Baú Referencial – Gundam Wing
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Um olhar terro… digo, rebelde para suas campanhas de Brigada Ligeira Estelar!
Em Brigada Ligeira Estelar, a seção Baú Referencial não traz adaptações de cenário: ela busca, em outros animes, ideias e conceitos aplicáveis à ambientação. Assim, com a chegada de Gundam 00 à TV Brasileira*, deveríamos falar sobre ela, certo?
Porém, decidi resgatar antes um conteúdo do antigo blog da Jambô: o Baú Referencial de Gundam Wing. Embora ela seja muito divisiva entre o fandom de Gundam no ocidente, ela por muito tempo foi o único Gundam exibido por aqui. Por isso, vamos dar uma olhada:
Embora tenha a franquia Gundam em alta conta, minha relação com Gundam Wing em especial é complicada. Contudo, ela foi a única série Gundam a passear em nossas televisões.
Conceitos similares, execuções diferentes
Todavia, não me surpreendi com as reações quando confessei, no Facebook… ser, de certa forma, Relena Peacecraft o estalo criativo por trás da Princesa Adelaide D’Altoughia de Forte Martim, no universo de Brigada Ligeira Estelar.
Primeiro, quis fazer de Adelaide uma princesa capaz de despertar lealdade e protetividade, de acordo com aquele espírito ruritânio do gênero (concomitantemente, recomendo a leitura deste artigo deste artigo).
Não pensei nisso, a princípio, mas Adelaide e Relena partilhavam muitas linhas gerais.
Em segundo lugar, ambas são bem jovens. Em terceiro, trazem consigo os efeitos da morte dos pais legítimos e, consequentemente, de seu alijamento do trono. Portanto, estão sob a mira de inimigos da pior espécie e, dessa maneira, dependem dos heróis como protetores.
Engenharia Reversa
O que faz de Relena um problema e, analogamente, como isso pode ser evitado na Adelaide? A princípio, esta jamais negligenciaria a defesa das próprias causas como Relena — cujas platitudes, consequentemente, lhe custaram um reino.
Prosseguindo, suas perdas temperaram sua personalidade (ela jamais ignorou seu passado). Assim, elas lhe deram a medida do sofrimento das pessoas comuns frente às injustiças.
Portanto, a Princesa-Regente de Forte Martim não pode facilitar para os adversários e dessa forma, mostra sangue nos olhos — “espírito democrático”, em excesso, pode servir apenas para alimentar serpentes no jardim. É impiedosa mas justa. Logo, são personagens distantes entre si.
Eis o ponto: é possível identificar possibilidades em meio a materiais com problemas. “O que eu faria no lugar desses caras?”
Para não me acusarem de implicância II, a Missão: a trilha sonora é matadora.
Use os álbuns Operation 1, 2 e 3 em sua mesa de jogo e confira
O Errado Pode ser Útil?
Gundam Wing realmente tem conceitos ótimos: os personagens principais viajam para Terra como rebeldes infiltrados. Lá, eles deveriam ser confrontados com seus limites éticos e assim, perceber que nosso mundo é tão vítima quanto as colônias.
Contudo, o problema real é a Fundação Romefeller (do qual a OZ é uma extensão militar). Conscientizados, os personagens deveriam se agregar ao redor da Princesa e enfrentar conjuntamente a Romefeller.
Assim, ao restabelecer seu papel de direito, nosso planeta e as colônias poderiam, dessa forma, assinar uma paz mútua e entrar em uma nova era de paz e prosperidade.
Seria uma linha de roteiro funcional. Porém…
Não foi bem assim!
… o simples, o funcional e o linear passaram longe, comprometendo todo esse potencial.
Por causa de uma abordagem estrutural similar à série Samurai Warriors**, os personagens são separados, formando duplas para enfrentar seus inimigos — e assim, quando uma história de verdade parece engrenar e nos interessar, ela é jogada ao ar como um castelo de cartas.
Tudo se desmonta e reinicia o processo, abortando várias linhas de roteiro com potencial de desenvolvimento, sem falar da quantidade anedótica de reviravoltas radicais no status quo.
Para Mestres de Brigada Ligeira Estelar
Séries posteriores da franquia tomaram como base conceitos de Wing — mas passados a limpo: Gundam 00 começa bem similar mas há pé e cabeça***. Kudelia Bernstein de Gundam: Iron-Blooded Orphans soa concreta como Relena Peacecraft jamais soou. Ninguém pode acusar a Sunrise de não aprender com seus erros.
Porttanto, podemos partir do “como poderia ter sido” e encaixá-la em suas campanhas na Constelação do Sabre:
ORGANIZAÇÃO: enviar cinco agentes isolados não-cientes uns dos outros é… estúpido. Imagine a coisa tocando de outra forma — os personagens pertencem a uma milícia conspiratória. Sua organização está plantada em diferentes lugares.
Terroristas para sua campanha de Brigada Ligeira Estelar
Por definição, organização significa NPCs de apoio para os jogadores, entre contatos e auxílio prático. Além disso, ao verem os demais pelos meios de comunicação em missões terroristas, cada um identificará os demais como seus colegas e portanto, todos irão se reunir de forma planejada.
Aliás, temos um bom motivo para sua reunião: caso estejam separados, todos serão presas mais fáceis para seus adversários.
CUMPRA SUA MISSÃO (OU NÃO CUMPRA E PAGUE O PREÇO): quando Heero ameaçou Relena de morte****, alguém normal iria correndo para a secretaria do colégio — ou para a polícia. Contudo, qualquer filme de ação nos mostra como mandantes não perdoam assassinos capazes de poupar vítimas e protegê-las a seguir.
Seja Lógico
Aliás, se houvesse lógica nessa trama, os demais garotos — também agentes da conspiração, lembram? — deveriam ser seus perseguidores. Caso seus personagens façam algo do tipo, não duvide: mande os demais e envie robôs de combate bem mais perigosos! Como será preciso reunificar o grupo em jogo, talvez o mestre considere cooptar a moça…
PASSE A TESOURA: tentem resumir Gundam Wing em uma só página de Word com 2,0 de espaço. Em seguida, chorem.
Um dos mais graves problemas dessa série é a incapacidade dos roteiristas explorarem um cenário estabelecido com a reviravolta da vez. Dessa forma, o texto não consegue equilibrar seus muitos eventos — e eles inclusive tiveram QUARENTA E NOVE EPISÓDIOS para contar sua história.
Logo, seja organizado. Dê tempo ao tempo nas suas campanhas. Explore novos contextos.
Não faça o Golpe de Estado da Semana!
Para impedir a trama de ficar confusa, planeje um número limitado de grandes eventos e reviravoltas em sua campanha — ou, alternativamente, as faça acontecer naturalmente no decorrer dos capítulos. Dessa maneira, faça-os parecerem desenvolvimentos naturais. A propósito, tente dar… agência aos personagens nesses eventos. Caso seja preciso uma nova reviravolta no cenário, a participação deles vai ser importante.
MATILHAS, NÃO LOBOS SOLITÁRIOS: Chang Wu-Fei é um dos protagonistas, mas nem parece — ele é completamente acessório à trama em um grupo sem unidade. Inclsuive no final, em Endless Waltz, Wu-Fei está à parte! Friamente, sua única razão de existir foi impedir um final com dois chefes de fase para Heero Yui. Corte suas aparições e no final, praticamente nada de importante na trama mudará.
Aliás, em termos de comportamento na mesa de jogo, ele é um Edgelord.
Não Abrace a Falha dos Outros
Dessa forma, se pensarmos nos cinco principais como personagens jogadores, este é um problema astronômico. Neste caso, não há verdadeiramente uma desculpa: personagens assim só funcionam na televisão quando são os protagonistas da própria série — e na verdade, este não é o caso nem em Gundam Wing, nem em uma mesa de jogo! Assim, mantenha o seu grupo bem integrado!
OBJETIVOS, NÃO PLATITUDES: sua campanha não precisa ser uma análise sobre os motivos financeiros por trás das guerras. Porém, motivações e posturas práticas ajudam muito a tornar seu cenário convincente para os jogadores. Sim, falamos do Pacifismo Total de Relena: ele é impossível de ser levado a sério como nos é mostrado. Inclusive, ela teve sua inviabilidade comprovada*****! Os personagens vão lutar por isso?
Cuidado com seus Coadjuvantes!
Contudo, não adianta nada tratar um cenário de forma convincente se o percebermos através de coadjuvantes questionáveis.
Se a ideia for propor um debate e, ao verbalizar pontos concretos, convencer por tabela os jogadores — ou colocá-los em sua defesa — o Pacifismo Total não ganha nada quando a personagem antitética à Relena, Dorothy Catalonia, contra-argumenta como uma vilãzinha do Capitão Planeta (“Eu amo as guerras…”).
RACIOCINE: Trowa Barton deveria estar se escondendo e se ocultou em… um… circo… aonde dezenas de pessoas o viam todo fim de semana no picadeiro. Embora não tenham ligado para isso na Sunrise, dê um toque ao seu jogador. Ou puxe o seu tapete: mande as autoridades atrás dele!
Divirtam-se… e até a próxima!
Notas de Rodapé
* Este Texto foi escrito antes do fim do canal Loading mas a Funimation brasileira anunciou Wing para sua grade em breve.
** Yoroi-Den: os Cavaleiros do Zodíaco popularizaram este subgênero de heróis com armaduras e golpes especiais, A Sunrise entrou nessa com Samurai Troopers. Como eles encheram os bolsos, aplicaram a fórmula em suas franquias mais famosas, Gundam e Yuusha. Wing é isso.
*** No sentido usado em Brigada Ligeira Estelar — ou seja, forças paramilitares ou organizações terroristas com estrutura militar.
**** Se na minha mesa um personagem ameaça uma moça na frente de suas amigas, eu perguntaria “TEM CERTEZA?” ao jogador.
***** SPOILER: Relena Peacecraft na verdade é uma princesa e seu reino encampa o Pacifismo Total. Contudo, se ela reagir a invasores, será vista como uma hipócrita. Consequentemente, quando ela é atacada, decreta o fim do reino — e dessa forma, provou o ponto de seus inimigos.
DISCLAIMER: New Mobile Report Gundam Wing pertence a Sunrise, Inc. Imagens para fins jornalísticos e divulgacionais.
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