A Jornada da Mestra – Chefão de fase: o metajogo
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Não apenas os jogadores enfrentam chefões, mas nós, meros mestres mortais, às vezes também precisamos batalhar. Um desses inimigos é o temido fantasma do metajogo, tópico muito popular de bate-boca no twitter.
Mas o que diabos é isso? Basicamente, metajogo é uma abordagem que abrange qualquer ação realizada por um jogador em função de saber que se trata de um jogo. Isso inclui utilizar do seu próprio conhecimento sobre a lógica do jogo para tomar uma decisão.
Um exemplo clássico é aquele jogador que decora as fichas de todos os monstros do sistema para usá-las a seu favor num combate.
Essa thread do Thiago Rosa explica bem o que pode ser o metajogo e levanta uma boa discussão sobre a vilania geralmente aplicada a ele.
Aqui vão meus cinco tibares sobre o assunto. Vem comigo!
O metajogo, o grande malvadão
Antes, como mestre, eu não me importava tanto com o metajogo. Caso eu percebesse algum dos jogadores fazendo, eu sinalizava, desencorajava e seguíamos com a narração. Entretanto, quando iniciei minhas aventuras como jogadora eu passei a detestar essa abordagem. Eu tinha algumas frases como: “proibido metajogo na frente das crianças” ou “metajogo está sujeito a paulada”.
Contudo, conforme eu jogava, me aprofundando nas jogatinas e refletindo sobre, eu compreendi o motivo de tanta raiva no meu coraçãozinho.
Percebi que eu me importava mais com o metajogo como jogadora por causa do fenômeno antijogo que ele pode causar. Joguei por um bom tempo com pessoas que abusavam disso. Por exemplo, alguns pegavam informações dadas apenas a um personagem para serem usadas a seu favor. Ou mesmo informações conversadas antes e depois das sessões sem consentimento dos outros jogadores.
Tudo isso para tirar proveito de uma situação e torná-la mais favorável ao seu personagem sem pensar no restante do grupo por puro ego.
O famoso jogador estrelinha.
Abusar do metajogo dessa forma deixa o clima xexelento. Ninguém gosta de alguém manipulando tudo em benefício próprio o tempo inteiro quando todos estão num jogo cooperativo. E isso vale tanto para questões da história quanto para questões mecânicas.
Um pouco de controle, um pouco de criatividade
Eu fiz as pazes com o metajogo porque sei que meus jogadores não vão abusar dele – eu também não permitiria – e hoje eu compreendo mais das suas nuances.
Não me importo com o jogador reencarnação do manual dos monstros porque se alguma coisa na ficha do inimigo for um segredo de estado eu apenas mudo. Sendo o mestre, lembre-se que seu controle sobre as coisas também serve para o bem.
Se me derem um bom argumento para uma conclusão tirada com a lógica fora do jogo: eu aceito, desde que faça sentido para o personagem e não quebre a mesa. Estimule as boas ideias, desencoraje as que forçam a barra.
Não demonize o metajogo e incentive os jogadores a acharem soluções pensando como os personagens. Pergunte como o personagem resolveria os enigmas, como ele teria acesso à certas informações que o jogador possui e etc. Estimule a criatividade e a interpretação dos jogadores para fazê-los voltar ao jogo.
Mas também fica aqui o questionamento: se os jogadores quiserem resolver algo fora do jogo, como por exemplo pausando a interpretação para construir um plano, é mesmo o fim do mundo?
Metajogo, o inevitável
Vamos combinar aqui em segredo: o metajogo vai pegar você em algum momento. Se você leu a thread do Thiago citada lá atrás você deve ter percebido.
Metajogo é aquele plano feito fora da sessão, é combinar as histórias dos personagens, é um grupo se unir desde o nível um porque sim, é entrar num local aleatório por saber que o mestre preparou algo, é ir na sessão com a camisa do fluminense porque o mestre é tricolor.
Se uma decisão do seu personagem deixar alguém desconfortável, não faz mal repensar. Isso também é metajogo. Não colocar aranhas como inimigos porque um dos jogadores tem aracnofobia também é metajogo. Lembrar o coleguinha de um item, magia ou característica de classe também é metajogo.
Uma vez eu narrei um flashback para a Personagem 1, no qual apareceu um símbolo ligado à história da Personagem 2. Essa Personagem 1 desenhou o símbolo para mostrar a uma NPC e guardou. A Personagem 2 não estava na cena e não havia como dela saber disso, mas a jogadora fez seu jogo de cintura e conseguiu ver o desenho. Ela viu a colega desenhando em seu diário e pediu para folheá-lo. Simples.
É claro que eu daria um jeito de conectar as duas personagens mais tarde, mas esse metajogo, além de inofensivo, me poupou um certo trabalho. Muitas vezes meus jogadores “pausam” a mesa para construir uma estratégia, sobretudo em batalhas difíceis, e tá tudo bem.
Relaxa e jogue
Metajogo não é um bicho-papão, mas também não é um morango. No momento que um jogador utilizar informações para quebrar o jogo, seja em história ou em mecânica, em consequência tirando a graça de jogar, aí sim temos um problema.
Não acho que punir seja uma solução razoável, mesmo com os jogadores mais disruptivos, até porque ninguém é a supernanny para colocar alguém no cantinho do castigo. Conversar é sempre uma boa ideia, mas, caso o jogador simplesmente não se importe, você tem todo o direito de expulsá-lo ou de procurar um outro grupo.
RPG é um jogo. Se você se estressa com seu hobbie, alguma coisa está errada. De chato já basta o capitalismo. A vida é muito curta para jogar com gente que você não gosta e que só quer avacalhar.
Fica aqui a sabedoria!
Bebam água, comam frutas e até a próxima!
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