Olá, aventureiros! Espero que não tenha precisado de muita poção de cura por esses tempos. Sabem, hoje a crônica não é sobre uma personagem minha, mas a de uma amiga que deu muito azar com as poções de cura. Muito.
Infelizmente eu não estava nessa campanha, mas a loucura foi tanta que passei horas ouvindo a história da criação da personagem dela. Seria uma ladina morta-viva, devota de um deus que não deve ser nomeado. Ela achava que tinha o background perfeito. Ela estaria infiltrada no grupo para colher informações ao culto que cresceu. Se passaria por uma humana-viva clériga de Khalmyr até alcançar certo ponto da campanha.
Apenas o mestre sabia.
Ela estava empolgada, coitada. Já ria malignamente só de imaginar como seria a revelação. Estava arriscando com uma personagem tão complexa e blá blá blá.
Pois bem.
Começou a viagem para um templo de Tanna-Toh. Falsidade vai, falsidade vem, e ela acabou ganhando a confiança do grupo e virando a protegida deles. O mestre estava em êxtase com a interpretação dela, já prometendo ponto de ação pelo entretenimento.
A linha tênue entre a sorte e o azar
Tudo ia bem, tudo ia perfeitamente bem. Até que ― sempre tem um ― encontraram um monstro aleatório no caminho. A batalha foi feroz, ela não precisou mover um músculo a princípio e ia dando glórias ao seu deus toda vez que alguém não precisava de cura.
Sua participação foi bem fraquinha. Fazia uns testes pedidos pelo mestre para conseguir “abençoar” seus companheiros. Tinha que tentar ferrar um deles sem que percebessem para conseguir poderes do seu deus para continuar enganando… Mas não foi nada muito trabalhoso.
O bom é que no meio da batalha, com todos de olho em suas próprias fichas, ninguém percebeu que ela tentava mais atrapalhar do que ajudar.
O monstro estava quase acabado. Quase.
O mestre, com a benção do deus do caos, tirou um acerto crítico que resultou num ataque direcionado muito poderoso. Foi tirado no dado quem seria o felizardo.
Ela já chorava internamente. Pensava “Por que logo clériga? Devia ter feito uma ficha de guerreira ou lutadora.” Não precisaria usar magia e ainda poderia mentir que distribui errado seus pontos. Agora teria que curar o azarado para que sua missão desse certo.
Mas já sabem que não foi nenhum dos companheiros o atingido.
O mestre gargalhou. Os outros ficaram sem entender. Ela… Bom, ela encostou a testa na mesa e sussurrou: Manda.
O ataque foi brutal. Desmaiada, quase “morta”.
Não chore. Ainda dá para piorar
“Eu tenho poção de cura aqui.”
Foi o que um gentil companheiro gritou tentando ajudar.
E vocês sabem o que acontece quando dá poção de cura a um morto vivo, né?
O mestre teve que desligar o microfone e para rir e pediu uma pausa. No privado ele questionou o que ela faria. Por ser uma morta nova, ainda não precisava disfarçar sua forma cadavérica. Mas, ela iria morrer se eles continuassem.
Ela perguntou se poderia usar o ponto de ação e ele deixou quando chegasse na vez dela, disse que tentaria ajudar. Ele, tanto ou mais que ela, não queria perder aquela personagem.
Voltando da pausa, os dois descobriram que os companheiros ficaram conversando durante a pausa sobre métodos para salvá-la. Um deles disse que gastaria o restante de mana que tinha para recuperar toda a vida dela.
Ela tentou argumentar que não precisava, que eles poderiam continuar lutando, mas a conversa foi findada para não interferir na campanha.
Quase aos prantos, ela viu o nobre companheiro sacrificar todo os eu mana para salvá-la. Nisso, ela já ia olhando o Manual para criar a sua nova personagem.
Depois de toda uma encenação mágica de cura, cheia de brilho e palavras bonitas. Os companheiros ficaram confusos quando o mestre perguntou se ela havia morrido e ela respondeu que sim.
O mestre, não sabendo se ria ou se chorava, narrou que a tatuagem da raposa apareceu no pescoço quando “a vida” deixava aquele corpo. Ao fundo, o riso esganiçado de um deus podia ser ouvido quando se davam conta de que andavam com uma traidora. Uma traidora, que por uma piada ruim do destino, morreu por uma overdose de cura.
…
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Vai ser uma honra narrar suas aventuras.