco longo e ter os animais como aliados, tinha deixado de lado aquela ideia de tentar jogar com outras classes e voltei às raízes de arqueira.

Com o T20 e decidi que não usaria mais as raças que comumente escolhia (humano, elfo) e criei a minha caçadora. Maravilhosa com cobras albinas na cabeça, origem de batedora numa guilda de caçadores. Eu tinha pouca inteligência, mas uma pontaria que olha…

Caçadores apelões e ficha apelona

Fui convidada para uma mesa em que o pessoal já estava no nível 13. Vou te falar que nunca cheguei nem perto disso, sempre morria antes ou acabava a campanha. Fui bonecar com uma felicidade.

Lendo todas as raças, decidi pela medusa: imponente, mística, arrebatadora. Já tinha a personagem perfeita na minha cabeça, mas precisava rolar os dados para distribuir nos atributos e vocês sabem como Nimb adora tirar uma com a nossa sorte.

Tirei um 18. O resto… Pelo menos eu tinha boa Destreza.

Peguei umas habilidades de classe incríveis: Ambidestria para atirar com as duas mãos, saque rápido para não gastar ação de movimento, disparo rápido para poder atacar duas vezes na mesma rodada… Ainda podia contar com os companheiros de equipe que aumentavam pontos de ataque e dano.

Burrinha e tudo, mas com um coração gigante, minha medusa Ally apareceu mostrando para que veio. Sua primeira grande batalha então foi contra uma hidra. E vocês sabem como se mata uma, né?

Corta uma e nascem duas

Já adianto que terminei a sessão quase morta e matando um de meus companheiros.

Meus tiros eram fatais. Meus dados não eram barrados por defesa alguma. Eu era um monstro naquela mesa. Acertei tooodos os ataques, cortando cabeças a rodo com uma única flecha.

Eu sabia que tinha que queimar o pescoço da criatura depois de cortada a cabeça. Eu juro que sabia. Tanto que usei uma de minhas bombas para cauterizar os dois pescoços decaptados na primeira rodada.

Até acabarem as bombas…

Tinha ainda um inventor no grupo e deixamos ele encarregado de cauterizar os pescoços que íamos cortando, estava tudo dando certo até que eu não percebi em que terreno estávamos.

Com dois críticos SENSACIONAIS – devo ressaltar – cortei as 3 últimas cabeças e o monstrão caiu no lago…

Lago…

Todos estavam felizes! Quase dancei com a minha quase vitória. Só faltava cauterizar e não tinha como errar com a hidra ali desacordada.

Mas fogo não pega em água. Não se você não tirar um acerto crítico.

Nasceram SEIS CABEÇAS. SEEEEEEEEEIS. Ao invés de ter apenas cortado duas e deixado cauterizar para depois cortar a última e dar um FATALITY, tive que me aparecer com minhas habilidades incríveis de caçadora.

Nesse meio tempo fomos atacados, quase morri. O amigo clérigo me curou e ficou sem mana, não conseguiu se defender dos ataques da hidra e morreu.

Restou ao inventor fazer alguma coisa — uma ação que podia ter dado muuuuito errado — e derrotou a hidra.

Queria dar um final digno dizendo que voltamos vitoriosos, mas vou saber só no próximo encontro. Talvez eu volte para contar o desfecho da aventura.

 

Armas apelonas e lembranças de um funk antigo

halfling ladino

Primeiramente me digam: Vocês já ouviram sobre a lenda do mestre bondoso? Aquele mestre que é tão gente boa que você apenas espera que um monstro ND 100000 aparece a qualquer momento de tão perfeito que está indo tudo?

Pois bem, eu tive um mestre assim.

As maravilhas do mestre bondoso

Ele dava armas muito legais para a gente, narrava nossas vitórias e derrotas de forma empolgante, criou mapas incríveis e incentivava o role play.
O grupo também não ficava para trás. Tínhamos um paladino humano super honrado e que era o equilíbrio no grupo, dois bárbaros (um humano e uma anã, eu no caso) com o coração enorme que só pensavam em dar cabeçada e beber uns alcoóis, e um halfling ladino que… Bom, vou chegar nele. Todo esse contexto é para entender porque o mestre deu uma arma que faria o maior plot twist que já vi.

A história era macabra se parar para pensar nela, mas o grupo deixava muitas situações bem humoradas, tudo de acordo com a personalidade e alinhamento. Nisso, o halfling ladino se destacava com estratégias que o mantinham longe da batalha, mas muito ativo indiretamente. Os bárbaros entravam em fúria quando recebiam um dano e saíam atacando tudo e todos, mas sem sair do role play conseguíamos não tirar — muito — dano dos aliados. O pequenino, se aproveitando disso, ficava invisível (com uma magia) e… bom… dava tapas no bárbaro… bom… Vou tentar ilustrar a cena.

O golpe surpresa e a fúria do bárbaro

O bárbaro, usando apenas uma tanga de peles feita por ele mesmo, estava segurando sua espada com as duas mãos e bufando de cansaço e raiva. Nenhum ataque ao inimigo foi efetivo, sua lâmina não parecia afiada o suficiente. Ou seria a sua força heróica esvaindo-se com a insegurança da batalha? Em breve o paladino morreria e a pobre anã seria pisoteada após um crítico erro no golpe que a levou ao chão. Tudo estava perdido.

Então, não mais que de repente, a nádega esquerda do bárbaro (imaginem isso em câmera lenta) tem uma pequena mão sendo moldada. Dedo a dedo. Palma inteira. Uma mão invisível desenhada no monte de gordura e músculos acumulados nos anos de treinamento. Um dor mínima, mas que foi mais eficiente que os golpes dados pelo inimigo a sua frente, foi o suficiente para despertar a fúria que abastecia o seu poder oculto.

Sim, o halfling ladino, sem querer, tirou dano do bárbaro com um tapinha no bumbum e ativou o modo berserk do grandalhão. Não sobrou inimigo para contar história depois dessa. A anã entrou em fúria num certo momento e os dois começaram a bater cabeça — literalmente — num combate ridículo. Mas não é a audácia desavergonhada do halfling que trouxe o maior plot twist da história. Não, não.

O lendário mestre bondoso nos deu algumas armas muito poderosas, o meu machado tinha umas sombras que ajudavam no dano e davam uma descrição incrível nas narrativas dos combates. O halfling ladino ganhou uma adaga decapitadora que só conseguiria decapitar com um crítico de 20. O jogador não era muito sortudo para isso e acreditamos que jamais conseguiria decapitar algo/alguém.

Risos.

O grande plottwist

Já sabem que ele conseguiu, né? Mas não foi com qualquer um e nem em qualquer batalha. Era a última luta, aquela épica, onde a gente tem que beber todas as poções de cura possíveis antes de tirar metade da vida do cara. Daquelas lutas que você tem certeza que vai ter que fazer uma ficha nova porque já era, sabe? Uma luta que o mestre esperava que duraria pelo menos meia hora de sessão para finalizar.

Acabou em 3 ataques.

O bárbaro atacou e foi um dano legal, mas baixo. A bárbara atacou e foi satisfatório, mas nada de mais. Aí o pequenino, sempre nas sombras, cutucando todo mundo com a sua invisibilidade, atiçando ações de bravura e loucura com sua linguinha afiada, tirou um crítico que deixou todo mundo mudo.

Um golpe e matou o chefão.

O mestre não tentou salvar seu NPC, não tentou usar sua vantagem para continuar a batalha. Havia sido épico e ele abraçou a cena e narrou o final com tanta empolgação e emoção que ficou guardado para sempre na minha mente.

O halfling ladino matou o boss e aquilo foi incrível!

Ok, legal a história. Mas o que tem a ver um funk antigo com isso? É uma piada ruim, mas eu só pensava nessa música como trilha sonora para a participação do ladino na campanha.

“Dói, um tapinha não dói…”

Tá, parei.

Disclaimer: Nenhum “tanker” se sentiu ofendido por não ter dado o golpe final no chefão.

Dragão Brasil 162: overview da edição de dezembro

Capa da DB de dezembro - edição 162

Prontos? Então, aqui vai o overview da Dragão Brasil 162, a edição de dezembro!

Matéria de capa e principais destaques

Na matéria de capa alternativa da Dragão Brasil 162, Thiago Rosa traz o culto de Lamashtu para 3D&T e Tormenta20. A matéria tem uma ilustração inédita feita pelo Samuel Marcelino.

CAPA ALTERNATIVA DA EDIÇÃO 162

Além disso, a Dragão Brasil 162 conta com:

  • Dicas de Mestre: Paladino nos fala sobre grupos equilibrados numa aventura, o que são, se o equilíbrio faz bem mesmo para o jogo e quais são os principais impactos.
  • Toolbox: Leonel Caldela trouxe o impacto dos cliffhangers na aventura e como utilizar o recurso para criar suspense e fisgar o público.

recorte da edição 162 da DB

  • Caverna do Saber: Felipe Della Corte nos falou sobre como encontrar o equilíbrio de ND ideal para o seu grupo em T20.
  • Gabinete de Saladino: Rogerio Saladino nos traz uma lista com os melhores de 2020.
  • Além disso, temos a nova coluna da DB: Os Gloriosos Diários de Arius Gorgonius Dubitatus, personagem de Fim dos Tempos, jogado por Guilherme Dei Svaldi, que traz uma visão única sobre as aventuras da mesa canônica de Tormenta20 mestrada por Leonel Caldela.

Notícias do Bardo

A Dragão Brasil 162 também traz as tradicionais Notícias do Bardo, que anunciaram os recordes que o RPG vem alcançando no financiamento coletivo brasileiro com as campanhas “Ordem Paranormal: enigma do medo” e “Nerdcast RPG: Coleção Cthulhu“.

Resenhas

Também como de praxe, temos resenhas na Dragão Brasil 162. Felipe Della Corte resenhou o comentado jogo Cyberpunk 2077 e Davide Di Benedetto falou sobre O Mandalorian.

Outros destaques

E enfim, temos os demais destaques. No Pergaminhos dos Leitores, os apoiadores mandaram suas dúvidas e comentários para serem respondidos pelos editores e colaboradores na edição.

No Pequenas Aventuras desta edição, o Davide Di Benedetto nos leva para A Lei do Tear. Enquanto em Chefe de Fase, o Thiago Rosa nos trouxe informações de como utilizar O Mandaloriano em aventuras.

Na adaptação de dezembro, que é capa da edição, o Bruno Schlatter trouxe como adaptar Yakuza para 3D&T e Karyu Densetsu.

a adaptação do mês da DB

Nesta edição, temos o conto “Alado” de Marcela Alban. A tradicional Gazeta do Reinado traz notícias do mundo de Arton.

No Encontro Aleatório, Glauco Lessa falou sobre tipos de RPGistas. Bem como em Tesouros Ancestrais, Marlon Teske, Saladino, Marcelo Cassaro e Eduardo “Cavaleiro Morto” nos trouxeram a segunda parte das regras para adaptar Holy Avenger para 3D&T e Tormenta20.

Sobre a Dragão Brasil

A Dragão Brasil é uma revista de RPG, literatura fantástica e cultura nerd. A princípio, vendida nas bancas na década de 90, ela está de volta desde 2016 em formato digital, sendo desenvolvida pela mesma equipe dos primórdios. Todos os meses, traz conteúdo inédito de grandes nomes do mercado nacional com adaptações, contos, resenhas, notícias e dicas para mestres e jogadores.

A revista é mantida por meio de financiamento coletivo recorrente, ou seja, ela existe graças aos leitores! Seja você também um dos nossos apoiadores e receba conteúdo exclusivo todos os meses! Quanto mais pessoas se unirem a nós, mais metas serão batidas e melhor a revista fica. A partir de R$ 7, você já garante sua revista e nos ajuda neste projeto!

“Background misterioso”: A preguiça do jogador e a vingança do mestre

background em rpg

A história que vou contar hoje vem com uma lição de moral que TODO jogador de RPG deveria levar para a vida: a importância de criar um background para o seu personagem.

Cadê o backgroud que devia estar aqui?

Eu mesma era muito preguiçosa para criar uma história antes da aventura, um porquê o meu personagem estar ali, suas motivações, passado trágico, medos, amores… Tenho amigos que faziam um verdadeiro conto épico com datas, nomes e árvore genealógica. Um orgulho!

No entanto, tive um amigo que não se preocupava muito com isso e acabou criando o background mais preguiçoso e clichê de todos. Nem preciso resumir, ele era um mago que não se lembrava do seu passado, não tinha pais e havia sido criado por um homem que virou seu mestre. Fim.

O mestre (um daqueles amigos que desenvolve uma história fantástica a cada personagem que joga), sádico como é conhecido, até deu a chance dele criar algo a mais para incrementar o personagem, mas o inocente disse que já estava bom.

Foi com o sorriso do mestre seguido de “Você que sabe” que me fez perceber que o coitado do mago (preguiçoso, mas coitado) seria o alvo da vez.
Vocês já se ferraram muito no RPG? Tipo, tudo de ruim que poderia acontecer, acontecia logo com o seu personagem? Mas não pergunto isso sobre um dia de campanha, ou uma luta/desafio específico. O mago se ferrou a campanha inteira. INTEIRA.

“Não ter um background me dá liberdade para criar o que eu quiser.”

O mago perdeu suas magias, descobriu que seus pais faziam parte de uma organização do mal e que o abandonaram, teve um arco todo de busca ao seu mestre que estava preso numa gruta, em tamanho gigante, sendo comido vivo por vermes e morrendo na frente do nosso amigo ferrado depois de um triste discurso. Esse último foi traumatizante (rindo de nervoso aqui).

Eu morria de dó, claro, mas me divertia a cada expressão de tristeza do mago quando o mestre começava a rir malignamente na rolagem de dados. Teve uma vez que ri muito porque (não lembro o porquê) ele ficou careca, como um cosplay chateadíssimo do Ripp (Ledd). Mas a gozação deu lugar à caridade, e minha paladina de Thyatis (sim, a zumbi) doou parte do seu cabelo para que o companheiro de aventura usasse como peruca.
Ficou ridículo, pelo menos na minha imaginação.

Lição dada, lição aprendida

Apesar dos pesares, o mago fez uma campanha muito boa! Conseguiu se reinventar, criou formas de usar sua magia limitada em situações de perigo e salvou nossas vidas. Por fim, a sua jornada foi a mais épica e acabou sendo o ponto principal da nossa campanha em certo ponto. Mesmo que ele não tivesse se esforçado tanto e preferisse ser apenas um personagem sem grandes histórias que queria se aventurar,. Daria um ótimo livro.

Não joguei novamente com esse amigo depois, mas fiquei sabendo que ele mudou muito e que hoje cria histórias mais consistentes e bem amarradinhas, movido pelo medo de ser torturado novamente.

Não há problema algum em ter um personagem misterioso e com um passado que precise ser um segredo, isso também é background. Meu conselho é que conte pelo menos ao mestre a sua história e deixe que ele te ajude a manter o enredo e enriquecer ainda mais o seu personagem.

Não seja preguiçoso e boa campanha!



Podcast Dragão Brasil 76: Síndrome de Estocolmo Gamística

Do meio das estrelas, chegou seu podcast favorito!

No podcast de hoje, J.M. Trevisan fala tudo o que ainda não foi dito sobre seu novo filho, o Playstation 5, Karen Soarele vive uma situação de sequestro mental com o game For the King (que é bom, mas é ruim, mas na verdade é bom), Camila Gamino conta como finalmente conseguiu jogar RPG com Felipe Della Corte, e nossa estreante, Marcela Alban, autora de Astral, confessa como foi sugada para o mundo das guildas de Tormenta! Temos também as dúvidas dos Conselheiros e muita bobagem!

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Twtich da Jambô: twitch.tv/jamboeditora

Livro novo de Eduardo Spohr: Santo Guerreiro – Roma Invicta

Créditos
Participantes:
J. M. Trevisan (Twitter | Livros), Karen Soarele (Twitter | Livros), Camila Gamino (Twitter), Marcela Alban (Twitter | Livros)
Edição: Adonias Marques (Instagram)

Juca Pirama: Marcado para Morrer — um cenário com cheiro de café e fuligem

juca pirama: marcado para morrer

Empolgante, apaixonante e inspirador, Juca Pirama: Marcado para Morrer, de Enéias Tavares, nos oferta uma história repleta de lições incríveis, discursos cheios de poder e traz a tona assuntos que perseguem a nossa sociedade desde antes do século XX.

Juca Pirama: Marcado para Morrer
Um malandro com senso de justiça

“— Pode me chamar Juca Pirama, esse é meu nome, e eu aceito a sua proposta — disse ele, apertando forte a mão do sujeito. Depois de soltá-la, o conta-vinténs olhou para ela e a limpou na calça.”

Com um protagonista cheio de personalidade, um passado misterioso e uma personalidade marcante, Juca Pirama é conhecido nas ruas de uma São Paulo do século XX por seu jeito malandro, sua índole questionável e a sua cartola. Não tem casa, dorme onde dá e come quando dá. Com um forte senso de justiça, está sempre envolvido em confusões, e é depois de uma que ele é contratado para um trabalho um tanto inusitado: Guarda-costas de Cassandra Gouvêa.

Cassandra é poderosa em todos os sentidos. Seu pai desapareceu e os principais suspeitos são homens que fazem parte de uma sociedade influente. De temperamento forte e sedutor, Cassandra deixa o simplório Juca Pirama encantado e à beira da paixão.

Liberdade e igualdade

“Juca, que tinha embarcado nessa aventura sem nada esperar, passava a simpatizar com aquela mulher e sua postura enérgica e ferina.”

Determinada a não ter os negócios de seu desaparecido pai tomados por homens ricos e com o machismo intrínseco à sociedade, Cassandra não se acovarda e bate de frente para defender seus interesses e direitos. O que deixa o trabalho do malandro, de mantê-la a salvo, bem difícil.

Os discursos são pontuais, mostrando o lado bom e ruim da pobreza e da riqueza. Falando sobre a liberdade dos dois pontos de vista, da justiça e da política. Do lugar da mulher na sociedade e em como as mudanças para os dias de hoje ainda são ínfimas.

Cafés, robôs e poder

“Mas escreva minhas palavras, Juca: em breve elas estarão em outras posições. Dê-me dez anos, força para lutar e dinheiro para investir e eu mostrarei a todos eles uma São Paulo e uma Pauliceia que nunca poderiam sonhar, um lugar onde homens e mulheres terão iguais oportunidades.”

E o final? Amantes da literatura nacional terão empolgantes surpresas que farão implorar por uma próxima aventura.

Com plot twist e cenas de ação de tirar o fôlego, Juca Pirama: Marcado para Morrer consegue comover e encher o leitor de entusiasmo num cenário com cheiro de café e fuligem, carruagens autônomas e serviçais robóticos, poder e manipulação.

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Elessa, a amaldiçoada paladina de Thyatis

Thyatis

A história que irei contar hoje é cheia de terror, mistério e… mortos-vivos.

Tudo começou quando decidi que não iria jogar de ranger ou druida. Sairia da minha zona de conforto e pegaria uma classe mais “agressiva” em batalha, trocaria o arco por uma espada e teria que levar penalidade em locomoção por usar armadura. Delícia.

Se eu dissesse que demorei para decidir que classe eu jogaria, estaria mentindo. Desde que li sobre o Paladino de Thyatis eu soube que eu queria ser imortal (insira aqui uma risada maligna). Criei minha primeira e, por enquanto, última paladina. Elessa. Num resumo grosseiro ela era de Tamu-ra, fugiu da Tormenta numa aventura marítima que quase a matou afogada, teve uma revelação em sua quase morte e acabou virando uma devota do deus da ressurreição e da profecia.

A paladina de Thyatis

Para quem não tem muita familiaridade, um paladino de Thyatis, além de outros poderes concedidos, também tem a dádiva de voltar a vida quando morto. Isso, porém, não o torna invencível. Há a Morte Verdadeira, algo que tirará, definitivamente, a vida do devoto e que só poderá ser revelada (pelo sumo sacerdote ou pelo próprio deus) após uma missão ser cumprida. E a Morte Verdadeira pode ser com qualquer coisa! Picada de abelha, envenenamento por uma planta minúscula, afogar com a própria saliva, ser decapitado pelo Arsenal…

Voltando, eu estava bem feliz. Ia de peito aberto nas batalhas, fazia meus discursos regados de moral e bons costumes, movia meus cabelos lisos e negros dramaticamente a cada “espadada” bem dada. Tudo ia bem e acabaria bem se o mestre não fosse um projeto de Leonel Caldela. No nosso grupo havia um mago. Este jogador era preguiçoso e não montou um background decente para a sua personagem. O mestre sorriu com as várias possibilidades na frente dele.

Não vou contar tudo o que aconteceu, pois isso dá outra história, mas resumindo: o coitado estava todo estropiado, careca (cabelo era motivo de orgulho para ele) e cheio das maldições. Até cortei os meus belos cabelos de tamuraniana e ofereci para meu pobre companheiro calvo. Ou seja, o mestre não perdoava. Aparentemente a minha imortalidade era dádiva demais, então ele conseguiu amaldiçoar a minha paladina de Thyatis.

As desvantagens de ser “imortal”

Agora tire as crianças da sala, a coisa vai ficar sinistra: Toda vez que a Elessa morria, eu tinha que jogar um D6 para ver quantas rodadas ela ficaria como ZUMBI. Nesse estado não havia amigo ou inimigo. Quem estivesse na frente dela levaria porrada sem dó, sem piedade. Não podia falar, não podia escolher qual arma usar, não podia escolher o alvo ou se preferia não atacar. Ela virava uma máquina maluca de matar. A pele ficava verde, os olhos sem vida e opacos não miravam em lugar nenhum, o corpo curvado se jogava para cima de quem estivesse mais perto. Numa dessas eu quase matei uns companheiros. Os diálogos eram mais ou menos assim:

— Juro que não queria cortar seu braço, desculpa!
— Você ainda consegue andar? Desculpa!
— Ouch! Não era para tirar esse 20 contra meus parça. Segura as tripas aí que já eu te curo.

Meus companheiros resmungavam e batia a cabeça na mesa toda vez que eu chegava perto da morte. O mestre, rei da sadismo, gargalhava. Eu chegava a ver ele tremendo de excitação! Era monstruoso, grotesco, infame! Confesso, eu adorava… Não fazia muita questão de me curar durante a batalha e ia completamente alucinada com a espada em mãos.

Moral da história: Sair da zona de conforto pode render os momentos mais insanos, imprevisíveis e divertidos numa campanha. E não há mal nenhum em mudar algumas regras para ajudar o jogo à dinâmica do grupo. 

E você? Tem alguma história engraçada de quando saiu da zona de conforto na mesa? Conta para a gente nos comentários!

PS: Nunca chegamos ao fim da campanha, então irá viver como eu, sem saber qual seria a Morte Verdadeira de Elessa.
Durmam com isso, crianças.

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Quando o suporte do grupo decide atacar primeiro e perguntar depois

Quando o suporte do grupo decide atacar primeiro e perguntar depois

O ano era 2019. Em minhas mãos estava um dos playtests de Tormenta 20. Havia uma nova raça, com nome estranho, que demorei para me familiarizar. Escolhi jogar com uma dahllan.

Antes de mais nada, as meio-dríades, ou dahllan, foram incluídas no T20 após a busca por uma nova raça que tivesse um representante icônico no cenário, no caso Lisandra de Holy Avenger, e alta sabedoria. Se quiser saber melhor dessa história, corre lá na DB 144 e se delicie no “Dicas do Mestre”.

Contudo, não estou aqui para dar a ficha técnica dessa raça. Vim para contar um causo e, quem sabe, ganhar mais fieis à iniciativa dahllan…

Voltando a 2019 e minha ficha (que, se fosse um espelho quando a finalizei, estaria refletindo um sorriso maníaco), eu estava ansiosa demais para testar o novo sistema. Não me recordo de todas as raças na mesa, mas lembro-me de ter um humano paladino, um ladino, um mago e a druida aqui.

Jogo vai, jogo vem…

Eu, dentro da personagem com bastante sabedoria, pouca inteligência e tamanho, fazia bem o papel suporte de irritante que no fim tentava deixar uma mensagem motivacional. Bem no estilo coach.

Sempre joguei como suporte, nunca vi problema nisso. As magias de cura e recuperação sempre foram minhas favoritas, entretanto nessa campanha eu estava inspirada a fazer diferente. Foi assim que, mesmo tendo uma classe sem perfil de ataque, acabei chegando perto de um grande e desastroso feito: quase matei sozinha um NPC muito poderoso.

E o ladino? O paladino? E o mago? Pfffff… Os dados não estavam do lado deles naquele dia.

Até aquele momento, minha personagem se limitava a curar e segurar os inimigos com a magia Controlar Plantas. Mal sabiam meus honoráveis companheiros de mesa que tudo estava sendo construído para apenas uma oportunidade. E ela chegou.

Lembrete importante: nunca menospreze seu suporte.

Eis que o grupo alcançou a floresta onde precisavam encontrar uma druída suprema magnânima, mas antes tínhamos que passar por esse guerreiro extremamente poderoso. E ele chegou montado em um alce feito de plantas.

Repito: um alce feito de PLANTAS.

Além disso, todos os seus soldados eram vegetais ambulantes.

Os olhos da Dahllan irritante aqui até brilharam demoniacamente. Era o meu momento de brilhar, e Nimb dançava animado sobre os meus dados naquele dia. Inocente, o mestre não esperava pelo que estava por vir. Da mesma forma, meus companheiros de grupo também não.

Palada quase morreu. Curei? Não. Ele que lutasse com sua auto-cura. O mago, coitado, tirava danos tão irrisórios que quase rasgou a ficha ao meio e foi jogar LoL. O ladino, então? A única utilidade até ali foi tirar uma com a cara do mago, porque nem perto da batalha ele podia chegar com seu ridículo saldo de PV.

Enquanto meus companheiros choravam por socorro, eu me enfiei no meio da batalha, usei Controlar Plantas e fui trazendo os inimigos para o meu lado. Passei em todos os testes. Cheguei a roubar um alce. Transformei em montaria para mim mesma.

Crítico atrás de crítico.

Meus companheiros agonizantes fazendo silêncio tumular.

A risada maligna de uma dahllan maluca montada num alce de alface.

Fui com tudo para o combate.

O mestre tentou avisar que o NPC era importante. Ainda assim, dei ouvidos? Claro que não.

Foi épico.

Espadas de samambaia cortando o ar. Escudos de sabugueiro sendo estraçalhados pelos golpes vorpais do meu pedaço de galho torto que chamava de arma. Alces pisoteando ao léu porque eu não tinha ações suficientes para fazer alguma coisa com eles. Nem PVs suficientes.

Minha dahllan, o símbolo da idiotice, ergueu o pedaço de galho acima da cabeça, bradou um urro megalomaníaco e voltou a descê-lo, acertando em cheio o inimigo. Assim, seiva escorreu pela boca do guerreiro da floresta ao cair de sua montaria.

Olhei-o de cima. Sorri. Meu galho estava pronto para dar o golpe de misericórdia.

Hasta la vista, baby.

Então o mestre usou seu poder de mestre e sugou a vítima para debaixo da terra antes que eu acabasse com a raça dele.

Logo depois disso fomos saber que o cara era marido da elfa druida super mega power poderosa que a gente tinha que encontrar. Até gelei. Imagina se mato o marido da mulher? Contra ela nem o maior combeiro com quatro braços e exoesqueleto reforçado teria chances.

Por fim, a gente tinha que entregar uma coruja para ela e levei um esporro por quase matar o NPC sem antes dialogar.

O que levei disso? Em primeiro lugar, uma equipe com habilidades que se complementam, com trabalho em equipe impecável e diálogo maduro, consegue jogar com harmonia e todos acabam se divertindo. E, além disso, talvez se eu tivesse feito meu trabalho de suporte e dado a oportunidade para os amigos do ataque…

Nah! Eu faria tudo de novo. Nunca me diverti tanto com minha raça de jogo!