Olá, aventureiro!
Você já deve ter visto ou ouvido falar sobre aquele jogador que desafia o talento de improviso do mestre indo para cantos não planejados no mapa, insistindo em explorar e investigar lugares sem qualquer ligação com o plot, azucrinando NPC que só estava ali para vender poções… Mas você já viu uma criança jogando RPG?
Hoje a crônica é sobre uma das sessões ̶q̶u̶a̶s̶e̶ ̶d̶e̶s̶a̶s̶t̶r̶o̶s̶a̶ que mestrei para crianças.
As três aventureiras
Quem me conhece sabe que não curto muito mestrar (na real eu sou o PJ que fica azucrinando o mestre), mas na cidade que morei haviam eventos de RPG na biblioteca municipal e eu adorava participar.
Se você joga RPG já sabe que é mais fácil conseguir jogador do que mestre, então eu fazia esse sacrifício para apresentar o nosso amado hobby.
Meu sistema favorito para isso é 3D&T (tá sabendo que vem nova edição aí, né?). Simples e moldável, conseguia criar aventuras curtas e dinâmicas em qualquer cenário. Na época eu fazia muitas campanhas no universo de Harry Potter, com mais humor e magia, e isso atraia majoritariamente crianças de até 10 anos.
Em uma dessas aventuras fui apresentada ao mais perigoso e assustador grupo: três amigas de sete anos.
Quando as crianças não se conhecem a experiência é mais tranquila. Agora, quando tem intimidade…
Pois bem, as campanhas eram planejadas para serem rápidas, até para migrarem e conhecerem outros sistemas no evento em que estávamos. O desafio era simples: Entrar na Floresta da Morte, recuperar um item mágico, lutar contra centauros e retornar ao castelo. Apenas.
Pensei que seria simples, rápido. Só pensei.
(Spoiler: a campanha, que deveria durar uma hora, acabou em quase três)
Curiosas com o meu escudo do mestre (de madeira, todo lindo, com o símbolo das relíquias da morte), elas se aproximaram assim que chegaram. Nunca haviam jogado RPG, apenas ouviram falar na escola.
Passei uns minutinhos explicando as regras do jogo, fazendo umas gracinhas para mantê-las interessadas e contando a sinopse da campanha para alimentar a curiosidade. E deu certo.
Animadas, arrastaram as cadeiras, pegaram varinhas feitas de papel, rolaram os dados e começaram a escolher qual personagem seriam entre as fichas prontas.
Que a sorte esteja contra você
Comecei a narrar a introdução que eu já havia decorado (uma punição leve por alguma traquinagem feita) a fim de colocá-las na situação que as levaria até a Floresta.
Ali mesmo já começaria o tormento da mestra inábil.
Diferente do que eu planejava, as meninas decidiram se rebelar contra a punição recebida e começaram a tramar um plano dentro do castelo mesmo.
Empolgadas, começaram a criar travessuras mágicas contra os professores, incluindo outros alunos (pobres NPCs) e seções do castelo que tentei a todo custo dificultar a entrada com testes.
Mas quem disse que os dados estavam a meu favor? (Novidade)
Sobre improvisar e não surtar
Some o conhecimento delas sobre o cenário, a criatividade em seu auge e minha inabilidade como mestre. O resultado foi: DESASTRE.
Desastre para mim, no caso.
Uma campanha simples na Floresta da Morte se tornou uma exploração no castelo atrás de itens para fazer uma poção de “PUM” (sim, isso que você leu), criá-la e jogar no quarto do zelador que as entregou ao diretor.
Vou confessar que no início eu fiquei muito apavorada, com medo de não conseguir conduzir a história e até tentei forçar a volta ao plano inicial, mas mudei de ideia quando tudo ao redor ficou silencioso e vi as outras mesas olhando para nós.
Éramos a única mesa que preenchia o local com gargalhadas.
RPG é sobre isso, né? Diversão!
Terminamos com o sucesso da missão e elas implorando para que recebessem uma nova punição pelo ocorrido para poderem aprontar mais (talvez eu tenha ficado com medo delas na vida real). Sem muito tempo para continuar e com outras crianças querendo entrar na nossa mesa, propus um duelo de magia.
Passei muito tempo pensando no que eu poderia ter feito para orientar melhor, como manter a ordem das coisas na mesa. Mas será que teria sido tão divertido se eu tivesse conseguido?
Sei das minhas falhas como mestre, mas também sei que acertei demais ao deixar que elas construíssem uma divertida primeira experiência com RPG.
E você já jogou com crianças? Como foi a experiência?
Leia as outras Crônicas do RPG!