Tag : Crônicas do RPG

Um deus? Pfff! Eu sou abençoado pela sorte!

Dessa vez vou contar a história de um novato que ficou emocionado com a sorte que estava tendo nos dados e decidiu confrontar um deus.

Prontos para mais um causo de RPG?

Sorte de principiante

Todo mundo sabe que a “Sorte de Principiante” é uma constante nas mesas de RPG. Já cheguei a crer que seriam as divindades nerds que dão esse empurrão para ter mais um coitado convertido ao RPG. Depois de um primeiro encontro épico, é quase certo que a pessoa vai querer continuar. Quem não curte uma boa sorte?

Aí descobre que a vida de um RPGista não é tão colorida e poderosa…

Enfim, o novato protagonista desta crônica era um guerreiro (clássico) e, até alcançar o NPC misterioso, havia desfrutado do sabor de vitórias cheias de acertos críticos e narrações memoráveis do mestre.

Os outros na mesa, jogadores já experientes e calejados pelos dados ruins da vida, soltaram o bordão “sorte de principiante” desde o início, mas ainda assim o ego do guerreiro foi esmagando o seu bom senso.

O mestre, velho de mesa que só, não deixou passar essa oportunidade e narrou de forma dramática a chegada de um NPC escondido em uma capa negra e falando com a voz grave.

“O que quer aqui, forasteiro?” perguntou o guerreiro no seu tom mais debochado.

Risos baixos entre aqueles que já sabiam que ia dar merda.

“É intimidação?” retrucou o mestre com um sorriso de quem esconde a malandragem.

“Posso intimidar?” olhinhos brilharam segurando firme o D20.

“Pode tentar”

 

Uma regra não falada entre os jogadores é: Não mate o NPC! Ele pode ser importante! (além de “não mate o mensageiro”)

Animado com o potencial novo alvo, o guerreiro apontou sua espada para o estranho encapuzado e deixou uma ofensa gratuita (quem nunca?).

“Relaxa, cara! Ele pode ser um aliado” um veterano tentou argumentar, mas o guerreiro deu um passo à frente, ignorou o conselho e continuou seu corajoso embate.

O mestre ainda ofereceu outra solução através de diálogo, mas nada adiantou. O novato estava cego pelo brilho dourado do poder de primeiro nível, brandindo a espada que ganhou no kit básico continuou até que os insultos tornaram-se mais corajosos.

O grupo deixou para ver o que ia acontecer, alguns até dando um pouco de corda, outros desacordados esperando a merda acontecer. E ela aconteceu.

O NPC se apresentou como o avatar de um grande deus daquele mundo, que havia ido até lá para presenteá-los com artigos poderosos, mas aquele guerreiro insultava a sua imagem, o desrespeitou e iria receber uma lição.

“Um deus? Pfff! Eu sou abençoado pela sorte!” foi a última fala do guerreiro.

 

E morreu

Brincadeira. Ele não morreu, não, mas tomou um susto danado e que rendeu uma memória engraçada para ele e para o grupo.

E você? Já encarou um NPC importante e se deu mal? Conta aí!

E já tá sabendo que a primeira light novel de 3DeT Victory está em pré-venda? Pois já pode avisar todo mundo, pois Era das Arcas já está entre nós! 

 

Leia as outras Crônicas do RPG aqui.

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Terror do mestre inábil: Mestrar para Crianças

Ilustração dos personagens de Stranger Things em volta de uma mesa de RPG

Olá, aventureiro!

Você já deve ter visto ou ouvido falar sobre aquele jogador que desafia o talento de improviso do mestre indo para cantos não planejados no mapa, insistindo em explorar e investigar lugares sem qualquer ligação com o plot, azucrinando NPC que só estava ali para vender poções… Mas você já viu uma criança jogando RPG?

Hoje a crônica é sobre uma das sessões  ̶q̶u̶a̶s̶e̶ ̶d̶e̶s̶a̶s̶t̶r̶o̶s̶a̶ que mestrei para crianças.

As três aventureiras

Quem me conhece sabe que não curto muito mestrar (na real eu sou o PJ que fica azucrinando o mestre), mas na cidade que morei haviam eventos de RPG na biblioteca municipal e eu adorava participar. 

Se você joga RPG já sabe que é mais fácil conseguir jogador do que mestre, então eu fazia esse sacrifício para apresentar o nosso amado hobby.

Meu sistema favorito para isso é 3D&T (tá sabendo que vem nova edição aí, né?). Simples e moldável, conseguia criar aventuras curtas e dinâmicas em qualquer cenário. Na época eu fazia muitas campanhas no universo de Harry Potter, com mais humor e magia, e isso atraia majoritariamente crianças de até 10 anos.

Em uma dessas aventuras fui apresentada ao mais perigoso e assustador grupo: três amigas de sete anos. 

Quando as crianças não se conhecem a experiência é mais tranquila. Agora, quando tem intimidade…

Pois bem, as campanhas eram planejadas para serem rápidas, até para migrarem e conhecerem outros sistemas no evento em que estávamos. O desafio era simples: Entrar na Floresta da Morte, recuperar um item mágico, lutar contra centauros e retornar ao castelo. Apenas.

Pensei que seria simples, rápido. Só pensei.

(Spoiler: a campanha, que deveria durar uma hora, acabou em quase três)

Curiosas com o meu escudo do mestre (de madeira, todo lindo, com o símbolo das relíquias da morte), elas se aproximaram assim que chegaram. Nunca haviam jogado RPG, apenas ouviram falar na escola. 

Passei uns minutinhos explicando as regras do jogo, fazendo umas gracinhas para mantê-las interessadas e contando a sinopse da campanha para alimentar a curiosidade. E deu certo.

Animadas, arrastaram as cadeiras, pegaram varinhas feitas de papel, rolaram os dados e começaram a escolher qual personagem seriam entre as fichas prontas.

Que a sorte esteja contra você

Comecei a narrar a introdução que eu já havia decorado (uma punição leve por alguma traquinagem feita) a fim de colocá-las na situação que as levaria até a Floresta. 

Ali mesmo já começaria o tormento da mestra inábil.

Diferente do que eu planejava, as meninas decidiram se rebelar contra a punição recebida e começaram a tramar um plano dentro do castelo mesmo. 

Empolgadas, começaram a criar travessuras mágicas contra os professores, incluindo outros alunos (pobres NPCs) e seções do castelo que tentei a todo custo dificultar a entrada com testes.

Mas quem disse que os dados estavam a meu favor? (Novidade)

Sobre improvisar e não surtar

Some o conhecimento delas sobre o cenário, a criatividade em seu auge e minha inabilidade como mestre. O resultado foi: DESASTRE.

Desastre para mim, no caso.

Uma campanha simples na Floresta da Morte se tornou uma exploração no castelo atrás de itens para fazer uma poção de “PUM” (sim, isso que você leu), criá-la e jogar no quarto do zelador que as entregou ao diretor.

Vou confessar que no início eu fiquei muito apavorada, com medo de não conseguir conduzir a história e até tentei forçar a volta ao plano inicial, mas mudei de ideia quando tudo ao redor ficou silencioso e vi as outras mesas olhando para nós.

Éramos a única mesa que preenchia o local com gargalhadas.

RPG é sobre isso, né? Diversão!

Terminamos com o sucesso da missão e elas implorando para que recebessem uma nova punição pelo ocorrido para poderem aprontar mais (talvez eu tenha ficado com medo delas na vida real). Sem muito tempo para continuar e com outras crianças querendo entrar na nossa mesa, propus um duelo de magia.

Passei muito tempo pensando no que eu poderia ter feito para orientar melhor, como manter a ordem das coisas na mesa. Mas será que teria sido tão divertido se eu tivesse conseguido?

Sei das minhas falhas como mestre, mas também sei que acertei demais ao deixar que elas construíssem uma divertida primeira experiência com RPG.


E você já jogou com crianças? Como foi a experiência?

Leia as outras Crônicas do RPG!

Crônicas do RPG — Uma breve aventura de amor

Olá, aventureiro do amor!

Me diga: Você já se apaixonou na mesa de RPG?

Digo, seu personagem! (não vamos nos comprometer aqui, né?)

A crônica que trago hoje não se passou comigo, mas com uma das pessoas que compartilhou sua história no Twitter.

Deixe todo sangue, morte e destruição de lado e contemple a magia do amor *faíscas*

Esta é a história de amor de Vontura e Calespec.

Cabeça de Tarrasque ao molho madeira

Ok, esqueça o papo de não haver sangue, morte e destruição.

A expedição partiria para derrotar um tarrasque ― apenas ― que ameaça uma região. Vontura, guerreira experiente e calejada pelas inúmeras batalhas vividas, comandava um dos pelotões que enfrentaria o monstro.

Já era um grupo que vinha de batalhas anteriores, velhos amigos que confiavam suas vidas uns aos outros.

Exceto um.

Calespec, o elfo desgarrado de seu povo e exímio curandeiro, foi o último a compor o círculo de confiança da capitã Vontura. Confiança que quase não sobreviveu ao primeiro diálogo entre eles.

O jeito descomprometido de Calespec com o grupo deixava Vontura irritada e insegura quanto a estratégia que utilizaria. Eles precisavam confiar que o healer apareceria quando precisassem.

Uma ameaça acompanhada de um dedo trêmulo de raiva pareceu o suficiente para deixar o elfo ciente de que ele seria caçado se os deixasse na mão.

“Sua vida está gravada em meu destino”

A frase saída num gracejo maroto foi uma das últimas lembranças antes de Vontura ficar inconsciente.

Duas vidas e um destino

Não haviam gritos e nem fagulhas de magias voando acima de seu corpo. Achava que deveria ouvir ou ver algo, mesmo que estivesse tudo confuso.

“Opa! Não se levante ainda, madame.”

“Onde estou?”

“Viva. Descanse.”

Vontura deitou a cabeça novamente e sentiu o corpo sendo envolto numa quentura bem-vinda. Era magia de cura.

Sorriu e ouviu o riso daquele que era apenas uma silhueta em sua vista turva.

“Elfo? Não fugiu?”

“Como eu poderia? Eu disse que…”

“Minha vida estava gravada em seu destino.”

Além dos dados

Bonitinhos, né? Mas o romance não rolou ali na mesa não. Calespec era apenas um convidado daquela mesa, não voltaria na próxima sessão, mas sua presença ficou marcada.

Uma mensagem corajosa da jogadora o parabenizando e agradecendo pelo apoio e uma resposta tímida e surpresa.

“Se você quiser, podemos marcar uma mesa depois que as provas acabarem”

“Eu adoraria”


Você tem uma história parecida? Conta pra mim!

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Como (quase) matar um grupo novato

Olá, aventureiros!

Depois de me recuperar dessa virada de ano com muita poção restauradora, voltei com mais uma crônica fresquinha de RPG! Prontos? 

Novos aventureiros

Eu jogo RPG há mais de 15 anos e não me lembrava qual havia sido a última vez que joguei com um grupo quase todo iniciante. Particularmente amo ver pessoas novas se empolgando meio inseguras com a criação de personagens, tentando entender os cálculos de ataque e defesa, comprando um monte de coisa inútil… ai, ai. 

Bom, indo ao ponto, entrei em um grupo praticamente todo iniciante, até mesmo o mestre (mostrando que não precisa fazer curso para mestrar cof cof). A premissa da campanha era que tínhamos que derrotar um tirano chamado Jaire LePurse (cof cof again).

Todos criaram seus backgrounds e eu escolhi jogar como aggelus paladina de Azgher (visto que ninguém ali tinha poder de cura e eu gosto de dar porrada também). 

Como já devem ter percebido nas outras crônicas, não sou muito contida nas mesas que jogo, então decidi que ficaria na minha, não sairia tomando iniciativa para deixar o pessoal jogar sem sentir pressão.

Iniciativa é questão de sorte

A aventura foi indo, o pessoal novato foi parecendo se esquecer do objetivo principal e se embrenhando em quests menores. Nada contra fazer missões secundárias, até é legal demais para entrosar o grupo e conseguir itens, mas eu sentia que os jogadores estavam esquecendo o objetivo de cada de seus personagens e tive medo de que acabassem “esfriando”, então decidi agir. 

Mas só um pouquinho.

O mestre disse que teria um torneio realizado pelo LePurse para limpar a sua imagem diante dos outros nobres da região, e ele nos deu duas opções:

1 – Treinar e ganhar itens

2 – Ir direto para o torneio

Eu, ansiosa que sou e vendo o povo querendo treinar, puxei todo mundo para o torneio. No caminho fui pensando em como poderia criar uma situação de conflito que não matasse todo mundo. Decidimos ir disfarçados e participar do torneio enquanto obtinha informações internas.

Então o pior aconteceu: um dos jogadores tirou um dado baixo e foi barrado pelos guardas.

O outro jogador não sabia o que fazer para salvá-lo e eu tive que agir. Sem pensar, claro.

Menti para salvar o companheiro.

Perdi meus PM.

Conseguimos nos inscrever no torneio e percebi que, mais uma vez, o pessoal estava esquecendo do objetivo principal da campanha e focando em ganhar o torneio.

Nesse ponto eu já tinha desistido de ficar apenas observando.

Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço

Então eu fiz o que todo maluco que joga RPG faria (faria sim!): Meti o louco, tirei o disfarce e apontei o dedo para o Jaire no meio de uma justa.

“Seu facista de merda!” não falei isso, mas foi quase “A gente vai te derrubar”.

Usei a exposição que Jaire achou que o protegeria para atacá-lo. Meus companheiros ficaram pálidos (na mesa e no torneio). O mestre arregalou os olhos.

E joguei tudo para o alto.

Meus companheiros queriam fugir, eu disse para eles ficarem onde estavam, no meio do povo, porque o Jaire não nos atacaria na frente de todo mundo. Comecei a falar com todos os NPCs presentes (a maioria cavaleiros devotos de Khalmyr kkkkk) e fui fazendo teste de diplomacia para angariar um exército. (Um trabalhão para o mestre hahahaha).

Jaire, o tirano que tínhamos que derrotar, conseguiu se sair bem na diplomacia e teve a oportunidade de nos atacar nas sombras. 

Então temos uma batalha com:

  • A paladina sem PM e com uma arma que dá 1D6 de dano;
  • Um caçador bêbado e quase sem flechas (porque ficou tentando ganhar o torneio de arco e flechas, perdeu e foi afogar as mágoas);
  • Um ladino que só queria invadir e roubar a casa do LePurse;
  • Um mago recém ressuscitado.

Eu queria contar o que acontece depois, mas ainda está acontecendo.

Podemos todos morrer no próximo encontro? Sim. Me arrependo? Um pouco, nem deixei os bichinhos pegarem umas poções de cura kkkkrying. Mas adorei já botar todo mundo no olho do furacão até mesmo o mestre . É o meu jeitinho.

Fique ligado com o desfecho dessa campanha nas próximas Crônicas.

***

Mas fala ai: Já jogou com um grupo iniciante? Como foi?

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Se não pode com a Tormenta…

Quem é (quase) vivo sempre aparece! Após combater a tormenta de cada dia, estou aqui para trazer mais uma crônica que aconteceu comigo em uma mesa de Tormenta.

Apresento essa sessão como “O dia em que fui corrompida pela Tormenta, joguei fora todo o desenvolvimento de 19 níveis e me juntei ao inimigo”. 

Vamos do início.

Tudo começou lá no nível 1… brincadeira. Entrei no grupo já no nível 13 e fomos até o 20. Minha personagem, a Ally, era uma medusa caçadora, origem de batedora, super bem humorada, inocente e, muito diferente do que acontecia na Arena de Valkaria, eu tirava muito acerto crítico.

É sério! Juro por Nimb!

Diante do background que criei a Tormenta era minha maior inimiga. Tudo o que fosse relacionado à ela me enchia de fúria e eu tomava iniciativa sem planejar ou seguir o plano dos companheiros.

Ok, estávamos finalmente no nivel 19. Eu nuuuunca havia chegado tão longe com uma personagem e estava empolgada. Com todas as informações obtidas até ali sabíamos que encontraríamos um exército de lefeus, então montamos o nosso próprio. 

Coitados dos aldeões e aventureiros que aceitaram a empreitada. Todos morreram.

(kkkkkcrying)

A imagem da Tormenta.

Feche os olhos (mentira, senão você não consegue ler) e imagine comigo:

Um deserto com dunas. Pequenos montes aqui e ali por toda uma vastidão de nada. Em alguns cantos vê-se montes de algo ainda indescritível, e animais que se arrastam acostumados com aquele ambiente. 

Agora transforme o deserto num vermelho puro; as dunas em montes vivos que pulsam como grandes corações, cheio de veias grossas e tenebrosas que correm por baixo dos seus pés levando sangue malcheiroso para alimentar aquilo que era indescritível; Vendo mais de perto percebe que o amontoada irrigada de sangue podre são partes humanoides fundidas e — quase — vivas. 

E os animais rasteiros? Lefeu. Lefeu em todo lugar. Tudo era lefeu.

A visão era aterradora, mas impressionante. 

A trilha sonora, a narração do mestre, o silêncio na mesa.

Eles tinham que seguir até um castelo para destruírem o que estivesse alimentando todo aquele horror. Com a morte dos NPCs que nos ajudavam, o grupo quis recuar, mas a Ally não.

Eu sentia que um mal maior que aquilo nos aguardava, mas recuar só daria mais tempo para corromper ainda mais aquele mundo. Já que havíamos chegado até ali, recuar não era mais uma opção.

Sozinha, corri enfrentando as garras que surgiam do chão para agarrá-la, decepava partes podres de lefeus e se sujava com o sangue putrefato.

“Eles não nos deram uma chance. Eu não darei a eles.”

O grupo me seguiu e conseguimos, através de magia, alcançar o castelo. Já estávamos cientes que a batalha seria dura, mas acabamos encontrando o que mais temíamos.

Com uma passagem que levava até outro lugar viram a grandeza de um deus poderoso com nossos próprios olhos.

Aharadak estava ali — imagine aqui a nossa cara quando o mestre narrou isso — e assim Ally foi corrompida. 

(Sim, me ferrei nos testes de vontade).

Toda a jovialidade, alegria e espontaneidade foram trocados por tentáculos que saiam de pescoço e retorciam suas feições, e uma cólera que tomou todo o seu coração.

E então o nível 20.

Lembro da reação do mestre quando o informei sobre o que eu queria. Ele ficou surpreso, mas conseguimos fazer algo que mudaria tudo.

Ally, já toda ferrada se transformando em lefeu, fez o que nenhum dos seus companheiros imaginou: Ela se agachou e aceitou o poder de Aharadak, virou sua devota.

Ela não lutaria contra a sua própria transformação, não brandiria sua besta com palavras obscenas contra o deus, mas respeitaria sua grandeza e o seu poder.

Aceitando o seu fim e vendo como única forma de manter seus companheiros vivos, Ally se sacrificou. Sendo literalmente engolida por Aharadak, ela deu uma chance para que seu grupo conseguisse derrotá-lo.

Era para o final ser engraçadinho, mas foi me batendo uma bad enquanto escrevia e me lembrando da Ally (kkkcrying mais uma vez). E nisso eu fecho essa crônica refletindo sobre a intensidade do que vivemos, como sentimos emoções reais em um mundo de faz-de-conta.

Quer me contar algum causo de RPG? Me envie por DM no Instagram ou Twitter.

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Arte por Ricardo Mango

CPI das fichas: O dia em que o guerreiro caiu

guerreiro

Quem assiste a Arena de Valkaria já deve ter visto/ouvido sobre CPI de ficha. Basicamente, é uma correção para ver se está tudo certinho, tudo bem calculado e afins. Longe de mim querer ganhar vantagem no RPG, mas essa crônica fala exatamente sobre isso.

Essa aqui foi enviada por um amigo querido e sofro toda vez que escuto. 

Sofro para não rir.

Prontos para mais uma crônica de RPG?

Era uma vez…

Grupo jogando junto há um tempo, nível 15. Todos bem equipados, fortes, harmonizados marcialmente (importante), mas o protagonista dessa história, um guerreiro humano, tinha um segredo: Ele não sabia matemática.

Bom, essa é a desculpa, mas todos sabemos qual a real.

A lenda viva

O cara era o orgulho do grupo, o terror do mestre, o matador de Tarrasque… Esse ainda não tinha matado, mas a fama veio na campanha.

O grupo todo sabia que não teria TPK nos encontros, era só deixar o guerreiro se preparar que a pancada seria forte. 

Glórias, glórias e mais glórias. 

Mas havia uma pessoa no grupo que estava encucado com todo aquele poder.

CPI das fichas

Era sexta a noite, o esperto jogador chegou todo pimpão na casa que iriam virar a noite jogando. Porém, seu sorriso foi se esvaindo quando encontrou o mestre com as fichas na mão e o pessoal justificando cada ponto.

Um suor frio desceu por sua têmpora, seus joelhos tremeram e a certeza da derrota o acertou pela primeira vez.

“Deixa eu ver a sua ficha, fulano. Para colocar uns monstros mais ameaçadores.”

O sorriso do mestre foi a sua ruína total.

Ele até tentou dar uma ajustada antes, mas quando se insiste na mentira ela pode acabar virando verdade. Ou acaba esquecendo os valores certos e acaba se perdendo na farsa.

O negócio é que ele tinha subido demais a sua defesa, o seu bônus de ataque, margem de ameaça, multiplicador de crítico… Usava poderes que nem tinha direito! 

Foi um caos.

A revolta do mestre

A justificativa dada foi: Não sabia calcular direito. Não entendia as regras. Esqueceu de colocar as penalidades…

O mestre ficou P da vida. Levou cerca de duas horas corrigindo a ficha e mais uma só de zoação antes de começarem a jogar.

O guerreiro quase chorou com os valores corretos na ficha. Não sabia nem como iria jogar sem os poderes que ele estava acostumado. 

Os amigos, depois que pararam de rir, ficaram preocupados.

O mestre continuou com o planejado, para medir o grupo.

E preciso dizer que o TPK veio?

 

No fim ele disse que acabou se divertindo e o mestre não levou para o pessoal. O grupo foi se adequando e as aventuras ficaram mais emocionantes, sem a certeza de que acabariam vivos no final. 

Conselho do jogador: Se tem uma coisa que todos gostamos é dessa emoção no RPG, então não estrague isso sendo um “espertão”. 

Conselho do Della: LEIA O LIVRO!

 

Tem uma história no RPG que você queira que eu conte aqui? Pode me enviar pelo Twitter ou Instagram! Aproveita e já me segue 😉

Outras crônicas de RPG aqui.

A Arena de Valkaria é toda quarta às 20h00, lá no canal da Twitch da Jambô.

Lica Metal, a caçadora de aço

Vida.

Uma palavra frágil demais para algo tão importante. Prefiro “existência”.

A minha começou num sopro, assim como a vida se vai. 

Uma peça de carruagem velha, um moinho desativado há anos, uma ferradura, pedaços de uma construção desmoronada. Foi daí que vim.

Construída a marteladas, desmonte, remonte, fogo, derrete, endurece, furada, encaixada. 

― Que nome dará, senhor?

― Achei engraçado o barulho que faz as suas engrenagens. Parece dizer: Liiiic.

― Lica?

― Será Lica. Doce, curto e inocente. Dê-lhe uma besta, virotes e espírito de caça.

Não ouvi esse diálogo, contara-me. Ainda não havia existência.

O sábio misterioso, como disseram-me, soprou em meu rosto. Não senti nada, não sentiria de qualquer forma.

― Como é despertar, Lica? ― Foi a primeira pergunta que me fizeram. Mas não a primeira palavra a me darem. Antes ouvi ordens, insultos e admiração.

― Não há experiência suficiente para te responder esta pergunta. 

Para ser aquilo que fui criada

Vestira-me como humano para ser confundida e atacada primeiro. Os invasores nunca tiveram essa chance.

Eu não durmo. Não me canso. Nunca. 

Passava dia e noite andando pelo perímetro com minha besta em mãos. 

Criaram-me para ser certeira. Atirar primeiro, atirar para matar.

― Em qualquer circunstância, ouviu bem? Caçar é o seu dever.

Caçar era o meu dever. 

Sentimentos são complexos para um coração de metal

Eu cumpri o meu dever.

Joselin, uma criada que não corria ao me ver, disse-me que o senhor estava com medo.

Medo. Guardei aquela palavra.

― Tente não ser tão…

― Não compreendo.

― Fria.

― Sou de metal.

Ela riu.

Vinte virotes atirados. Vinte alvos abatidos. 

Então eu descobri o que era medo. Com o dedo trêmulo, o senhor apontou a saída.

― Besta! Monstro!

Não entendi quem eram aqueles, mas segui as ordens e sai.

Caçar é preciso. Viver não é preciso.

Caminhei sem saber para onde estava indo, apenas segui na direção que ele apontou. No caminho as pessoas queriam me dar tibares em troca de caça. Ganhei muito.

― Sabe onde você pode ganhar muito mais? Conhece Valkaria?

E segui o caminho que o halfling me orientou.

Um grande coliseu e seus dizeres “Arena de Valkaria” foi onde parei. Ajeitei meu chapéu e caminhei até o barbudo que segurava um pergaminho.

― Conhece o sistema?

Ele perguntou com uma sobrancelha arqueada.

― Vale tudo?

Ele sorriu. Assentiu com a cabeça e começou a anotar com uma pena.

― Nome?

― Lica.

― Só Lica?

― Só Lica.

― Preciso de mais. De essência, sabe?

Pensei. Tentei. Olhei para meu corpo e encontrei a essência ali.

― Metal.

― Lica Metal? ― Ele riu. ― Sei a parceira ideal para você. Talvez ela não te mate. Entre por ali e procure por Werna. Sua luta começa em 15 minutos. Boa sorte.

 

Sorte não é preciso. Apenas um alvo e um objetivo.

 

Lica Metal - Ricardo Mango

***

Lica Metal é minha personagem na Arena de Valkaria. Lutas em duplas no maior evento de gladiadores que Arton já viu! Acontece toda terça, às 20h, na Twitch da Jambô Editora. Perdeu as primeiras lutas? Não se aflija e assista lá no canal do YouTube!

Minha primeira personagem: Donzela indefesa? Aqui não!

Olá, aventureiro! Pronto para conhecer mais uma personagem minha?

Espero que esteja jogando muito RPG e criando histórias fantásticas nestes tempos sombrios. Se você está precisando de um incentivo ou inspiração para se aventurar, aconselho que leia alguns artigos aqui do blog sobre o assunto. Tem muita informação legal que pode enriquecer demais seus conhecimentos RPGísticos!

Pensando sobre a contribuição positiva que o RPG está dando na minha vida nesta pandemia, voltei às origens e lembrei da primeira vez que joguei.

Aula de Artes para quê? Para fazer arte!

Tinha 16 anos, era aula de Artes e eu não estava muito interessada (Não façam isso, crianças. Prestem atenção nas aulas!). Vi dois colegas jogando num cantinho e fui de intrometida perguntar “O que estão fazendo?”

Em minutos eu já tinha uma ficha pronta: filha do deus Apolo, semideusa e arqueira. O sistema era bem simples, mas a história era super complexa e cheia de inimigos poderosos.

 Lembro que meu poder vinha do sol (obviamente) e fui aprendendo a usar isso a meu favor nas campanhas. Então, ao entender a lógica do jogo fui crescendo, crescendo, upando e me divertindo.

Cada vez que nos reuníamos eu queria tentar algo diferente. Abusar da criatividade para criar cenas cada vez mais épicas e sentir aquela sensação de estar sendo uma heroína.

Até que entrou um NPC que seria recorrente.

Algo de errado não está certo…

De alguma forma, a minha personagem caia em situações cada vez mais impossíveis de sair. Sem sol para lhe dar poder ou contra um inimigo que apenas aquele NPC tinha poder para lutar contra.

Minha personagem se tornou a donzela indefesa.

Esse NPC tinha um background que o empurrava para ser par romântico da minha personagem. Estava sempre por perto, cantando e tentando ser lisonjeiro. Uma vez que deixei a narrativa seguir assim e nunca mais consegui me livrar.

Toda vez a minha personagem chegava perto da morte e eu já esperava o belo e poderoso herói vir me salvar. O mestre parecia se divertir mais jogando com esse NPC do que mestrando em si. Mas só ele estava se divertindo.

A situação estava chata. Eu não queria mais jogar, mas tinha medo de acabar atrapalhando a mesa ou algo similar. Não queria ser um estorvo e isso continuou por tempos.

Mas você acha que eu nunca reclamei? Que ficava passiva diante disso? De forma alguma! Mais de uma vez tentei explicar que estava chato ficar esperando o herói ir me salvar, mas de nada adiantava. Nas campanhas, eu apoiava o queixo na mão e dizia já cansada: “Não se preocupem, o fulano já tá chega para salvar todo mundo.” 

Porém, um dia, a minha personagem rompeu com esse fulano sem motivo algum. “Um absurdo”, dizia o mestre, “ele era tão foda!” 

Me revoltei mesmo. 

Donzela Indefesa? Essa personagem não me cabe

Fiz o que eu queria. Ignorava o que o NPC tentava me falar, mas ele continuava atrás de mim. Até que tive uma DR dentro do jogo, gritando para que ele me deixasse em paz. Que deixasse eu trilhar o meu caminho sozinha. 

Contudo, os dados me ajudaram muito (quando o mestre não estava muito a fim). 

Lembro bem dessa cena. Estava presa num calabouço escuro, tinha apenas mais uma flecha e todas as respostas para as perguntas “bobas” que fiz. 

“Tá chovendo? Nublado?”

“Esse calabouço é feito do que? Todo ele? A flecha que tenho atravessa?”

Perguntei se tirasse um crítico eu poderia quebrar uma parede com o tiro. O mestre disse que sim.

Tirei um acerto crítico, mas invés da parede, mirei no teto (que era do mesmo material) e arrebentei. Então narrei que o sol entrou, já que o dia não estava nublado, e pude usar o poder de semideusa filha de Apolo (ponto que estava esquecido depois de tudo). 

Finalizei o Final Boss com um brilho solar que batia contra o poder das trevas dele. Não tinha como tirar essa glória de mim, da minha personagem.

Nunca mais joguei com esse mestre. Não foi divertido.

Desculpem pela falta de comédia dessa vez, mas é que às vezes não tem graça mesmo.

Ally e as 6 cabeças: Como uma caçadora quase matou o grupo todo lutando contra uma hidra

medusa caçadora

Era uma vez uma jogadora que estava cansada de sair de sua zona de conforto e lutar corpo a corpo com espadas e adagas. Ela queria sentir a sensação imaginária da corda de seu arco, a musculatura intangível tremendo ao puxá-la após posicionar uma flecha, a brisa irreal que triunfa com o tiro certeiro. A pose da caçadora.

A antiga caçadora volta às origens

A caçadora em questão era eu (surpresa). Acostumada a jogar com um arco longo e ter os animais como aliados, tinha deixado de lado aquela ideia de tentar jogar com outras classes e voltei às raízes de arqueira.

Com o T20 e decidi que não usaria mais as raças que comumente escolhia (humano, elfo) e criei a minha caçadora. Maravilhosa com cobras albinas na cabeça, origem de batedora numa guilda de caçadores. Eu tinha pouca inteligência, mas uma pontaria que olha…

Caçadores apelões e ficha apelona

Fui convidada para uma mesa em que o pessoal já estava no nível 13. Vou te falar que nunca cheguei nem perto disso, sempre morria antes ou acabava a campanha. Fui bonecar com uma felicidade.

Lendo todas as raças, decidi pela medusa: imponente, mística, arrebatadora. Já tinha a personagem perfeita na minha cabeça, mas precisava rolar os dados para distribuir nos atributos e vocês sabem como Nimb adora tirar uma com a nossa sorte.

Tirei um 18. O resto… Pelo menos eu tinha boa Destreza.

Peguei umas habilidades de classe incríveis: Ambidestria para atirar com as duas mãos, saque rápido para não gastar ação de movimento, disparo rápido para poder atacar duas vezes na mesma rodada… Ainda podia contar com os companheiros de equipe que aumentavam pontos de ataque e dano.

Burrinha e tudo, mas com um coração gigante, minha medusa Ally apareceu mostrando para que veio. Sua primeira grande batalha então foi contra uma hidra. E vocês sabem como se mata uma, né?

Corta uma e nascem duas

Já adianto que terminei a sessão quase morta e matando um de meus companheiros.

Meus tiros eram fatais. Meus dados não eram barrados por defesa alguma. Eu era um monstro naquela mesa. Acertei tooodos os ataques, cortando cabeças a rodo com uma única flecha.

Eu sabia que tinha que queimar o pescoço da criatura depois de cortada a cabeça. Eu juro que sabia. Tanto que usei uma de minhas bombas para cauterizar os dois pescoços decaptados na primeira rodada.

Até acabarem as bombas…

Tinha ainda um inventor no grupo e deixamos ele encarregado de cauterizar os pescoços que íamos cortando, estava tudo dando certo até que eu não percebi em que terreno estávamos.

Com dois críticos SENSACIONAIS – devo ressaltar – cortei as 3 últimas cabeças e o monstrão caiu no lago…

Lago…

Todos estavam felizes! Quase dancei com a minha quase vitória. Só faltava cauterizar e não tinha como errar com a hidra ali desacordada.

Mas fogo não pega em água. Não se você não tirar um acerto crítico.

Nasceram SEIS CABEÇAS. SEEEEEEEEEIS. Ao invés de ter apenas cortado duas e deixado cauterizar para depois cortar a última e dar um FATALITY, tive que me aparecer com minhas habilidades incríveis de caçadora.

Nesse meio tempo fomos atacados, quase morri. O amigo clérigo me curou e ficou sem mana, não conseguiu se defender dos ataques da hidra e morreu.

Restou ao inventor fazer alguma coisa — uma ação que podia ter dado muuuuito errado — e derrotou a hidra.

Queria dar um final digno dizendo que voltamos vitoriosos, mas vou saber só no próximo encontro. Talvez eu volte para contar o desfecho da aventura.

 

Armas apelonas e lembranças de um funk antigo

halfling ladino

Primeiramente me digam: Vocês já ouviram sobre a lenda do mestre bondoso? Aquele mestre que é tão gente boa que você apenas espera que um monstro ND 100000 aparece a qualquer momento de tão perfeito que está indo tudo?

Pois bem, eu tive um mestre assim.

As maravilhas do mestre bondoso

Ele dava armas muito legais para a gente, narrava nossas vitórias e derrotas de forma empolgante, criou mapas incríveis e incentivava o role play.
O grupo também não ficava para trás. Tínhamos um paladino humano super honrado e que era o equilíbrio no grupo, dois bárbaros (um humano e uma anã, eu no caso) com o coração enorme que só pensavam em dar cabeçada e beber uns alcoóis, e um halfling ladino que… Bom, vou chegar nele. Todo esse contexto é para entender porque o mestre deu uma arma que faria o maior plot twist que já vi.

A história era macabra se parar para pensar nela, mas o grupo deixava muitas situações bem humoradas, tudo de acordo com a personalidade e alinhamento. Nisso, o halfling ladino se destacava com estratégias que o mantinham longe da batalha, mas muito ativo indiretamente. Os bárbaros entravam em fúria quando recebiam um dano e saíam atacando tudo e todos, mas sem sair do role play conseguíamos não tirar — muito — dano dos aliados. O pequenino, se aproveitando disso, ficava invisível (com uma magia) e… bom… dava tapas no bárbaro… bom… Vou tentar ilustrar a cena.

O golpe surpresa e a fúria do bárbaro

O bárbaro, usando apenas uma tanga de peles feita por ele mesmo, estava segurando sua espada com as duas mãos e bufando de cansaço e raiva. Nenhum ataque ao inimigo foi efetivo, sua lâmina não parecia afiada o suficiente. Ou seria a sua força heróica esvaindo-se com a insegurança da batalha? Em breve o paladino morreria e a pobre anã seria pisoteada após um crítico erro no golpe que a levou ao chão. Tudo estava perdido.

Então, não mais que de repente, a nádega esquerda do bárbaro (imaginem isso em câmera lenta) tem uma pequena mão sendo moldada. Dedo a dedo. Palma inteira. Uma mão invisível desenhada no monte de gordura e músculos acumulados nos anos de treinamento. Um dor mínima, mas que foi mais eficiente que os golpes dados pelo inimigo a sua frente, foi o suficiente para despertar a fúria que abastecia o seu poder oculto.

Sim, o halfling ladino, sem querer, tirou dano do bárbaro com um tapinha no bumbum e ativou o modo berserk do grandalhão. Não sobrou inimigo para contar história depois dessa. A anã entrou em fúria num certo momento e os dois começaram a bater cabeça — literalmente — num combate ridículo. Mas não é a audácia desavergonhada do halfling que trouxe o maior plot twist da história. Não, não.

O lendário mestre bondoso nos deu algumas armas muito poderosas, o meu machado tinha umas sombras que ajudavam no dano e davam uma descrição incrível nas narrativas dos combates. O halfling ladino ganhou uma adaga decapitadora que só conseguiria decapitar com um crítico de 20. O jogador não era muito sortudo para isso e acreditamos que jamais conseguiria decapitar algo/alguém.

Risos.

O grande plottwist

Já sabem que ele conseguiu, né? Mas não foi com qualquer um e nem em qualquer batalha. Era a última luta, aquela épica, onde a gente tem que beber todas as poções de cura possíveis antes de tirar metade da vida do cara. Daquelas lutas que você tem certeza que vai ter que fazer uma ficha nova porque já era, sabe? Uma luta que o mestre esperava que duraria pelo menos meia hora de sessão para finalizar.

Acabou em 3 ataques.

O bárbaro atacou e foi um dano legal, mas baixo. A bárbara atacou e foi satisfatório, mas nada de mais. Aí o pequenino, sempre nas sombras, cutucando todo mundo com a sua invisibilidade, atiçando ações de bravura e loucura com sua linguinha afiada, tirou um crítico que deixou todo mundo mudo.

Um golpe e matou o chefão.

O mestre não tentou salvar seu NPC, não tentou usar sua vantagem para continuar a batalha. Havia sido épico e ele abraçou a cena e narrou o final com tanta empolgação e emoção que ficou guardado para sempre na minha mente.

O halfling ladino matou o boss e aquilo foi incrível!

Ok, legal a história. Mas o que tem a ver um funk antigo com isso? É uma piada ruim, mas eu só pensava nessa música como trilha sonora para a participação do ladino na campanha.

“Dói, um tapinha não dói…”

Tá, parei.

Disclaimer: Nenhum “tanker” se sentiu ofendido por não ter dado o golpe final no chefão.

“Background misterioso”: A preguiça do jogador e a vingança do mestre

background em rpg

A história que vou contar hoje vem com uma lição de moral que TODO jogador de RPG deveria levar para a vida: a importância de criar um background para o seu personagem.

Cadê o backgroud que devia estar aqui?

Eu mesma era muito preguiçosa para criar uma história antes da aventura, um porquê o meu personagem estar ali, suas motivações, passado trágico, medos, amores… Tenho amigos que faziam um verdadeiro conto épico com datas, nomes e árvore genealógica. Um orgulho!

No entanto, tive um amigo que não se preocupava muito com isso e acabou criando o background mais preguiçoso e clichê de todos. Nem preciso resumir, ele era um mago que não se lembrava do seu passado, não tinha pais e havia sido criado por um homem que virou seu mestre. Fim.

O mestre (um daqueles amigos que desenvolve uma história fantástica a cada personagem que joga), sádico como é conhecido, até deu a chance dele criar algo a mais para incrementar o personagem, mas o inocente disse que já estava bom.

Foi com o sorriso do mestre seguido de “Você que sabe” que me fez perceber que o coitado do mago (preguiçoso, mas coitado) seria o alvo da vez.
Vocês já se ferraram muito no RPG? Tipo, tudo de ruim que poderia acontecer, acontecia logo com o seu personagem? Mas não pergunto isso sobre um dia de campanha, ou uma luta/desafio específico. O mago se ferrou a campanha inteira. INTEIRA.

“Não ter um background me dá liberdade para criar o que eu quiser.”

O mago perdeu suas magias, descobriu que seus pais faziam parte de uma organização do mal e que o abandonaram, teve um arco todo de busca ao seu mestre que estava preso numa gruta, em tamanho gigante, sendo comido vivo por vermes e morrendo na frente do nosso amigo ferrado depois de um triste discurso. Esse último foi traumatizante (rindo de nervoso aqui).

Eu morria de dó, claro, mas me divertia a cada expressão de tristeza do mago quando o mestre começava a rir malignamente na rolagem de dados. Teve uma vez que ri muito porque (não lembro o porquê) ele ficou careca, como um cosplay chateadíssimo do Ripp (Ledd). Mas a gozação deu lugar à caridade, e minha paladina de Thyatis (sim, a zumbi) doou parte do seu cabelo para que o companheiro de aventura usasse como peruca.
Ficou ridículo, pelo menos na minha imaginação.

Lição dada, lição aprendida

Apesar dos pesares, o mago fez uma campanha muito boa! Conseguiu se reinventar, criou formas de usar sua magia limitada em situações de perigo e salvou nossas vidas. Por fim, a sua jornada foi a mais épica e acabou sendo o ponto principal da nossa campanha em certo ponto. Mesmo que ele não tivesse se esforçado tanto e preferisse ser apenas um personagem sem grandes histórias que queria se aventurar,. Daria um ótimo livro.

Não joguei novamente com esse amigo depois, mas fiquei sabendo que ele mudou muito e que hoje cria histórias mais consistentes e bem amarradinhas, movido pelo medo de ser torturado novamente.

Não há problema algum em ter um personagem misterioso e com um passado que precise ser um segredo, isso também é background. Meu conselho é que conte pelo menos ao mestre a sua história e deixe que ele te ajude a manter o enredo e enriquecer ainda mais o seu personagem.

Não seja preguiçoso e boa campanha!