A Jornada da Mestra – Quem é o Mestre de RPG?
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Olá, queridos companheiros de aventura! Sentiram saudades? Como estão? Espero que estejam bem e preparados para mais um ano de muita balbúrdia sobre a criatura misteriosa que é o mestre do RPG de mesa!
Para esse início de 2024 eu decidi rebobinar a fita cassete. Caso você não seja do tempo das cavernas e não saiba o que é isso, bom, hoje eu darei alguns passos para trás nessa jornada de mestre – badum, tss.
Mas o que isso significa?
A princípio, visando aliciar mais soldados à causa, digo, incentivar vocês nas artes proibidas de mestrar RPG, eu gostaria de voltar ao cerne da coisa: Quem é o mestre? Por que mestrar? Como eu começo? Portanto, nossa aventura esse ano passará por vários artigos destrinchando a arte de mestrar de maneira bem mais simples e descomplicada.
Tomei essa decisão sobretudo por causa das últimas polêmicas envolvendo a descontinuação da tradução em português brasileiro para os produtos dos Magos da Costa.
Mas tia Mylena, safoda os gringos!
Não me estenderei no assunto porque esse não é o ponto de hoje, mas, gostando ou não, D&D é um gigante e uma porta de entrada para muitos nesse nosso mundinho especial. Portanto, essa decisão pode acabar afastando uma galera iniciante por N motivos. Por outro lado, nós temos um cenário nacional riquíssimo com tendência a se expandir cada vez mais. Tem muita coisa bacana sendo produzida, comunidades se fortalecendo e cabe a nós decidirmos o que fazer com esse espaço negligenciado.
Bom, eu sei para onde eu vou.
Pega na mão da tia, diga não ao gatekeeping e vem comigo nessa aventura!
O que é RPG? É de comer?
Se você caiu aqui no meu colo, você já deve ter alguma noção do que é RPG: um jogo maravilhoso no qual interpretamos papéis, jogamos dados, batemos em monstrinhos e flertamos com nossos amigos – é brincadeira, tá?
Atualmente, definir o que é RPG de mesa pode ser uma tarefa complexa devido aos anos de mudanças e evolução do cenário. Como eu quero algo simples, vamos nos manter no simples: RPG é um jogo de interpretação de papéis no qual reunimos pessoas para construirmos, juntos, uma história. Nos transformamos em quem quisermos, visitamos mundos incríveis, nos aventuramos e contamos histórias divertidas.
Além disso, mantenha sempre em mente que o RPG é um jogo coletivo e cooperativo. Isso significa que o grupo precisa de um singelo acordo de cavalheiros entre si: o comprometimento com a diversão de todos. Ou seja, você deve se divertir tendo em mente que as outras pessoas também estão ali para se divertirem, tanto o mestre quanto os jogadores.
Aqui você encontra um vídeo supimpa sobre o assunto.
O sagrado Mestre de RPG
E o que é essa figura mítica do mestre? É um inimigo a ser vencido? Um ser maligno que almeja a destruição dos próprios coleguinhas? Um sádico?
Embora pareça, não, ele não é um inimigo. Tampouco é um ser maligno — ou será que não?
Bom, jovem padawan, o mestre é apenas mais um jogador, porém sob um título diferente por desempenhar um papel distinto dentro do jogo.
Mestre e jogador podem ser termos complicados. O mestre também não é um jogador? Vamos trocar o termo mestre para narrador? Puts, mas jogador também não narra?
A discussão é vasta, mas eu não quero entrar em detalhes porque meu objetivo é a simplicidade. Quero apenas introduzi-los nessa fina arte de mestrar, portanto vamos ficar com os termos clássicos de Mestre e Jogador.
Primeiras considerações
Mas que papo de papéis é esse?
Os jogadores são os agentes da história, portanto suas ações movem a narrativa. Eles são os heróis, aqueles que salvarão o mundo – ou pelo menos tentarão. O mestre também move a narrativa, mas é aquele que interpreta tudo o que o não são os personagens dos jogadores.
Mas se ele interpreta o vilão então ele é o inimigo!
A resposta é um grande não.
O mestre não é seu inimigo, ninguém é seu inimigo. Você não tem inimigos.
Claro que ao interpretar os antagonistas é necessário honestidade com as rolagens, decisões e situações propostas. O saudoso Leonel Caldela desenvolve mais esse assunto na revista Dragão Brasil 168. Contudo, isso não torna a figura do mestre, o seu amigo se divertindo com você, num rival a ser combatido.
Não existe “ganhar” no RPG.
A não ser que você trate “derrotar todos os vilões malvados” como ganhar. Entretanto, isso ainda não é desculpa para se sentir superior a alguém. Não existe hierarquia de poder quando se joga RPG porque todos possuem a mesma importância no jogo.
Todos ganham quando todos estão se divertindo.
O Mestre de RPG: um ator de oscar ou um escritor de nobel?
O mestre interpretará as pessoas do mundo, as criaturas e às vezes até mesmo os objetos. Do goblin no cantinho à princesa, do bandoleiro ao cabrito, do dragão à mosca com rosto de gente.
Eu preciso ser um profissional da sétima arte?
Não. Seja você mesmo, interprete da maneira que achar melhor, não existe interpretar errado. Ninguém fez cursinho de teatro para jogar RPG de mesa. Claro, se for um desejo seu eu dou todo o meu apoio, mas lembre-se: somos apenas meros mortais. Não complique a sua diversão.
O mestre também é aquele que monta o mundo, caso não use um pronto, e é quem cria a base da história e parte das situações que ocorrerão ao longo da narrativa. Digo “parte” porque os jogadores por si próprios também criam diversas situações ao longo do jogo.
Eu preciso ser um profissional do roteiro?
Não. Claro que é bom saber o mínimo sobre narrativa — e discutiremos sobre isso num outro artigo —, mas você não precisa de um diploma em escrita criativa para jogar. Faça uma pesquisa simples e crie uma farofa narrativa, o importante é se divertir.
Também é papel do mestre reagir às ações dos jogadores e levantar consequências para elas, boas ou não, seguindo o seu bom senso.
Nesse sentido, podemos dizer que o mestre atua como um mediador, ou intermediário, entre o mundo e o personagem dos jogadores. O mestre apresenta o mundo e suas regras, os jogadores agem sobre essa construção, o mestre reage a essas ações e assim por diante.
É mais simples do que parece, porém, não vou mentir, é trabalhoso.
Os 12 trabalhos do Mestre de RPG
O mestre de RPG precisa preparar o mundo e tudo o que nele habita. Caso use algo já pronto, ainda há a o trabalho de buscar as referências do “cânone”. É preciso tempo para preparar a história, as sessões e gerenciar o passado dos personagens dos jogadores. Em algum momento você vai precisar arbitrar alguma regra: abolir algo ou incrementar, usar o bom senso para aquela ideia maluca do jogador ousado…
O mestre de RPG precisa de habilidades narrativas, o mínimo de organização, criatividade, saber improvisar, ter certo domínio das regras e bom senso.
Mylena, você é fã ou hater?
Eu juro que sou fã.
Sim, é muita coisa, mas também é muito divertido. Confia na tia.
Mestrar RPG é um hobbie. É uma atividade que, como qualquer outra, você melhora praticando. Para isso é necessário paciência, muita tentativa e erro e o apoio dos amigos.
Tudo o que eu citei aqui são características passíveis de serem aprendidas e aprimoradas. Ninguém acorda um dia e escreve os tomos da trilogia tormenta, tampouco faz um levantamento de 120kg sem treino ou escreve uma indicação ao Jabuti. Tenho certeza que sua primeira refeição tinha gosto de água de chuchu.
Numa época de streams super produzidas é fácil achar que o mestre é uma entidade difícil de ser alcançada, mas não. E aqui eu abro um parênteses para explicar que eu não estou desmerecendo as streams. Tendo apenas o produto final na nossa frente, e isso vale para qualquer produção, é fácil crer que aquilo simplesmente brotou como uma singela flor quando há muita experiência por trás.
Esse assunto dá bastante pano para manga e acho que ele merece um artigo próprio porque sei que acabaremos caindo numa pergunta mamilos: o que é ser um bom mestre? Jogar RPG não é uma competição e não existe “jogar errado”, mas existem mestres ruins assim como também existem jogadores ruins.
Eu até já dei meus 2 tibares sobre isso, mas é um papo para outra hora!
A jornada continua…
Estão sentindo o chamado para a aventura?
Eu espero ter sanado as dúvidas mais básicas sobre o que é essa figura mítica do mestre e também espero ter despertado um pouco do seu apetite.
No próximo artigo vamos discutir sobre algo muito importante, talvez ainda mais que o papel do mestre: por que mestrar? Afinal, por que diabos alguém teria tanto trabalho num simples hobbie?
Todo mundo precisa de um motivo para iniciar algo!
Bebam água, comam frutas e passem repelente!
Até a próxima!
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