Bençãos da Deusa — Criando aventuras: Você (não) precisa estar sozinho

Bençãos da Deusa — Criando aventuras: Você (não) precisa estar sozinho

RPG em grupo

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O trabalho de mestrar no geral é solitário; sentar no computador, abrir seus livros, pensar, ler, anotar, preparar. Algumas vezes as ideias fluem; outras, travamos no meio ou temos um final e não sabemos como chegar até lá ou não temos ideia nem de por onde começar. Aí, começa a bater o desespero com as ideias que não vêm, com o trabalho que não anda, com a mesa que está parada, apenas esperando pela gente para seguir.

Se tem algo que eu descobri é o quanto é incrível não criar sozinho.

Mestrando na Guilda, no final do ano passado, resolvi jogar um Dragão da Tormenta filhote nos personagens de nível 3. Era pra ser uma one shot (como todas as missões da Guilda) e ser resolvida ali, com os aventureiros salvando a vila que os contratou. Os dados, porém, não ajudaram: os jogadores não conseguiam rolar mais do que 7 ou 8, e meu dragãozinho estava prestes a dar um TPK quando um amigo que ouvia a sessão (as missões são abertas para qualquer membro ouvir desde que permaneça com o microfone mutado) me mandou uma mensagem inbox: “por que você não faz o dragão fugir e começa um plot de perseguição a ele?”. Achei a ideia maravilhosa, recém estava começando a mestrar na guilda e não tinha nenhum. O dragão fugiu, eles saíram da caverna abalados, pois agora tinha um Dragão da Tormenta solto por Arton e para por mais peso ainda na derrota, ao chegarem na vila, o dragão tinha gastado seus últimos PM soprando ácido sobre aquela gente, matando e ferindo boa parte da população. Tudo improvisado ali, na hora.

Alguns dias depois, este mesmo amigo perguntou se eu ia tratar especificamente sobre como cultista de nível tão baixo conseguiram “fazer” um dragão da Tormenta, pois ele tinha tido uma ideia. Dali, decidimos seguir o plot juntos, debatendo a história, as missões, as ameaças. Foi uma das experiências mais legais que eu tive jogando RPG. A troca de ideia enriqueceu a história de uma forma incrível. Quando um travava, o outro aparecia com uma ideia ótima que fazia tudo se encaixar. O plot acompanhou boa parte dos jogadores até o nível 15/17 (as missões na guilda pegam 3 níveis) e terminou de forma incrível e emocionante, fazendo a gente chorar, os jogadores chorarem, quem tava ouvindo a última missão chorar. Nada disso teria sido tão foda se não fosse o trabalho criativo compartilhado.

Dessa experiência, ficou um costume muito importante e que me acompanha até hoje: compartilhar o que eu estou planejando com alguém. Cada missão, cada aventura, cada monstro que eu crio, eu compartilho com um ou mais amigos que também jogam. Falo do que eu estou pensando, do que eu pretendo, quais minhas ideias e dificuldades, e assim o que antes ficaria trancado e talvez engavetado por muito tempo começa a tomar forma, ou mesmo uma aventura que eu já tinha planejado fica ainda melhor.

O trabalho de preparação do mestre não precisa ser solitário. Demorei um pouco para entender que precisar de ajuda não me faz menos mestre nem menos criativa, e todos ganham com isso. Nós ganhamos tempo e nos estressamos menos pensando em soluções que não vêm, os jogadores ganham uma aventura muito mais rica, os amigos com quem conversamos ganham novas ideias. Pode parecer estranho num primeiro momento, pois não estamos acostumados a isso, mas depois de experimentar este tipo de troca, não sei mais trabalhar de outra forma. Mesmo que eu já saiba o que fazer, peguei gosto por compartilhar minhas ideias com amigos e ver o que eles têm a dizer, a acrescentar, a questionar.

Como muito bem dito pelo amigo com quem dividi o plot citado acima, Thiago Trot: “RPG foi feito pra ser jogado em grupo. Os jogadores vão estar em grupo e vão ser 4-6 pessoas jogando juntas e pensando juntas ‘contra’ você. Pq você tem q jogar ‘sozinho’? Quanto mais mentes pensando no desafio, melhor ele fica e todos se divertem”. Claro, quando falamos “contra, é força de expressão: RPG é um jogo de construção coletiva. Mas esta construção coletiva pode começar muito antes do grupo se reunir, e envolver outras pessoas. É mais leve, mais divertido, mais eficiente.

Mesmo que pareça estranho num primeiro momento, tentem. Eu tive a sorte de conhecer um grupo de pessoas que faz dessa prática um exercício constante de colaboração, e só tenho a agradecer por isso, pois além de me ajudar quando preciso, me deixou mais confiante. E se vocês já têm este costume, contem nos comentários como funciona pra vocês.  Chega de quebrar a cabeça sozinhos.

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8 COMENTÁRIOS

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John, o Imortal.

Me identifiquei bastante com a sua publicação.
No inicio eu compartilhava minhas aventuras com a Maya para ela dizer o que achava, enriquecer com novas perspectivas, depois já na Guilda com o Biel/Murad para não correr o risco de colocar algo que fugia das regras. Atualmente estou montando uma campanha com o Gabiru e o Brojan, onde estou recebendo grandiosas sugestões para enriquecer a história e igualmente importante evitar ativar gatilhos nas pessoas com as descrições, por ser uma missão de terror.

Sou muito grato pelas amizades que fiz nessa guilda.

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    Camila Gamino da Costa

    É muito bom ter com quem compartilhar as coisas. Não sei mas fazer de outra forma. Também sou muito grato pelas pessoas que conheci na guilda, e tudo que aprendi.

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Matheus Tietbohl

Excelente conteúdo. Realmente não faz sentido a mestragem ficar tão isolada.

Quem sabe dê para desenvolver um tipo de Diário de Mestragem, anotando bem objetivamente quais eram as dificuldades em determinada preparação e as soluções que foram utilizadas para contorná-las.

Usando o exemplo do texto, a dificuldade seria o grupo estar prestar a tomar um TPK, a solução seria o inimigo/monstro fugir e isso trazer uma derrota moral e novos problemas a serem lidados pelo grupo.

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    Camila Gamino da Costa

    É bem difícil fazer um diário disso porque os compartilhamentos são praticamente diários. Fico feliz que tenhas gostado. ^^

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henriqueseraph

Eu sou novo mestrando e comecei uma campanha e é realmente meio solitário. pretendo narrar na guilda um dia também. Talvez eu tente fazer um plot conjunto qualquer dia desses

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    Camila Gamino da Costa

    Não só narrar plot em conjunto, mas compartilhar as coisas da tua campanha com outros amigos que não estão jogando, pra trocar uma ideia sobre o que estás planejando. ^^

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Roberto Carlos Rodrigues Junior

to começando a mestrar agora, e realmente e difícil criar as aventuras, muitas vezes travo na hora de escrever

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    Camila Gamino da Costa

    Sim, às vezes é bem difícil! Tenta procurar outras pessoas, amigos, pra ajudar e “trocar figurinha”.